1 - O Acidente

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Hoje é um dia especial. O dia em que completo não só mais um dia de vida, mas a tão esperada festa de 15 anos. Eu e minha mãe sonhamos com esse momento desde que eu era menina. Vivia dançando em frente à TV junto as princesas da Disney em seus desenhos animados. Era meu sonho em conjunto com a minha rainha. E eu estava tão feliz, mas não tive um final tão feliz como esperado.

12 horas antes...

- Parabéns para você, parabéns para você, parabéns passarinha, parabéns para você.

Acordei com meu pai, minha mãe e meu irmão mais velho entrando no quarto com um bolo incrível cheio de velas cantando.

- Faz seu pedido, filha - papai pediu risonho e assim fiz, assoprando as velas.

- Bom dia mãe, bom dia pai. Bença. Eu amei. Muito obrigada

- Bom dia, passarinha. Feliz aniversário.

- Bom dia, Cole. Obrigada.

- Você merece, meu amor. Agora se arruma que montamos uma mesa de café da manhã incrível. Seu pai fez aquele waffles que você ama.

- E eu comprei seu sorvete favorito de creme com pedaços de nozes. - Cole disse animado.

- Obrigada, vocês são demais. Vou me arrumar e já desço.

Botei As It Was do Harry Styles na JBL enquanto tomava um banho bem gelado. Em Julho é o início do verão em Louisiana. Botei um shorts e uma regata, arrumei a cama e desci para tomar café com meus pais e meu irmão.

- Até que enfim a donzela chegou. Estava quase comendo seus waffles.

- Nem ouse tocar nos meus waffles, Cole.

- Filha, depois do café, vamos direto para o salão. Nossos cabelos, maquiagens e unhas estão marcados meio dia.

- Tá bom, mãe. Estou ansiosa.

Tomamos um café bem farto e animado em família. Meus pais contaram pela trigésima vez a história como eles se conheceram. Eu e meu irmão brigamos pelo último waffle do prato, me enchi do sorvete que ele comprou e cantamos parabéns mais uma vez e oramos por aquele momento em família e pelo meu dia que foi tão sonhado. O dia estava perfeito. Quando terminamos de comer, tiramos a mesa e eu fui com a minha mãe para o salão e meu pai e meu irmão ficaram arrumando a cozinha. Chegando no salão fomos primeiro fazer nossas unhas. Depois eu fui fazer meu cabelo e minha mãe maquiagem e depois invertemos.

Deu três da tarde, estávamos prontas. Voltamos para casa para terminarmos de nos arrumarmos. Tomei outro banho rápido, coloquei minha lingerie e separei o sapato e o vestido azul marinho brilhoso que usaria mais tarde. Coloquei minhas jóias e chamei minha mãe para me ajudar no vestido. Ela me deu um suporte e logo estava pronta. Me olhei no espelho e senti uma única lágrima escorrer. Eu estava tão feliz com esse sonho.

- Você está tão linda, filha. - falou com a voz embargada.

- Obrigada, mãe.

Me virei e a abracei. Descemos as escadas e estava meu irmão e meu pai no pé dela nos esperando com seus smokings preto e gravata azul marinho. Eles automaticamente abriram um sorriso ao me ver aparecendo. Naquele momento meu coração disparou de alegria e ao mesmo tempo um nervosismo e um sentimento ruim. Mas deve ser minha cabeça tentando achar defeitos em algo. Pegamos meu outro vestido e fomos para o carro. Olhei para o relógio e marcava exatamente 19:27. Meu pai colocou meu vestido na mala e entrou em seguida colocando Bon Jovi bem alto para tocar durante o caminho do salão; colocamos o cinto e saímos. Íamos cantando num uníssono e batucando conforme a música.

Pegando a estrada reta à direção do salão o carro deslizava pela pista escura, iluminada apenas pelos faróis e pela lua cheia. No banco de trás, eu conversava animadamente com o Cole, enquanto meus pais, no banco da frente, acompanhavam a conversa com sorrisos cúmplices.

De repente, um clarão ofuscante rasgou a escuridão vindo em nossa direção oposta. Um estrondo ensurdecedor. O carro foi atingido em cheio por outro veículo, que trafegava em alta velocidade. O impacto foi brutal, lançando meus pais para fora da estrada acertando as árvores que beiravam a pista. Quando a poeira baixou, um cenário de horror se desenhava. O carro estava completamente destruído, como um pedaço de metal retorcido. Meus pais, que ocupavam o banco da frente, não resistiram à colisão e perderam suas vidas instantaneamente. Eu e meu irmão, por um golpe de sorte, sofremos apenas ferimentos leves. Eu com um corte na testa e alguns arranhões, estava em estado de choque. Cole, com um braço quebrado e algumas escoriações, também se encontrava em estado de choque, mas consciente.

Ao redor do acidente, um aglomerado de carros se formava e famílias saíam para assistir aos feridos e acionar as autoridades. Ambulâncias e viaturas da polícia chegaram rapidamente ao local, levando eu, meu irmão e os feridos para o hospital mais próximo.

Naquela noite, minha festa de 15 anos se transformou em um pesadelo. A alegria deu lugar à dor e à tristeza. Minha família, que horas antes estava radiante e unida, agora se encontrava fragilizada e marcada para sempre pela tragédia.

Os dias que se seguiram foram de luto e recuperação. Eu e Cole ficamos com o Sr. Archibald e sua família, amigos dos meus pais de infância, para lidar com a perda dos nossos pais e com o trauma do acidente. Eu, que agora carregava o peso da culpa por ter sobrevivido enquanto meus pais perderam suas vidas, precisava lidar com a dor da perda e com o sentimento de gratidão por estar viva.

Com o tempo, as feridas físicas foram se curando. As cicatrizes emocionais, no entanto, permaneceram. Nossa família, que antes era um exemplo de união e felicidade, agora precisava se reconstruir, aprendendo a viver com a ausência do papai e da mamãe e com a lembrança do acidente que marcou nossas vidas para sempre, principalmente meu aniversário, que nunca mais será o mesmo.

*****

Uma semana depois do enterro, continuamos na casa dos Archibald. Eles têm sido bem acolhedores. Foram longos dias recebendo mensagens de pêsames e recebendo comidas e doces. Não sabia mais onde enfiar tanta comida.

Meu irmão ficou em um quarto de hóspedes e eu em outro. Como estávamos de férias da escola, não tínhamos muito o que fazer. Era uma longa jornada a partir de agora. Estava na hora de cair na realidade e pensar no próximo passo. Onde moraríamos? Como pagaríamos as coisas? E a escola? Será que eles pensaram, mesmo não planejando morrer tão cedo, sobre a divisória de bens? São tantos pensamentos que nem sei por onde começar. Um sentimento de vazio e incapacidade são os únicos que ocupam meu coração e mente agora. Éramos menores, bom... pelo menos eu. Cole faria 18 em Agosto, e terminaria a escola esse ano.

- Crianças - sra. Archibald nos chamava do andar de baixo - venham aqui em baixo, por favor. Gostaríamos de conversar.

Encontrei Cole no hall de cima. Seu semblante era de uma tristeza maquiada de acolhimento no sorriso torto. Seu braço ainda engessado pendurado em volta de seu pescoço, me fazia ter flashes da cena de cantoria num minuto e sangue no outro. Engoli seco e retribuí seu sorriso forçado. Descemos as escadas e nos juntamos à família Archibald na sala.

- Lisa, Cole... - Anne Archibald nos entreolhou e sorriu - gostaríamos de comunicá-los que pela amizade que tínhamos com seus pais, eles confiavam em nós para qualquer coisa, assim como nós a eles. Então eles deixaram esse testamento para vocês, guardado no cofre da família. - ela nos entregou as folhas.

- O QUE? - sem perceber minha voz saiu mais alta do que eu gostaria, mas eu não aceitaria isso. - Não vou morar com vocês.

- Lis? - Cole me chamou enquanto eu ia correndo de volta para o quarto, ou melhor, meu futuro quarto.

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