Capítulo 001 - A Stalker

37 0 0
                                    

O maldito alarme do meu celular toca, informando que já são seis da manhã e que, para meu azar, as férias literalmente acabaram. Deslizo minha mão esquerda para fora do lençol listrado azul e branco e desligo o despertador. Uns dez segundos depois, minha mãe escancara a porta do meu quarto para garantir que eu estou acordado.

— Acorda para cuspir! Nem acredito que é seu primeiro dia no ensino médio! — diz ela empolgada, abrindo a cortina.

— Bom dia... — digo bocejando, ainda no "modo zumbi".

Meus olhos castanhos ardem quando a luz do sol entra em meu quarto. Levanto-me, vou até o meu guarda-roupa e pego aquela camisa de uniforme azul-clara horrorosa e me visto. Desço as escadas de madeira, levantando um pouco de poeira, e chego à cozinha. Minha mãe já está passando o café, meu pai está sentado à mesa vendo as notícias no seu celular. Assento-me, pego o pão francês, corto e me preparo para passar a manteiga, quando um terremoto anuncia que Tom e Tomás estão chegando, meus irmãos mais novos, apelidados carinhosamente de "Fogo e Gasolina" pelos meus tios e primos. Eles são gêmeos e estão sempre se metendo em confusão; os longos cabelos deles ficam cobrindo os olhos, e a cada dez segundos eles balançam a cabeça para enxergar melhor, o que não adianta muito, já que na maior parte do tempo seus cabelos estão besuntados de suor.

— Mãe, tô com fome! — dizem em uníssono.

— Agora contem uma novidade... — reviro os olhos.

Tom vem correndo para o meu lado, arranca o pão da minha mão e come.

— Ei! Seu idiota! — explodo, batendo a mão na mesa.

— Vamos parar com isso? — diz meu pai em tom severo, sem tirar os olhos do celular.

— Mas pai, ele roubou meu pão! — protesto.

— E só tem um pão na casa? Pega outro, ué! — meu pai fala, indo em direção ao fogão para pegar o café com a minha mãe.

— Cadê a Luana? — minha mãe pergunta.

— Ela só vai para a faculdade de tarde, Sônia! —, meu pai avisa.

— Que inveja dela... — misturo o meu Nescau com a colher.

Pego outro pão, passo a manteiga e como. Olho para o relógio preto e branco na parede da cozinha e vejo que são quinze para as sete. Depois de comer, vou ao banheiro, paro de frente para o espelho encardido e pela oitava vez aliso meus cabelos castanhos com meus dedos brancos, escovo os dentes e saio rumo à nova escola com meu fone de ouvido.

Não vou mentir, o nervosismo toma conta do meu ser. Pedro era meu único amigo na escola antiga, mas ele continuou na Escola Estadual Santos Dumont. Para falar a verdade, acho que fui o único que foi para a Escola Estadual Afonso Dutra; que é a pior escola de Juiz de Fora; tive que ir pra lá, pois meus pais se esqueceram de renovar a matrícula e perderam a vaga.

Sete e quinze em ponto, entro pelos portões enferrujados da escola, sentindo-me um peixe fora d'água. Pelo menos há um lado bom nessa história: anonimato. No pátio, há oito filas, três para o primeiro ano, três para o segundo e duas para o terceiro. A diretora da escola sobe num palco de cimento, abre uma pasta preta.

— Bom dia a todos! Sejam muito bem-vindos à Escola Estadual Afonso Dutra! Lerei a chamada agora; quando você escutar o seu nome, suba ao palco e logo em seguida serão direcionados para suas respectivas salas de aula.

A diretora vai chamando os alunos, tudo está normal até que escuto um nome conhecido. "Julieta Andrade Cardoso!"

Julieta, uma menina de cabelos ruivos presos num rabo de cavalo, sobe ao palco. Seu rosto é coberto de sardas, ela usa um par de óculos muito velho e surrado, cheio de reparos feitos com durex. Ela estudava na
minha antiga escola, mas nós nunca nos falamos.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 15 ⏰

Adiciona esta história à tua Biblioteca para receberes notificações de novos capítulos!

Espiões em ApurosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora