Hidden Games (Fernanda Bande/You)

A um passo da insanidade

Desde que chegaram ao quarto branco, as duas mulheres mantiveram uma discreta distância entre si, recusando-se a compartilhar a mesma cama. Enquanto s/n dormia serenamente, Fernanda a observava com curiosidade, refletindo sobre as últimas oito horas de silêncio no ambiente. As paredes do quarto se estreitaram brevemente, mas nada fora do normal.

O anúncio da chegada da comida quebrou o silêncio do quarto, trazendo Fernanda de volta à realidade. Enquanto s/n despertava de seu sono profundo, Fernanda se apressava até a pequena dispensa para pegar as refeições. Um sorriso se formou em seus lábios ao constatar que o café da manhã era muito melhor do que ela esperava. Um suco de laranja fresco acompanhado de um sanduíche natural era exatamente o que a Bande desejava naquele momento, enquanto s/n se divertia com a empolgação da mulher.

"Mil vezes comer isso do que a rabada da xepa" Fernanda disse animada, entregando o café pra s/n que se levantou da cama.

"Tomara que o seu almoço seja fígado de galinha e sem goiabada" s/n disse brincando com a mulher.

"É assim? Então o seu vai ser rabada assada com pé de porco ao limão siciliano" s/n gargalhou.

"Eu esqueci de falar e vai vir uma colher pra você comer. Sem garfo e faca, meu bem"

"E o seu vai tá cheio de glitter" Fernanda disse deixando a mulher confusa.

"Glitter?"

"Eu fiquei nervosa, okay?" A mulher disse se rendendo.

S/n riu da confissão de Fernanda, enquanto ambas desfrutavam de um momento descontraído, compartilhando risadas e brincadeiras enquanto saboreavam o café da manhã. Até que a tensão voltou a fazer parte do ambiente quando as paredes se apertavam novamente e as competidoras tomaram outro banho de água.

"Nós vamos acabar pegando uma pneumonia desse jeito" Fernanda resmungou ao ver sua roupa toda molhada.

"Depois a dramática sou eu" s/n disse provocando a mulher.

"Produção, cadê o botão? Eu preciso apertar o botão, não aguento ficar um segundo com a Fernanda" A mulher começou com uma imitação debochada de s/n.

"Eu sou a Fernanda e não tenho coração. Um gelo derreteria antes de mim" s/n disse imitando uma voz de robô, enquanto Fernanda se segurava para não rir.

"Atenção, s/n, você está eliminada por ser insuportável" Fernanda disse imitando o Big Boss e foi surpreendida com a voz da produção.

"Fernanda, não é você que controla o programa. Por favor, pare de imitar a produção" s/n tinha uma crise de riso, mediante a cara de poucos amigos da Fernanda.

"Eu estava brincando, produção" Fernanda gritava com o nada.

"Se você permanecer no jogo, vai perder quinhentas estalecas" s/n debochava.

"Quando eu sair daqui, a primeira coisa que eu vou fazer é votar em você"

"É uma questão mútua, Nandinha" s/n debochava do apelido da mulher.

"Vou falar assim: Tadeu, hoje eu vou votar na s/n, porque ela é insuportável e me fez perder quinhentas estalecas"

"Então, Tadeu, hoje eu vou votar na Nanda, porque ela é uma burra e perdeu quinhentas estalecas"

"Nanda, é?"

"É que você ama raba-nanda" Uma simples piada ruim fez as duas gargalharem por longos minutos.

"Já percebeu que a gente assim, com roupa branca, num isolamento, estamos a um passo do hospício? Pá pum, a gente vai direto pra camisa de força"

"Que, que é pá pum? " s/n perguntou confusa.

"Efeito sonoro"

"Você tá ficando maluca, menos quinhentas estalecas pra você" s/n disse dessa vez imitando o Big Boss.

"s/n, não é você que controla as estalecas programa. Mais um aviso e as duas serão expulsas" A voz do Big Boss soou novamente, seguida de mais um banho de água e as paredes diminuindo consideravelmente.

"Você irritou o Big Boss" Fernanda disse por fim e s/n se sentou na cama chateada.

"Tô com saudade da Bia e da Alane"

"E eu daria tudo pra fofocar com a Pitel agora"

"Vai lá: beija, casa ou fode. Nós temos Pitel, Yasmin e Alane" s/n disse mudando drasticamente de assunto.

"Caso com a Pitel, beijo a Alane e mato a Yasmin"

"Vai, agora você"

"Alane, Bia e cunhã"

"Aí você me complica"

"Vamos, anda"

"Eu beijo a Bia, porque ela é quase uma irmã pra mim"

"Sem porquês"

"Caso com a Alane e fodo a cunhã" Fernanda olhava a mulher na sua frente com um olhar de julgamento.

"Sabia que a cunhã..."

"Calada. Um especial pra você. Bin, Buda e Alegrete"

"Passo"

"Não é esse o jogo" s/n resmungou e Fernanda deu os ombros.

"Davi, Pitel e eu"

"Eu mato o Davi, beijo a Pitel e caso contigo".

"Você se casa comigo?"

"Pensei que você nunca ia pedir" s/n disse em tom brincalhão "Já tô até de branco" Fernanda gargalhou com a bobagem da mulher.

"Faz outra pra mim"

"Bia, Alane e eu" s/n jogou no ar.

"Mato a Bia, beijo a Alane e caso contigo" Fernanda disse dando os ombros.

"Casa, comigo?" s/n perguntou perplexa.

"Já estamos casadas há uma rodada atrás, meu bem" Fernanda disse com deboche, enquanto se levantou em direção a cama. Ela já estava para ir tirar um cochilo.

"Vai dormir?"

"Não consegui dormir à noite"

Fernanda lançou um olhar divertido para s/n, notando-a deitando ao seu lado. A surpresa dela foi evidente, mas um sorriso suave apareceu em seu rosto.

"Ficou com medo de eu apertar o botão?", provocou s/n, com um brilho travesso nos olhos.

Fernanda riu, sacudindo a cabeça.

"Você tá com medo de eu apertar o botão?"

"Não, só não queria que você ficasse sozinha nessa cama de casal estranha."

O gesto de s/n pegou Fernanda de surpresa, mas de alguma forma, trouxe uma sensação reconfortante ao ambiente tenso do quarto branco.

"Você não é tão insuportável assim, sabia?" s/n murmurou, com uma ternura inesperada.

Fernanda ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de s/n. Em meio à competição acirrada e à pressão constante do jogo, aquele momento simples de conexão humana era uma lufada de ar fresco.

"Você tenta ser legal", respondeu Fernanda, sua voz com um falso deboche.

E assim, no tranquilo e confinado ambiente do quarto branco, duas competidoras, antes adversárias, encontraram um breve momento de calma e compreensão mútua, enquanto se entregavam ao sono novamente.