Primeiro Capítulo: todo meu amor.

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Fiorella

"Eu sobrevivi a todos os terremotos que aconteceram na minha vida.
Eu morri em todos, mas em todos, eu ressuscitei.
Eu não tenho o dom da morte.
Sobreviver parece o meu destino."


Olho para a pequena cicatriz em meu pulso esquerdo, meus dedos correm por cima dela, eu não sinto a dor, mas eu me lembro dela e lembrar é quase o mesmo que senti-lá. Eu tenho muitos mecanismos de defesa, mas o que sempre me impressiona é; a minha capacidade de enxergar o quanto eu estava mal, quando eu voltava a ficar bem e a maior falha dele era que eu demorei tempo demais para perceber que eu precisava de ajuda.

Fecho meus olhos e acabo de tragar o cigarro que eu havia ganhado em segredo, do soldado que faz a segurança da minha janela, inspiro profundamente e agradeço por estar viva, mesmo que eu não mereça.

- Mais um dia... por você Ella. - sussurro para a foto de minha irmã no meu imenso mural e jogo a bituca do cigarro pela janela.

Os últimos três anos, foram os mais difíceis para mim, a morte de minha irmã, a depressão de minha mãe, um pai totalmente louco por vingança, um noivo insignificante, uma mansão cheia de lembranças e a minha batalha para manter um sorriso em meu belo rosto, apesar de tudo papai ainda diz que eu sou a fortaleza da nossa família e isso afetou minha saúde mental por um longo tempo.

Nascer em uma famiglia mafiosa não é um mar de rosas, as vezes leio alguns livros sobre nós, os romances sobre o submundo me atraem, mas eu não acredito em tudo que há neles, pois sei que nunca um Capo trataria tão bem sua esposa dando a ela fidelidade e amor.
A Máfia é tudo para o meu pai, na verdade é tudo para minha família, por gerações nosso sobrenome é um dos mais temidos em nosso meio, sem a Cosa Nostra não seríamos quem somos hoje.

Acabo de vestir um vestido florido e penso mais uma vez em como minha vida é monótona, rotineira e tediosa, os últimos anos contribuiram ainda mais para que ela fosse assim, as consequências por ter nascido no meio que nasci são altíssimas, ainda mais quando se é uma mulher; leis, submissão, etiqueta, dever, honra e claro não mentir, nem uma mentirinha de criança e disto eu sabia muito bem, as cicatrizes em minha nuca, nunca me deixariam esquecer.

Escovo meus longos cabelos castanhos e desço apressada pois em poucos minutos Frederico me buscaria para o café da manhã, ele voou até aqui para tratar de assuntos urgentes, isso me deixa ansiosa e completamente em pânico, não queria sua visita e não queria vê-lo.

Ao longo do caminho até a mesa de refeições, me lembro que hoje eu e mamãe poderíamos fazer compras, pois amanhã o maior evento da Máfia Italiana irá acontecer; o baile anual de outono, uma morte lenta e dolorosa para mim, estar em um ambiente cheio de submissão, poder e falsidade, me enoja e a opção de não ir, não está ao meu alcance.

- Mamãe, bom dia! - dou um beijo em seu rosto e recebo um sorriso melancólico.

Minha mãe nunca mais foi a mesma, não depois do que aconteceu com Donatella.

- Fiore... bom dia. - ela diz e logo após toma seus remédios.

Eu odeio esse apelido, minha irmã dizia que me deixava muito mais fofa, mas para mim ser extremamente fofa é um problema.

- Sabe que um dia papai irá descobrir...- sussurro balançando o frasco e me sento na cadeira ao seu lado.

Minha mãe ainda toma alguns medicamentos as escondias de meu pai, ele não aceita que ela ainda esteja em luto, pois como bom exibidor que ele é, nós devemos estar sorridentes e fingirmos que já superamos o insuperável.
Meu pai não tem coração, em todos esses anos nunca o vi chorando ou demonstrando qualquer sentimento humano, o assassinato de Donatella só despertou vingança em seu coração, ele já era péssimo como pai e marido, agora ele duplicou neste quesito, ele é controlador ao extremo, do tipo que nenhuma folha cai no chão sem que ele saiba, afinal ele era um Capitano na famiglia, ele era o temido Dario Alboni e para o meu azar era um membro do alto conselho da Máfia Siciliana.

Fiorella Where stories live. Discover now