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O cansaço tomava conta do seu corpo por não conseguir pregar o olho desde as falas de Paris Geller. Com as pernas e a cabeça doloridas devido a falta de sono e conforto durante a noite, Beatrice caminhava em direção ao colégio. Passou o domingo inteiro pensando na garota e a forma em que Paris não parecia bem no sábado. A forma em que olhava para fora da lanchonete; ou, a forma com que parecia tão acostumada com tudo o que falou. A de cabelos pretos se forçou a parar por alguns instantes, fechando os olhos que ardiam. Precisava urgentemente de uma boa noite de sono e uma grande xícara de café. Naquele momento, apenas desejou que o tempo se tornasse chuvoso e que pudesse ficar em casa em um bom dia preguiçoso. O único porém, era que precisava encarar os estudos primeiro.

Normalmente um carro parando ao seu lado a deixaria alerta, mas esse não foi o caso naquele dia, onde estava avoada demais para notar a forma suspeita daquele carro que a seguia. A buzina soando não a deixou com medo... pelo contrário, estava irritada. Quem ousava interromper os pensamentos intrusos de Beatrice Mary Otinger naquela manhã? Obviamente que este não deveria ter amor pela vida. Ou, obviamente seria alguém que não tinha medo da baixinha... Claro que o loiro já estaria aprontando antes mesmo que chegassem ao colégio. As sobrancelhas franzidas juntas do sorriso divertido formavam uma bela dupla no rosto de Tristan Dugray. Porém, não era nada comparado à forma em que o garoto olhava para ela, pois ainda que fosse do seu feitio a provocar, Tristan sabia muito bem reconhecer o quanto gostava de Beatrice. Ele não só gostava dela, ele realmente gostava muito dela.

— Bom dia, Mary!

— O que você quer? — Perguntou, com os olhos sonolentos.

— Só estava pensando em te dar uma carona.

— Não.

— Não? — Dugray  tombou a cabeça para o lado. — Você vai chegar atrasada.

— Tristan, é você quem está parado aqui nos enrolando.

— Quem está nos enrolando não sou eu, Beatrice.

Era claro que a garota sabia o duplo sentido que o loiro usava naquela frase, a forma com que sua boca havia se fechado imediatamente entregava aquilo. Como Tristan gostava daquela versão de Beatrice. Como gostava da forma em que a interação continuava sendo a mesma, ainda que soubesse que a morena não o odiava de verdade. Como gostava de ouvir aquele comentário ríspido para a deixar sem palavras depois, ou do rosto rabugento se tornando cada vez mais vermelho. Apenas o jeito em que ela ficava divinamente linda envergonhada o fazia ganhar o seu dia.

— Entra logo. Faltam treze minutos para o sinal tocar. — Tristan observou quando os olhos sonolentos se arregalaram... Quanto tempo perdeu, ou melhor, por quanto tempo se perdeu em seus pensamentos?

— Treze minutos? — Olhou apreensiva para o loiro.

— Exato. — Riu nasalado enquanto a garota mordeu o lábio inferior. — Não me diga que está com medo de pegar uma carona comigo?

— Cale logo essa boca. — Bufou, andando até o lado do passageiro.

O Dugray até abriu a boca, mas pelo olhar mortal que recebeu, soube que a morena já sabia sua próxima fala. Assim que a baixinha abriu a porta, sentou no banco, colocando o cinto e jogando sua bolsa para o banco de trás. O garoto assistiu toda a cena, franzindo as sobrancelhas assim que a baixinha se encostou, fechou os próprios olhos e cruzou os braços. Tristan mordeu os lábios, respirando fundo e olhando para frente, afinal, ainda precisavam chegar no colégio. Quando o carro começou a andar, Beatrice lembrou-se imediatamente do dia em que foram às compras para o baile e da fala do Dugray.

— Paris não costuma vir com você? — Perguntou, ainda com seus olhos fechados.

— Ela preferiu ficar em casa hoje.

— Paris Geller faltando aula? — As sobrancelhas franzidas da morena acabaram por ganhar a atenção de Tristan Dugray.

— Ela disse que vocês saíram no sábado e acabou te contando sobre a relação com os pais...

Foi automático. Beatrice abriu os olhos na hora, encarando o perfil do loiro, que mantinha sua concentração na estrada. Seu maxilar estava trincado e, aparentemente, ele também estava desconfortável sobre este assunto. A baixinha não se importou em continuar o encarando; o foco não estava mais sobre os dois. De qualquer forma, aquilo não impediu de fazer Tristan ajustar sua postura. Se a Otinger não o conhecesse, poderia jurar que o garoto ficou nervoso. Porém, se tratando de Tristan Dugray, aquilo parecia impossível.

— Ela ficou em casa por isso? — A morena perguntou, mordendo o interior da bochecha esquerda.

— Os pais dela passaram a madrugada inteira brigando. — O garoto respirou fundo.

— Isso tudo por um divórcio?

— Eles sempre estavam brigando, Beatrice, é justamente por isso que estão se divorciando. — A garota ficou quieta, prestando atenção em cada palavra do loiro. — Os pais da Paris nunca estão presentes e quando estão eles passam horas brigando. Paris nunca recebeu amor dos pais.

Aquela frase ecoou pela sua mente. Passou a entender o porquê a Geller se cobrava tanto, afinal, queria chamar a atenção dos pais. Paris era a melhor da sala porque era o único conforto que a loira tinha. Fechou os olhos com força, sem coragem para encarar o loiro. Era difícil o quanto suas conversas se tornavam profundas e emotivas de repente.  Estava sem palavras e completamente preocupada com a garota. Tristan suspirou antes de tentar desviar do assunto, vendo a situação da garota nervosa ao seu lado.

— Ouvi falar que você contou para ela sobre o dia do baile. — Tristan disse, enquanto Beatrice continuava quieta.  — Achei que iria o beijo esconder de todo mundo.

— Eu queria contar para ela. — Suspirou, sentindo quando o carro estacionou no colégio.

— Por quê? — A observou, desligando o carro.

— Porque somos amigas. — A baixinha abriu os olhos, tirando o cinto de segurança e olhando no fundo dos olhos do Dugray. — Confio nela.

— E ela confia em você. — Ele sorriu com a boca fechada. — Sabia que vocês duas se dariam bem.

Beatrice sorriu ao ouvir a última frase. Como foi que as duas viraram amigas de repente? Ainda que estivesse cansada, aquilo realmente havia animado o seu dia. Porém, um sentimento de culpa subiu pela sua espinha, afinal, não havia contado nada para a sua mãe. Tristan franziu as sobrancelhas ao ver sua expressão mudar novamente. Se perguntava como a Otinger conseguia transitar entre suas emoções tão facilmente. Bem, era bizarro o quanto a garota que por tanto tempo considerou fria era extremamente expressiva.

— Acho que você é a pessoa mais confusa que eu conheço. — O loiro colocou uma mecha para trás de sua orelha.

A baixinha negou com a cabeça, abriu a porta do carro e saiu do automóvel, andando até o banco de trás para pegar sua mochila. Porém, assim que a puxou, acabou derrubando a do mais alto sem querer. Quando os materiais caíram para fora, abaixou-se para pegá-los, arregalando os olhos no processo e segurando um objeto específico em mãos. Certificou-se de ter certeza que o pertencia e levantou-se para encarar o loiro, que se encontrava em pé do outro lado do carro. Tristan a encarava, como se ainda tentasse a decifrar. Porém, foi pego de surpresa quando a mesma levantou a obra com uma expressão divertida.

— Tristan Dugray, isso é um livro de romance?






"Too tired to sleep, good morning
And I'm too wired to heed the warning
That there's danger in the summer
The calm before the thunder"
AMERICAN CLICHÉ - FINNEAS

𝐇𝐎𝐒𝐓𝐀𝐆𝐄, ᴛʀɪꜱᴛᴀɴ ᴅᴜɢʀᴀʏWhere stories live. Discover now