Capítulo 4: Dois Jantares

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Zane olhou-se ao espelho da casa de banho. Ajeitou o cabelo, pois parecia-lhe que estava mal penteado. Não ficou satisfeito. Pegou na escova e voltou a penteá-lo novamente, até estar com risco ao lado. Outras pessoas poderiam achar o penteado antiquado, mas ele já passara da altura em que gostava de ter o cabelo espetado. Ainda por cima, era suposto ser fotografado naquela noite, portanto tinha de parecer bem na fotografia. Imaginou como a família iria reagir, quando o vissem, na companhia de uma pessoa famosa. Isto se algum deles soubesse sequer quem era Benjamin, visto que Zane não fazia ideia sequer de que ele existia, até o ter conhecido.

Demorara algum tempo a escolher o que vestir. Devia usar uma roupa mais formal ou mais prática? Pensou em ligar a Benjamin a perguntar, mas depois reconsiderou. Devia saber o que vestir por si mesmo. Acabou por escolher uma camisa azul com riscas, que não era demasiado vistosa. Afinal, o foco devia ser em Benjamin, ele é que era famoso. As calças eram escuras e decidira usar os melhores sapatos que tinha. Mudara o relógio de pulso para um relógio em prata, que o pai lhe tinha oferecido, alguns anos antes. Viu-se ao espelho novamente. Estava bem. Iria vestir um casaco fino, azul escuro, pois podia estar frio e de resto, estava tudo decidido.

Zane vivia num apartamento, que dividia com a sua colega de casa, Denise Wattson, para poderem partilhar as despesas. Ela não era muito faladora e por vezes ia em viagem durante uma semana inteira, mas não dava problemas, pelo que era algo positivo. O apartamento estava bem arrumado, ainda que não fosse muito grande. A decoração era simples, mais prática do que bonita. Na sala, Zane colocara duas estantes, com livros que eram apenas dele, pois gostava bastante de ler. Vestiu o casaco, pronto a sair, quando o telemóvel tocou. Era a mãe. Hesitou. Podia não atender, mas o mais provável era que ela continuasse a insistir. Ainda tinha uns minutos para poder perder com ela.

- Olá, mãe.

- Zane, filho, está tudo bem contigo? – perguntou Estelle Besttan, do outro lado da linha. A sua voz era algo aguda e quando ficava entusiasmada, começava a falar muito depressa. Zane respondeu-lhe que sim, estava tudo bem. – Estive a falar com o teu irmão ainda há poucos minutos. Tem estado muito ocupado, coitado, mas é natural. A vida de médico não é fácil. Não é como o teu emprego, claro.

- O meu emprego também tem coisas complicadas, mãe.

- Mas não queres comparar, pois não? O teu irmão tem muito mais responsabilidade, tem a vida das pessoas nas mãos. É muito nobre, a profissão de médico. Não é para qualquer pessoa. Para se tornar médico, ele teve de estudar tanto. Pobrezinho. E a tua irmã, para arquiteta, também teve de estudar, de se aplicar. E claro que deve ser um gosto ver um projeto tornar-se uma casa ou um bloco de apartamentos. Não é para qualquer um – indicou Estelle. – E tu querido... trabalhas num escritório, não é a mesma coisa.

- Pode não ser, mas eu trabalho arduamente, mãe. Faço o melhor que posso e penso que estão satisfeitos com o meu trabalho.

- Não disse que não estariam. Claro que tu te irias aplicar. Bem, nem sempre, como quando foste para a universidade e desististe. Não terminaste o curso. Podias estar formado, como os teus irmãos, mas não, optaste pelo mais fácil, desistir. Muitas vezes, preocupo-me contigo. Não estás formado, não tens um emprego de prestígio, nem sequer tens um local onde viver sem teres de o partilhar com outra pessoa, sendo que essa pessoa nem é teu namorado. Porque não tens namorado. A tua irmã está casada, o teu irmão tem uma namorada e tu...

- Mãe, desculpa, eu estou de saída. Vou jantar com um amigo. Falamos noutra altura.

- Vais sair? A uma sexta-feira? Que eu saiba, não tens quase amigos nenhuns. Estás a tentar apenas livrar-te de mim, não estás?

- Não. Tenho mesmo um jantar combinado, não é mentira. Não tenho sempre de ficar enfiado no meu apartamento.

- Mas regra geral, é o que costuma acontecer. Ficas por aí, a ler, a ver televisão ou seja lá o que for, não interages com ninguém. Por isso é que ainda estás solteiro. Ficava mais descansada se pelo menos tivesses um namorado. Um apresentável, obviamente. Não gostaria nada se fosse um namorado muito desadequado...

O Falso NamoroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora