Capítulo 25 - Memórias.

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Dylan encarou Matthew ao seu lado, imóvel, em uma troca de olhares demorada. Um silêncio pesado pairava entre eles, carregado com a incerteza do que estava por vir e o desconforto da situação atual. O ambiente ao redor parecia congelar, enquanto os dois homens compartilhavam a preocupação mútua sem precisar de palavras. Cada segundo se estendia, preenchido apenas pelo eco dos pensamentos inquietos que permeavam suas mentes.

— Eu não... — Dylan começou a falar, suas palavras vacilantes, sem saber ao certo o que dizer. Ele estendeu o saco para Matthew, que o recebeu automaticamente. Naquele momento, qualquer vestígio de alegria ou alívio estava ausente, pois pouco importava que Brian tivesse chamado por Dylan. Ele ainda estava ali, no hospital, inconsciente.

Por mais que as palavras reconfortantes da médica tivessem sido pronunciadas com a intenção de acalmá-los, como poderiam surtir efeito? Enquanto Brian permanecesse ali, enquanto Dylan não o visse consciente e bem, nada mais tinha importância. A angústia e a preocupação continuavam a dominar seus pensamentos, deixando-os à mercê da incerteza e da esperança frágil.

Eventualmente, eles se sentaram novamente, o silêncio tão denso que parecia ser quase palpável. O rosto de Matthew carregava uma expressão indecifrável, refletindo a intensidade dos pensamentos que o consumiam. Ali, permaneceram praticamente imóveis, envoltos pela quietude sufocante, como se o tempo tivesse desacelerado, prolongando aquele momento angustiante até parecer uma eternidade.


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No momento em que seus olhos se entreabriram, a luz difusa do quarto de hospital invadiu seu campo de visão, inicialmente borrando os contornos ao seu redor. Uma onda de confusão o envolveu quando ele tentou se lembrar do que havia acontecido. A mente ainda turva, ele piscou algumas vezes, tentando desfazer a névoa que obscurecia seus pensamentos.

Os sons familiares do ambiente hospitalar começaram a penetrar em sua consciência: o suave zumbido dos aparelhos, o ritmado som dos passos no corredor e o murmúrio distante das vozes das enfermeiras. Cada respiração era acompanhada por uma sensação dolorosa em seu peito, enquanto ele gradualmente se tornava mais consciente de sua própria existência e das dores que o afligiam.

Com um esforço tremendo, Brian tentou mover-se, mas foi recebido pela sensação de rigidez e dor que percorria todo o seu corpo. Um gemido involuntário escapou de seus lábios, ecoando pelo quarto do hospital, enquanto ele lutava para se ajustar à realidade da situação. Sua mente começou a clarear lentamente, trazendo à tona fragmentos da memória do terrível acidente de carro que o levou até ali.

Lembranças do dia invadiram sua mente, como uma enxurrada de imagens desordenadas. Ele recordou o beijo roubado, seguido pelo arrependimento que sentira. As memórias do desespero em busca de Matthew, que parecia ter desaparecido para sempre, ecoaram em sua mente como um eco persistente. A imagem daquele momento traumático ressurgiu vívida em sua mente: seu corpo sendo lançado violentamente contra os airbags, a luz dos faróis incandescentes cegando seus olhos, o som ensurdecedor da buzina ecoando em seus ouvidos. Uma confusão de flashes de pessoas, luzes e barulhos tumultuados dançavam diante de seus olhos fechados, como se estivesse revivendo o pesadelo novamente.

Mas em meio a esse turbilhão de lembranças caóticas, havia algo singularmente claro: aquele sorriso. A última lembrança que teve era tão nítida, tão real. Diferentemente das outras imagens confusas, aquele sorriso era vívido demais, como se estivesse gravado em sua mente com uma precisão impressionante. Era incerto se se tratava de uma lembrança, uma memória ou apenas um desejo, mas Brian se agarrou a ela como se fosse um ponto de ancoragem em meio à tempestade daquela confusão de sensações. A imagem daquele sorriso foi a última coisa que ele recordou antes de ser submerso na escuridão do inconsciente.

Agora, completamente desperto, ele lutou para se sentar na cama, sentindo uma mistura de alívio por estar vivo e ansiedade pelo que o futuro reservava. Cada pequeno movimento era uma batalha contra a dor, mas ele perseverou, determinado a enfrentar o desafio que se apresentava diante dele. Com o coração acelerado, ele se preparou para enfrentar o desconhecido que aguardava do lado de fora das paredes do hospital.

Não demorou para que a presença do enfermeiro se fizesse presente, e pouco tempo depois, duas silhuetas familiares adentraram o quarto de Brian. Matthew e Dylan surgiram com expressões igualmente aflitas em seus rostos, varrendo o ambiente com um olhar ávido em busca de sinais de recuperação no jovem deitado.

— Amor! — Matthew foi o primeiro a falar, sua voz carregada de emoção. Sua mão segurava a de Brian com delicadeza, como se temesse que ele pudesse escapar a qualquer momento. — Como está se sentindo? — perguntou, as lágrimas já trilhando livremente pelo seu rosto, um misto de alívio por vê-lo ali e preocupação pela imagem que encontrou.

— Já estive melhor! — Brian respondeu em um tom brincalhão, embora imediatamente tenha sentido uma pontada de dor em seu abdômen após a risada. No entanto, valeu a pena ao ouvir a risada de alívio de Matthew, um som que aqueceu seu coração em meio àquele cenário de incerteza.

— Nosso fotógrafo vai ter bastante trabalho no Photoshop. — Brian riu, permitindo que seus olhos percorressem o rosto de Matthew com um misto de alívio e curiosidade, antes de se deter no homem ao seu lado. Sua expressão era um tanto indecifrável, deixando Brian intrigado. Ele não pôde negar a imensa curiosidade que crescia dentro de si, ansiando por descobrir como os dois haviam chegado ali juntos. — O Dylan dirigiu. — revelou Matthew, como se estivesse lendo os pensamentos do loiro.

Dylan pareceu piscar algumas vezes ao ouvir seu nome, como se estivesse emergindo de um estado de torpor e retornando à realidade.

— Fico feliz que esteja... bem. — disse Dylan, lutando para encontrar a palavra certa para descrever o estado de Brian. "Vivo" parecia uma descrição muito fria para a complexidade da situação. — Eu já vou. — anunciou, e em passos hesitantes, tentou se aproximar de Brian, mas logo desistiu da ideia. Antes de sair do quarto, Dylan deu um leve tapa nos ombros de Matthew, um gesto de conforto em meio à tensão palpável que preenchia o ambiente. Aos olhos de Brian, porém, aquele gesto parecia mais do que um simples gesto de conforto. Era como se fosse uma permissão ou, talvez até, uma desistência. Aquela simples batida nos ombros, parecia carregada de significados ocultos e emoções não expressas, deixou Brian com uma sensação de inquietação na boca de seu estômago, como se algo estivesse fora do lugar, algo que ele não conseguia identificar.

— Sua mãe já está a caminho. — Matthew voltou a falar, ignorando a saída de Dylan do quarto, sua atenção totalmente voltada para o homem deitado.

Brian, por outro lado, não pôde evitar de criar um milhão de perguntas em sua cabeça. O que tinha acontecido entre esses dois? Aquele toque significava algo? Mas ele decidiu não se deixar consumir por essas dúvidas. Em vez disso, preferiu focar sua atenção no carinho reconfortante que recebia em sua mão. Seu corpo estava dolorido demais e sua mente pesada demais para tentar solucionar o que quer que seja naquele momento. No instante presente, tudo o que importava era o conforto da presença familiar ao seu lado e o alívio de estar vivo, mesmo que envolto em mistérios e incertezas. Ele respirou fundo, permitindo-se simplesmente estar ali, absorvendo a sensação reconfortante do momento.

Como se livrar de um moleque apaixonadoOnde histórias criam vida. Descubra agora