Desejo de Natal

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Enid acordou com o som insistente de um bipe. A princípio, achou que fosse um alarme e se perguntou por que Wednesday ajustara o relógio para despertá-las numa manhã de Natal.

O que não fazia sentido, uma vez que, com toda a certeza, as crianças as acordariam em breve com muito barulho e algazarra.
Todavia, por alguma razão, ela pusera o relógio para despertar, e agora não desligava o barulho irritante e...
Aquilo era muito estranho...
De súbito, o corpo todo de Enid ficou paralisado, exceto pela dor que pulsava em seu coração.

Não podia se mover, nem abrir os olhos. Faltava-lhe coragem para isso.
— Não... — Sussurrou, agarrando forte a coberta que não se parecia nem um pouco com seu edredom antigo e confortável cheio de remendos.
De olhos ainda fechados, desejou que tudo aquilo fosse um sonho ruim, um terrível pesadelo, para que aquilo parasse, que fosse embora e a deixasse acordar em seu lar.
Desejou que Wednesday estivesse dormindo ao seu lado na grande cama do casal.

Desejou que seus filhos estivessem acordando excitados e indo chamá-las no quarto, porque era manhã de Natal, e Papai Noel viera durante à noite.
"Por favor, por favor!", implorou em seu íntimo. "Isso não pode ter sido um sonho. Diga-me que não foi. Diga-me que não sonhei que retornei ao passado e Willa desistiu de me pedir o divórcio, jogando a papelada na lareira!"

— Está tudo bem com você, Enid?

Grace... Aquela era a voz da senhora idosa que encontrara no hospital.
Enid a reconheceu de imediato, porque a mulher parecia bem calma e tão doce... como quando no momento em que lhe apertou os dedos antes que tudo escurecesse a seu redor e ela voltasse ao passado.

— Quer eu chame a enfermeira para você?
"Senhor, até a frase é a mesma!", pensou ela, desesperada. "Estou em um hospital, de novo. Ou então, nunca saí daqui."

Enid apenas conseguiu menear a cabeça.

Não podia falar, estava ainda estática por causa do medo.
Ainda sentia-se apavorada demais.

"Vou abrir os olhos agora e ver meu quarto em casa", murmurou para si mesma, tentando convencer-se, embora, no fundo, soubesse que não era verdade. "Aí, virarei a cabeça e verei o rosto de Wednesday ao meu lado."

Enid respirou fundo algumas vezes, aterrorizada, envolvida por uma angústia tão profunda que se perguntou se aquilo seria capaz de matá-la.

— Grace?
"Não responda. Seja Willa, toda confusa sobre por que a estou chamando de Grace"

— Sim?
Enid ergueu as pálpebras e viu aparelhos médicos e o frasco de soro atado a seu braço por uma borracha.
Baixando o rosto, fitou o cobertor branco hospitalar, e em seguida, as próprias mãos.
Suas mãos, que estavam envelhecidas e enrugadas.

— Não... Não pode ser! Isso não é justo!— Ergueu aquelas mãos enrugadas e enterrou o rosto nelas.— Tudo aquilo não era um sonho, meu Deus. Não era!

— Claro que não era. — Grace continuava falando no mesmo tom tranquilo que Enid costumava usar com Donna quando sua menininha tinha um pesadelo e acordava chorando.

Ela diria qualquer coisa para acalmar sua filhinha, em situações assim.

Qualquer coisa.

— Mas foi. —Enid soluçava, o coração despedaçado dentro do peito e batendo por teimosia.

— O que houve meu amor? Por que está chorando?— Enid escutava Wednesday, e se perguntou se tinha ficado louca.— O que aconteceu?! —A latina perguntou,preocupada.

— Não sei. Acho que sua mulher teve um pesadelo — Grace respondeu-lhe.

Enid baixou os braços num único movimento abrupto e deparou com as amadas feições de sua esposa.

Christmas Wish- WenclairWhere stories live. Discover now