Eu arruinei sua vida!

606 92 11
                                    

Pelo tom de voz de Wednesday,a loira sabia que sua esposa estava zangada.

Respirando fundo,ela a olhou com cautela,teria que agir como se tivesse acabado de ver sua amada e não que não a via a tempos.
Sentia medo de agir de forma errada e tudo aquilo acabar.
— Café?
— Sim,café.Não sobrou muito.Se quiser,tem que preparar mais.— A mulher explicou de forma seca.

Wednesday estava linda,seus olhos castanhos estavam vivos,seus cabelos negros brilhavam.
Enid teve que se controlar para não correr e pular nos braços da esposa,tudo ali parecia tão real.

Ela inspirou fundo e pegou uma caneca,era uma com corvos e lobos que Wednesday tinha lhe dado em um de seus primeiros dia dos namorados. Colocou o líquido quente e provou.

Era real,a bebida,sua quentura,seu gosto.
— Meu Deus.— A loira exclamou antes de sair quase correndo pelo jardim.

Não demorou muito para escutar alguém atrás dela.
— Está passando mal?— Wednesday perguntou atrás dela.
—Não,não é isso.— Enid afirmou já sentindo as lágrimas escorrerem por seu rosto.— Você não compreende.

— Realmente,não estou compreendendo nada.

A loira deixou escapar uma risada antes de olhar para a morena que parecia furiosa.

— Eu arruinei sua vida...você,as crianças,eu arruinei tudo! E agora vocês estão aqui! Como se nada tivesse acontecido!

Wednesday a olhou como se visse um fantasma.
— Do que raios você está falando?— A morena questionou perplexa.
Enid fitou a esposa que falecera há muito tempo. Ainda atordoada, ela respirou fundo antes de perguntar
— Que dia é hoje?
— Que?
— O mês,em que mês estamos?
— Dezembro
— De 2051?
— Óbvio que não! Estamos em 2023,Enid!— Wednesday exclamou deixando sua companheira com um misto de alívio e tristeza.

Essa data,dali alguns dias...Ela estaria com os papéis do divórcio em mãos.

Ambas gritando uma com a outra e terminando tudo com Wednesday chorando como uma criança.

— Tenho que ir trabalhar.— A latina afirmou antes de entrar na casa.— Você vai ficar bem?

Enid olhou para a mulher fria em sua frente e concluiu algo que antes não percebera.
Aquela mulher ali estava tão magoada que o ódio ultrapassava o amor.
Aquilo machucava mesmo anos depois.

— Você não me ama.— A loira afirmou
— Claro que amo.

— Tudo bem,eu fiz muitas escolhas erradas,no momento não mereço seu amor ou o das crianças,minei nosso futuro com escolhas das quais não me orgulho, estou surpresa que tenha aguentado tanto.

— Do que você esta falando?
Wednesday poderia falar o que quisesse, mas Enid sabia que em algum lugar da casa os benditos documentos de divórcio estavam guardados, afinal eles tinham sido datados em novembro.

Enid acreditava que sua esposa tinha esperanças que ela mudasse até o natal, por isso demorara para lhe entregar os papéis.

— Vamos entrar.— Sinclair afirmou suspirando.
As crianças levantaram os rostos quando ambas entraram, pareciam com medo, talvez porque na época as mães brigavam muito.

Damian fitou com mais intensidade Enid,provavelmente tentando procurar algum sinal de descontentamento mas a mulher lhe sorriu e o menino relaxou.
Não conseguia lembrar de causar tal estresse no filho, mas agora Enid se sentiu mal,pobres crianças,eles não tinha culpa de nada.

Wednesday beijou os filhos,se despedindo com carinho antes de parar em frente a Enid friamente.

— Você tem que buscar Damien na escola hoje.— Murmurou como uma comandante.

— A que horas?— A loira perguntou alegre,buscando ignorar a grosseria da esposa.
— A hora que ele saí,você já deveria saber.— Respondeu antes de sair.

Segundos depois a loira sentiu alguém segurando sua calça de pijama.
— Tenho que ir ao banheiro,mamãe.— Donna afirmou.

— Tudo bem,pode ir.

A garotinha fez uma cara confusa.
— Você tem que me ajudar,como sempre.

Enid soltou uma gargalhada de sua imbecilidade, há muito tempo não ajudava ninguém a ir ao banheiro, nem cantava músicas infantis ou buscava na escola.

Quando colocou a menininha de pijamas cor de rosa sentada no penico,a loira sentiu os olhos arderem,sentia uma enorme vontade de chorar, porém se controlou, sua filha não entenderia o que estava acontecendo.

Donna cantarolava "se essa rua fosse minha",parecendo feliz.

Enid tinha sido descuidada e ausente com ambas crianças que colocara no mundo.
Agora estava presa ali,talvez como castigo para poder se lembrar de como os pequenos eram saudáveis e bonitas.

Mais tarde, quando as crianças saiam para escola, Damien com seu loiro cabelo penteado de forma perfeita e Donna toda sorridente, Enid se perguntou se Deus era tão bom ou tão cruel a ponto de fazer com que ela revivesse tudo aquilo.

Com muita vontade de chorar ela acenou para as crianças e gritou.
— Amo vocês! Até mais tarde!

Christmas Wish- WenclairWhere stories live. Discover now