6 meses depois

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Dois convites individuais estavam postos em um envelope junto ao convite para a família. Eram de Julia, seu aniversário havia chegado. As meninas se entreolharam.

— Nós não vamos a essa festa! — Rubi falou jogando o convite de volta na mesa. — É uma armação. — Seus lindos olhinhos esmeraldas se tornaram vermelho sangue enquanto ela exalava sua raiva, fazendo a chaleira chiar no fogão. — Nos deixaram fugir para nos pegarem de novo. Simplesmente ridículo.

— Mas e nosso pai? Se há um convite para a família, se estende a ele e acredito que estará lá — falou Cristal, ainda pensando se essa também não era uma parte da armação.

Rubi considerou. Inspirou fundo e se jogou na cadeira, derrotada.

— Você tem razão. Completa razão. É por isso que estamos aqui. Vamos a essa festa! — Rubi sabia que era arriscado, mas talvez, ela pensou, talvez se encontrassem o pai, ele ao menos lhes daria algumas das respostas que procuravam.

O que elas não perceberam enquanto discutiam era que alguém se aproximava de onde elas estavam silenciosamente.

— Mas é claro que vocês vão — Julia falou atrás delas. — Não voltariam de Londres se não fosse para participar da minha megafesta, não é?

— Londres? — perguntou Cristal com espanto.

— Sim, vocês não estavam em Londres com sua mãe? Falando nisso, onde está tia Ângela?

— Ficou! — Rubi respondeu num impulso antes que Cristal falasse algo.

“Londres é? Pelo jeito tudo estava normal por aqui. Nunca fomos sequestradas, nossa mãe está bem e sabe-se lá mais quantas mentiras foram inventadas” – ela pensou enquanto analisava a amiga alheia a tudo que havia acontecido a ela e à irmã.

— Procedimentos estéticos — disse Cristal entendendo o recado. — Mas não se preocupe, ela mandará seu presente pelo expresso.

Rubi se deliciou com as palavras da irmã. Ficou imaginando se os sequestradores iriam mesmo comprar. Ela não duvidava que fossem.

— Adoro presentes de Londres. Bem, só vim para confirmar a presença das duas. Temos um dia cheio hoje. Mamãe vai cuidar de todos os preparativos. Vocês vão ficar aqui ou vão para minha casa? — Julia estava mais animada do que o normal com a volta das amigas.

— Para sua casa! — falaram juntas no mesmo tom de preocupação.

Rubi tinha planos. Como Cristal nunca sabia o que a irmã queria, fazia o jogo dela, mesmo pensado que poderia dar tudo errado.

Passaram o dia inteiro em salões, spas e em mais um bocado de lugares gastando um dinheiro que muitos de nós, meros humanos teríamos que trabalhar o ano inteiro para conseguir.

Quando a noite chegou as três estavam arrumadas em um quarto separado na casa de Julia, mas Rubi não estava nem um pouco confortável. Seu vestido estava deixando-a muito presa e ela pressentia que precisaria dele mais solto.

— O que estamos fazendo aqui? — Cristal perguntou ainda sem entender muito como iriam proceder.

— Vamos falar com o papai. Ele vai nos tirar daqui! — falou Rubi confiante. Cristal às vezes se pegava sonhando ter só um pouco desse ego todo.

— Ou... — Ela tinha os pés no chão e não queria deixar a irmã tão esperançosa.

— Ou vamos tentar ao menos saber a verdade. O mais importante é não sair do leito da festa. Vamos dar nosso jeito.

A jovem se sentia como um cordeiro indo para o abatedouro. Aquela festa estava muito movimentada para seu gosto, não que ela quisesse que tivesse parada, entendia que era uma festa, mas estava muito movimentada até para uma festa.

Liffity - Além do arco-írisWhere stories live. Discover now