𝟎𝟎𝟖.

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Depois de mais dez minutos dirigindo, finalmente chegamos ao tal lugar que Walker queria tanto me mostrar. Já estava de noite, o que fazia o lugar ficar mais lindo ainda.

Estávamos diante de um mirante, com uma paisagem deslumbrante do mar e do céu azul-marinho estrelado.

— Uau, Walker. Isso é... — Meus olhos brilharam.

— Lindo, não é? — Sorriu — É um dos meus lugares preferidos.

Fiquei observando a paisagem por mais alguns minutos.

— Quando conheceu esse lugar? — Perguntei, sorrindo.

— Ah, foi em uma época difícil da minha vida. — Comentou — No auge dos meus dezesseis anos, tudo parecia estar cada vez mais confuso. Como eu já tinha carteira de habilitação e já podia dirigir, acabei dando um surto de adolescente completo e saí dirigindo revoltado pelas ruas, até que achei esse lugar, e agora aqui é o meu cantinho de paz.

— Hum, interessante. — Voltei meus olhos para a paisagem — E por que está me mostrando ele? Se esse é seu lugar de paz, não deveria ser só seu?

— Quis compartilhar ele com você — Olhou para a paisagem — Sei que está passando por um momento  difícil, então achei que você merecia saber que esse lugar existia.

— Eu poderia muito bem achar o meu cantinho de conforto. — Desafiei.

— Mas esse é diferente — Falou — Você nunca vai encontrar algum lugar como aqui.

— Tem razão — Suspirei — Acho que não.

— Foi para cá onde eu vim todas as noites que chorei, a maioria — Confessou — Isso é bem pessoal. Teve uma noite que até acampei aqui.

— Sozinho?

— Sozinho. — Assentiu.

— Nossa... — Fiz biquinho — É realmente muito corajoso da sua parte.

Estendi minha mão para o ar, apenas sentindo a brisa tocar em mim.

— Realmente, isso aqui cura até depressão. — Ironizei.

— Por isso que te trouxe aqui.

Minha expressão foi se fechando cada vez mais.

— Sabe, eu acho que exagerei com você.

Ele se virou para mim.

— É?

— Sim. Me desculpa, eu estou passando por uns momentos delicados e não tenho controle das minhas emoções.

— Eu sei bem como é. Já passei por isso também.

Sorri fraco.

— Você é ótimo, Walker. Eu realmente te tratei de uma forma não muito madura e meio rude, as vezes eu até me pergunto o que eu penso que estou falando para as pessoas quando vejo o estrago que já fiz.

Walker se aproximou de mim e segurou em minha mão.

— Você não precisa se desculpar, eu sei muito bem pelo que está passando — Olhou profundamente para mim — Eu entendo todas as suas dores e você tem direito de se expressar da sua forma. Cada um tem sua forma de expressar seus sentimentos.

Afastei minha mão da sua.

— É muita gentileza da sua parte, Walker. — Falei.

Ele sorriu levemente e voltou a olhar para a paisagem. A noite era tão bela, eu poderia passar horas naquele lugar.

— Eu não quero voltar para casa — Confessei.

— Por que? — Perguntou, parecendo meio surpreso.

— Meus pais não facilitam nada na minha vida. Eles dão prioridade para Tom desde quando ele nasceu, sabendo que eu estava passando por momentos difíceis. 

— É só por isso que você não quer voltar? 

O olhei, franzindo o cenho.

— Está falando sério?

— Claro que não — Riu — Eu entendo você.

— Mas se eu passasse a noite fora, seria capaz dos meus pais me matarem.

Ficamos em silêncio por alguns segundos e então, Walker falou:

— Acho que já está na hora — Checou seu celular, o tirando do bolso — E não podemos ficar muito tempo aqui, é perigoso e já está de noite.

— Falou o garoto que acampou uma vez aqui. — Zombei.

Ele deu aquela típica risada. 

— Já chega, vamos.

Walker foi descer os três degraus que nos levava para o carro novamente, mas antes que ele pudesse chegar lá, segurei seu pulso. Ele se virou para trás e olhou para mim. Nossos olhos se encontraram como a lua e o sol em um eclipse.

— O que foi, Hill?

— Aquela hora... Na escola, que a Heather te fez aquela pergunta. 

Ele desviou o olhar. Larguei minha mão de seu pulso.

— Aquilo foi verdade? Eu? Por que eu, Walker? Eu sumi por dois anos, você tinha tantas pessoas para arranjar depois daquilo, e faz tanto tempo...

— Porque eu amei você, Hillary. — Disse, seriamente — Eu nunca amei ninguém antes, você foi a primeira e a única.

Meus olhos lacrimejaram e aquele dia em que tudo aconteceu me veio a tona como uma tempestade. 

— Mas você podia ter procurado outra pessoa — Enxuguei uma pequena lágrima que descia de meu olho — Você podia ter procurado outro alguém. E se eu nunca mais voltasse? E se você nunca mais fosse me ver? Aquilo para mim tinha sido o fim de tudo...

— Mas para mim, não. — Me interrompeu — Para mim nunca houve fim.

Me espantei realmente com sua resposta. Meu coração aqueceu e um calor familiar percorreu por meu corpo inteiro. Me senti como se estivesse com febre, como se estivesse flutuando em nuvens feitas de algodão doce. Eu não sei o que aconteceu exatamente ou muito menos explicar, mas quando menos percebi, meus lábios já estavam selados com o de Walker. 

𝐌𝐄𝐌𝐎𝐑𝐈𝐄𝐒, walker scobell.Where stories live. Discover now