[𝟎𝟑] 𝐈𝐍𝐄𝐅𝐀𝐕𝐄𝐋, au pejão

catorze

PEDRO AUGUSTO, point of view
São Paulo, Brasil

o relógio marcava 20h21 quando eu saia do meu tão sonhado banho. vesti um pijama quente e me joguei na cama, aproveitando a solitude.

não durou muito, tornou-se chato.

mexi um pouco nas minhas redes sociais, mas como sempre, nada interessante.

então decidi chamar uma pessoa que eu sabia que abafaria a confusão que minha mente estava: malu.

não passaram-se nem quinze minutos e eu escutei o interfone tocar. liberei sua entrada e em oito minutos, ela invadia minha sala com duas garrafas de cerveja.

nos sentamos no tapete da sala. passava um programa desinteressante na TV. malu me entregou a garrafa de vidro e me encarou.

— e então, qual é a bomba da vez? – a menor pergunta, arrancando a tampa de metal com o dente.

não sei se isso é um tipo de padrão entre melhores amigos — ainda mais quando a amizade é com mulher —, mas a intuição de malu não falha comigo, como se ela soubesse de tudo o que passa na minha mente, todo o tempo. parece que ela me testa: mesmo já sabendo tudo, malu quer que eu assuma.

bom, essa é a minha teoria.

— tantas, não sei por onde começar direito. – suspiro fundo.

— começa me contando do loirinho que eu sei que não sai da sua mente. – ela pisca pra mim e eu franzo o cenho.

ah, tá.

— as vezes eu me esqueço que o joão está loiro. – comento em uma careta e malu ri.

— depois da festa, vocês estão conversando, pelo menos?

— queria. – digo, vendo-a morder o lábio para conter um sorriso. — talvez eu tenha piorado tudo, não sei.

o silêncio pairou no ar, malu encarava o chão da sala enquanto eu me perdia nos meus próprios pensamentos.

— sendo bem sincera, queria que tudo voltasse a ser como era. – soltou uma risada anasalada. — tipo quando estávamos na escola, sabe?

— eu também, malu, eu também. – respiro fundo. — queria ter joão de novo na minha vida, nem que fosse como amigo... – assumo.