Capítulo 05 | Fantasmas

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O observo pela janela do quarto, ele está brincando comigo e com o meu desejo de sair daqui. Em um movimento furtivo, me inclino até a cama, os dedos tremendo enquanto agarram o cabo frio do canivete. Um som estridente ecoa pela sala quando o prato se parte em pedaços no chão, um eco do caos que se desenrola em meu interior. Meu coração bate descompassado.

Levanto os olhos e lá está ele, parado diante de mim, enquanto reclamava. Ele deixa o quarto por um momento, apenas para retornar acompanhado pela mulher loira, cujo rosto está sempre escondido sob uma cortina de cabelos dourados. Por que ela sempre mantém o rosto oculto? Aaron me solta, seu aperto firme em meu braço, enquanto observo a mulher curvar-se para recolher os cacos de vidro com a mão trêmula. O rubor carmesim do sangue contrasta com a palidez de sua pele. Um murmúrio de dor escapa de seus lábios, mas Aaron parece ignorar sua agonia. Suspeito que ele esteja se deliciando com o espetáculo, a loira e como uma marionete manipulada por mãos invisíveis, assim como eu sou.

A loira se ergue lentamente, mantendo a cabeça baixa, queria tanto ver seu rosto. Um pano envolve os cacos de vidro, mas não pode esconder o sangue que escorre de sua mão ferida. Ela caminha com uma delicadeza forçada, como se cada passo fosse uma batalha contra a dor que a consome por dentro.

A bandeja, antes repleta de comida, agora é carregada por ela, um símbolo de sua servidão silenciosa. Cada movimento é marcado pelo tremor de sua mão ferida, uma lembrança constante da brutalidade do mundo ao seu redor. Ela passa por nós, mas antes que possa desaparecer completamente, Aaron intervém.

Com um gesto brusco, ele derruba a bandeja de suas mãos, como se estivesse se deliciando com o espetáculo de sua humilhação. O som metálico dos utensílios se espalha pelo o chão. É um gesto de crueldade calculada, uma demonstração de poder sobre aqueles que estão destinados a servi-lo. E a loira, com sua cabeça baixa e sua mão ensanguentada, é apenas mais uma vítima de sua tirania manipuladora.

ㅡ Não faz isso, deixa ela ir. ㅡ Tento me aproximar, mas sou puxada por ele. ㅡ Para de humilhá-la. ㅡ Insisto, mas ele simplesmente gargalha.

ㅡ Quem é você para me mandar parar de humilhar pessoas? ㅡ Ele me vira para encará-lo nos olhos. ㅡ Logo você, que adora fazer isso?

ㅡ Você não sabe nada sobre mim. ㅡ Rebato, empurrando-o, mas ele permanece imóvel.

ㅡ Eu sei que você é uma manipuladora, egoísta que adora humilhar todos ao seu redor ㅡ Continua ele, apertando o punho. ㅡ Somos tão iguais, Zaya.

ㅡ Não somos

Num movimento rápido, agarro o canivete enfiado em seu ombro, observando-o se contorcer de dor. Em seguida, desfiro um chute certeiro em seu saco, numa tentativa desesperada de neutralizá-lo. Em um impulso de bondade, seguro a mulher, tentando arrastá-la conosco para fora. Ela hesita, mas minha determinação é mais forte, e a arrasto comigo enquanto descemos as escadas às pressas. Corro em direção à porta, percebendo que ela está entreaberta. Prestes a sentir o alívio do vento fresco, sou bruscamente puxada pela mulher. Encaro-a, notando que mantém a cabeça baixa, seus cabelos loiros ocultando seu rosto, uma aura de mistério pairando ao seu redor.

ㅡ O que foi? ㅡ Pergunto, confusa. ㅡ Você não quer sair daqui? ㅡ Escuto sua risada, e tento soltar sua mão, mas ela aperta com firmeza. ㅡ Me solta.

ㅡ Na verdade, não. Eu esperei meses por isso ㅡ Ela responde, puxando-me pelos cabelos. ㅡ Zaya, eu te odeio, sua vaca manipuladora ㅡ Sua voz ressoa com um ódio profundo. ㅡ Sabe de uma coisa... ㅡ Sou jogada brutalmente ao chão, sentindo-a subir sobre mim. ㅡ Você merece tudo o que está passando. ㅡ Ela continua, e quando finalmente afasta os cabelos do rosto, meus olhos se arregalam. ㅡ Sentiu saudades, amiga? ㅡ Ela zomba, desferindo um soco que me faz desmaiar.

𝐀𝐏𝐀𝐈𝐗𝐎𝐍𝐀𝐃𝐀 𝐏𝐎𝐑 𝐔𝐌 𝐍𝐈𝐍𝐅𝐎𝐌𝐀𝐍𝐈́𝐀𝐂𝐎Where stories live. Discover now