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[ BARCODE ]

A manhã começou fria, o céu ainda estava um pouco fechado quando acordei e me levantei.

No quarto pequeno com a cama de solteiro colada em uma das paredes, o pouco sol parecia entrar pelas frestas das cortinas.

Sai do quarto e fui até o banheiro que ficava no corredor da aconchegante residência. Lavei meu corpo bem brevemente, apenas para acordar, como fazia todos as manhãs. Troquei-me e me dirigi a cozinha, pelo horário, minha mãe, mais conhecida como Jenne, ainda estava dormindo. Era por voltas das cinco e meia.

Coloquei meu avental e olhei na geladeira e nos armários para ver o que tinha, uma breve olhada me fez chegar a conclusão que poderia fazer um bolo para o café da manhã.

Pra não acordar minha mãe tão cedo, bati tudo a base da força, sem o uso da batedeira de nossa casa que era estranhamente barulhenta.

Após terminar de mexer tudo, com o forno já pré-aquecido, coloquei a massa na forma untada e a coloquei pra assar.

Depois fui atrás de fazer um café que era a bebida favorita de minha mãe. Tomei um pouco com leite enquanto via TV, apenas esperando o bolo ficar pronto.

- Bom dia, Code. – Minha mãe acordou alguns momentos antes do bolo assar completamente. – Que cheiro delicioso.

- Mãe, deveria ter dormido mais. – Largo minha xícara no balcão da cozinha, lhe dou um cheiro no rosto e sorrio em sua direção.

- O início do ano letivo é sempre um pouco puxado, você já sabe disso. – Ela comenta enquanto põe um pouco de café para si. – Além de que, serei responsável por mais turmas esse ano, tenho que me programar bem.

Minha mãe já estava na casa dos sessenta, mais ainda era cheia de vigor, talvez um pouco cansada da vida, mas certamente tinha muita confiança em si, ela só era um pouco cabeça dura.

- Não acha que deveria dar entrada na sua aposentadoria? – Comento quando ouvi o sino do forno indicar que o bolo estava pronto, coloquei uma tábua no balcão em seguida colocando as luvas, peguei a forma e desenformei o bolo, levando-o até a mesa.

- Está dizendo que estou velha? – Ela questiona enquanto levanta uma sobrancelha.

- Não disse isso dona Jenne. – Me sentei e começamos a comer o bolo ainda quente. – Só acho que deveria começar a descansar, não acha que já trabalhou demais? Não quero que se exceda tanto.

- Escute meu filho, sua mãe é saudável. E outra, eu não vou me aposentar tão cedo. Não vou, nem quero.

- Mamãe...

- Se quer tanto que eu pare de trabalhar, arrume uma esposa! – Ela me corta me fazendo suspirar.

- O que eu me casar tem a ver com isso?

- Quero ser avó antes de morrer, sabia?

- Claro que sei, mãe. – Sorri e continuamos a comer.

- Se não quiser uma mulher, pode se casar com um homem e adotar alguns pivetes, netos são netos afinal de contas. – Ela dá uma gargalhada e termina sua refeição.

Por alguma razão, minha mãe é uma apoiadora assídua da comunidade lgbt. Eu já me questionei se ela poderia fazer parte da comunidade, mas ela me deixou claro que só amou e sempre amará apenas uma pessoa nessa vida. Meu pai.

"- Só porque amamos pessoas diferentes, isso não significa que estejamos errados. Não é uma escolha. " – Ela sempre me disse.

- Mamãe, cuidado com a boca na frente das crianças. – Comento enquanto retiro a mesa.

𝑀𝑟. 𝑆𝑎𝑡𝑢𝑟 | 𝐵𝑎𝑟𝑐𝑜𝑑𝑒𝐽𝑒𝑓𝑓 |Onde histórias criam vida. Descubra agora