Capítulo I || Smooth Operator

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Todos os presentes, eu inclusa, estão no mais completo choque.

O que ele disse? Que as audições estão encerradas? Ele me escolheu sem que terminassem os testes?

Não sei o que fazer agora, se devo sair ou ficar. Por fim decido ficar, já que estou presa pelos olhos do homem que vem devagar em minha direção.

Ele se aproxima e sobe ao palco, seus passos ecoando pelo teatro silencioso. Então chega bem perto de mim, fazendo os pêlos do meu corpo todo se eriçarem. Sinto um cheiro picante, agradável e masculino — gengibre, pimenta, incenso e mistério.

Meu ar começa a faltar, parece que vou desfalecer bem aqui.

Sua voz flutua como música aos meus ouvidos.

— Qual é o seu nome? — Ele questiona, como se muito mais se ocultasse nessa simples pergunta.

— Cecilia Harper, senhor. — Consigo responder. É um milagre que não tenha gaguejado, embora minha emissão sonora tenha sido completamente vacilante. Estou tremendo fora de controle.

Ele dá um sorrisinho.

Que olhos lindos ele tem... De perto então... São magníficos, quase inumanos.

— C-e-c-i-l-i-a... — Repete, saboreando as letras. — É um lindo nome. Um nome perfeito para ser dito em alcovas, com um suspiro.

Meu coração está quase saindo pela boca.

— Um nome pode ser uma graça ou uma desgraça, o seu certamente está na primeira categoria. — Ele conclui, me brindando com seu sorriso luminoso.

Tudo nele parece etéreo, como se estivesse e não estivesse aqui, como se fosse e não fosse. Gostaria de tocá-lo, apenas para ver se é de verdade.

Sou interrompida em meu arrebatamento quase sobrenatural quando um dos jurados ousa tomar a palavra.

— Me desculpe mestre Pierce, mas creio que todos nós estamos um pouco confusos, o senhor encerrou as audições?

— Exatamente, Remy, não entendo o motivo da dúvida. Nossa nova contratada já foi escolhida, é a jovem Cecilia ao meu lado.

Ele fala meu nome quase cantando. Sua voz é harmoniosa e penetrante; parece acariciar meu cérebro e reverberar em meus ossos. Não tive oportunidade de ouvi-la quinze anos atrás e agora vejo o quanto perdi.

— Então tenho que dispensar as outras concorrentes? O que devemos dizer a elas?

— Sim, apenas diga que não foram selecionadas, pouco me importa. Essa parte é com você, chame Carol se precisar de ajuda.

À menção de seu nome, a produtora se levanta e se junta ao homem de meia-idade chamado Remy, ele sim com os cabelos faltando no cocoruto e uma barriga protuberante.

— Os demais também podem sair. — O mestre continua, e rapidamente todos se levantam e se retiram do local.

— Voltando a nós dois, Cecilia... — Ok. Admito, ouvir mestre Pierce pronunciar meu nome é minha mais nova fantasia sexual, ele me deixa fraca a cada vez que faz isso. Palavras são excitantes e um nome é a mais íntima delas.

— ...Necessito dizer que tenho grandes expectativas para o novo espetáculo que estou produzindo. Quero que você esteja à altura.

— Sim, senhor. — Por que estou sendo tão patética e monossilábica e só consigo dizer isso?

Ele não parece se incomodar nem um pouco com meu nervosismo. Deve estar acostumado a ver as pessoas descontroladas perto dele.

— E para isso receio que terei que treiná-la pessoalmente.

O MESTRE de marionetes Where stories live. Discover now