Capítulo 01

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O despertador vai tocar a qualquer momento.

Fiquei acordado quase a noite inteira, rolando na cama, olhando para o teto.

Olho para os lençóis jogados do lado da minha cama, algo que tenho o hábito de fazer durante algum momento da noite, como se as cobertas representassem algum tipo de ameaça para o meu sono.

Ou a falta dele.

The Black Eyed Peas toca baixinho nos meus fones de ouvido quando me levanto, desligando o despertador. Aproveito para arrumar os lençóis e as cobertas sem pressa, como faço em todas as manhãs.

Afasto as cortinas da janela, saudando o horizonte colorido em tons de amarelo e rosa pelo nascer do sol.

Observo a cidade lá embaixo, meus olhos deslizando pelas ruas e avenidas visíveis da altura em que me encontro.

Onde você está?

Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação. Nenhum maldito bilhete ou recado.

Viro as costas e caminho em direção ao closet, de repente irritado comigo mesmo por pensar em alguém que, claramente, não me dá a mínima.

Inferno.

Visto um conjunto moletom recém-lavado e, calçando os tênis, pego os meus fones e saio do apartamento.

Com as batidas de uma música agressiva nos ouvidos e o suor escorrendo pelas costas, puxo ar para dentro dos pulmões. O impacto dos pés no concreto esvazia minha mente enquanto foco em levar meu corpo ao limite. Geralmente, quando corro, fico concentrado e grato por ao menos sentir alguma coisa, ainda que essa coisa seja apenas pulmões, braços e pernas ardendo com o esforço.

Não quero sentir nada, não depois desses meses de merda. Só quero a dor física da exaustão. Não a dor da perda.

Corra. Respire. Corra. Respire.

Não pense nela.

Corra. Corra. Corra.

Enquanto reduzo o ritmo, meus pés desaceleram e percorro o último trecho dos oito quilômetros de corrida mais devagar, dando espaço para que os pensamentos febris retornem. A última conversa que tive com minha mãe voltando à minha mente.

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— Ashton, você está sendo ridículo — diz minha mãe através do celular.

Eu encaro o horizonte através da parede de vidro em resposta, observando o sol começar a nascer enquanto recuso-me a discutir com ela.

Quando não digo nada, ela suspira alto.
Eu franzo as sobrancelhas.

— Quero que você tenha uma boa educação, filho. As faculdades da Ivy League receberiam você de braços abertos. Você sempre foi um ótimo aluno.

Reviro meus olhos, tentando encontrar paciência.

— Não preciso de um diploma da maldita Harvard para ser bem sucedido, mãe — retruco em um tom seco.

— Ashton. — Ela diz de forma repreensível.

— Não — respondo enfaticamente.

Estou farto desta conversa. Minha paciência não dura um minuto quando converso com a minha mãe sobre o meu destino após o ensino médio. Sempre fico por um fio e não tenho mais vontade de me esforçar para manter o diálogo.

Eu não quero ir para os Estados Unidos. Ponto.

Mamãe suspira novamente pelo telefone.

VingançaWhere stories live. Discover now