O despertador vai tocar a qualquer momento.
Fiquei acordado quase a noite inteira, rolando na cama, olhando para o teto.
Olho para os lençóis jogados do lado da minha cama, algo que tenho o hábito de fazer durante algum momento da noite, como se as cobertas representassem algum tipo de ameaça para o meu sono.
Ou a falta dele.
The Black Eyed Peas toca baixinho nos meus fones de ouvido quando me levanto, desligando o despertador. Aproveito para arrumar os lençóis e as cobertas sem pressa, como faço em todas as manhãs.
Afasto as cortinas da janela, saudando o horizonte colorido em tons de amarelo e rosa pelo nascer do sol.
Observo a cidade lá embaixo, meus olhos deslizando pelas ruas e avenidas visíveis da altura em que me encontro.
Onde você está?
Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação. Nenhum maldito bilhete ou recado.
Viro as costas e caminho em direção ao closet, de repente irritado comigo mesmo por pensar em alguém que, claramente, não me dá a mínima.
Inferno.
Visto um conjunto moletom recém-lavado e, calçando os tênis, pego os meus fones e saio do apartamento.
Com as batidas de uma música agressiva nos ouvidos e o suor escorrendo pelas costas, puxo ar para dentro dos pulmões. O impacto dos pés no concreto esvazia minha mente enquanto foco em levar meu corpo ao limite. Geralmente, quando corro, fico concentrado e grato por ao menos sentir alguma coisa, ainda que essa coisa seja apenas pulmões, braços e pernas ardendo com o esforço.
Não quero sentir nada, não depois desses meses de merda. Só quero a dor física da exaustão. Não a dor da perda.
Corra. Respire. Corra. Respire.
Não pense nela.
Corra. Corra. Corra.
Enquanto reduzo o ritmo, meus pés desaceleram e percorro o último trecho dos oito quilômetros de corrida mais devagar, dando espaço para que os pensamentos febris retornem. A última conversa que tive com minha mãe voltando à minha mente.
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— Ashton, você está sendo ridículo — diz minha mãe através do celular.
Eu encaro o horizonte através da parede de vidro em resposta, observando o sol começar a nascer enquanto recuso-me a discutir com ela.
Quando não digo nada, ela suspira alto.
Eu franzo as sobrancelhas.— Quero que você tenha uma boa educação, filho. As faculdades da Ivy League receberiam você de braços abertos. Você sempre foi um ótimo aluno.
Reviro meus olhos, tentando encontrar paciência.
— Não preciso de um diploma da maldita Harvard para ser bem sucedido, mãe — retruco em um tom seco.
— Ashton. — Ela diz de forma repreensível.
— Não — respondo enfaticamente.
Estou farto desta conversa. Minha paciência não dura um minuto quando converso com a minha mãe sobre o meu destino após o ensino médio. Sempre fico por um fio e não tenho mais vontade de me esforçar para manter o diálogo.
Eu não quero ir para os Estados Unidos. Ponto.
Mamãe suspira novamente pelo telefone.
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Vingança
ChickLitA SHUI A morte caminha ao meu lado, mas o ceifeiro não é páreo para mim. Estou presa em um mundo cheio de monstros vestidos de homens, e que não são o que parecem. Mas não vão me segurar para sempre. Já não reconheço a pessoa em que me tornei, e est...