Combates finais

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Um capítulo curtinho para vocês saberem que eu não sumi. 



O que foi que eu fiz? Eu estraguei tudo... há um mês que não vejo Andrea, um mês sem aqueles olhos lindos me encarando e aquele sorriso encantador.

"Eu vejo muito de você em mim, Andrea." "Todos querem ser como nós." E foi assim que ela se foi, após uma conversa estúpida no táxi.

Do meu escritório, vejo a nova Emily... ou melhor, a nova Andrea... Ouço o telefone tocar, e Emily diz que não há indicação alguma para dar.

- Emily? – A chamo.

- Sim, Miranda?

- Quem era ao telefone? - Ela me encara com uma mistura de surpresa e medo.

- Bom... era do The New York Mirror... eles... – calcula as palavras

- Isso, demore mesmo, temos o dia todo. –

Eles pediram uma indicação para Andrea. É claro que não dei indicação alguma.

- Me passe o telefone de lá.

- Eu posso enviar um e-mail falando da irresponsabilidade dela em Paris.

- Me passe o telefone de lá, Emily. Isso é tudo.

Andrea tem um futuro maravilhoso pela frente, ela é extremamente competente. Não irei deixá-la sem indicação... não a minha Andrea. Ela foi a minha maior decepção, mas não nego que me orgulho da coragem que ela teve. Envio o fax para o redator-chefe do Mirror e foco nos compromissos do dia, por algumas horas Andrea não é o foco dos meus pensamentos.

No horário que estou indo para casa, o motorista se atrasa para me pegar, e é nesse momento que a vejo. Linda. Com roupas menos elaboradas, mas linda. Penso que ela irá virar as costas para mim e ir embora, talvez ela me odeie profundamente... Mas ela acena para mim e sorri. Fico sem chão. Ela não me odeia... talvez ainda haja esperança para nós duas. Não consigo conter o sorriso ao entrar no carro.

Talvez eu ainda possa conquistá-la.

Alguns meses depois.

- Miranda, já falamos sobre isso. Você não é a editora-chefe do universo. As coisas fora da revista não acontecem no seu tempo. – Ela me olha com aquele olhar irritante, carinhoso e um pouquinho severo.

- Eu sei, Helena. Mas há meses estamos aqui nessas sessões intermináveis e eu ainda não me sinto pronta para seguir em frente.

- E o que é "seguir em frente" para você?

- Não sei... Há duas opções: ter coragem de procurar Andrea e dizer o que sinto ou esquecê-la de vez. Meu lado racional me diz para deixar Andrea no passado, mas meu coração dói só de pensar nisso. O que eu faço?

- Você que precisa decidir o que é melhor para você, querida.

- E eu te pago para quê? Pois nesses meses todos você só fica aí me escutando e fazendo perguntas idiotas. Me diga o que fazer!

- Você não quer que eu te diga o que fazer, Miranda.

- E como é que você pode saber o que eu quero? Me diga então o que é que eu quero!

- Você quer que eu tome uma decisão para você, para que você não precise fazer uma escolha difícil e lidar com os resultados dela.

Fico em silêncio e olho para a janela. Do vigésimo quinto andar, consigo ter uma vista privilegiada do Central Park. Ela está certa. Como eu odeio essa mulher... ainda assim venho nesse mesmo consultório duas vezes por semana.

- Isso é tudo. – Me levanto pegando meu casaco e minha bolsa. Ela se levanta e me acompanha até a porta, um sorriso gentil em seus lábios.

- Até a próxima sessão, Miranda.

Não respondo. Essa insistência dela de se despedir toda vez que encerro a sessão me lembra muito uma certa morena. Tenho me esforçado para melhorar como ser humano, por mim, pelas minhas filhas e, bem, por Andrea. Quando entro no carro, peço ao motorista que me leve até o Mirror. Irei falar com a minha ex-assistente... minha Andrea.

Os olhos da guerraWhere stories live. Discover now