Tipo Deadpool.

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NYC, Brooklin.
2024.01.10

Em câmera lenta, o mundo exterior desenrolava-se diante dos meus olhos, enquanto as luvas escuras demarcavam meu rosto com rigidez. O sangue fluía como água, a saliva escorria entre os dentes, e subitamente, a realidade parecia distante. Meu corpo titubeava, desobedecendo meus próprios comandos, enquanto a surra me conduzia à beira da morte. Cada segundo se estendia, como se durasse uma eternidade. Subitamente, toda a minha força dissipou-se, e a frustração ecoava em repetições desesperadas.

'Filho da puta, acorda para a vida!'
A voz do treinador ecoou.

Outro soco. Vi-me girando lentamente, encarando meu rosto esmagado contra o tatame. Era real. Onde eu estava? O que havia acontecido comigo? Não era para ser assim. Esta luta é minha. Não posso permitir-me morrer agora. Levanta, maldito! Enquanto meus pensamentos insistiam para que eu me levantasse, meu corpo recusava em obedecer. Sentia o coração pulsar descontroladamente, quase como se estivesse à beira de uma parada cardíaca. Um grito de dor escapou; com esforço, consegui vislumbrar as pessoas ao meu redor através das grades imponentes, saltando e vociferando.

De repente, minha alma se reintegrou à estrutura corporal. O desgraçado que há momentos me desferia golpes brutais agora se encontrava prostrado ao chão. Uma onda de raiva inundava meu cérebro, retomando seus domínios. A plateia clamava meu nome em câmera lenta, enquanto a arquibancada vibrava com intensidade. Meus braços agiam sem controle, e em um movimento irrefreável, esmaguei novamente aquele rosto familiar; a vitória era inquestionavelmente minha.

"5... 4... 3... 2... 1! ACABOU!"

Sem controle.
Dominância.
Raiva.

"SEGUREM ELE."

Um puxão grotesco me afastou do homem, que tossia sangue e mal podia ver através de seus olhos inchados. Um cuspe de ódio e humilhação escapou de minha boca.

Desgraçado.

— Esse é meu garoto! — O treinador, um velho entusiasmado, me abraçava com fervor. Eu compreendia sua alegria; afinal, acabara de ganhar 30 mil em cima de minhas costas.

O cinturão foi colocado ao redor da minha cintura.

'KIM TAEHYUNG! KIM TAEHYUNG! KIM TAEHYUNG!'

[. . .]

O crepúsculo fazia sua entrada triunfal no céu, enquanto eu, Kim Taehyung, explorava as ruas em uma jornada noturna de volta de um bar. Estávamos lá para celebrar uma vitória épica, e mesmo com algumas marcas no meu rosto, não abriria mão de uns bons drinks por nada nesse mundo. A bebida, de uma forma ou de outra, tornou-se meu porto seguro, embora eu admitisse que isso não fosse algo para se orgulhar. Na minha adolescência, lidei com problemas relacionados ao meu pai, ou melhor, genitor; um alcoólatra que, desde a minha infância, nunca soube o que é estar sóbrio. Não estou seguindo os passos desse sujeito reprovável, muito pelo contrário.

A trajetória da minha vida tomou um rumo extremamente desolador ao término da minha adolescência. Contrariando inteiramente meus planos, essa realidade jamais foi almejada por mim. Certa madrugada, ao escutar gritos provenientes do quarto dos meus pais – um episódio não inédito –, presenciei minha mãe sendo brutalmente agredida, enquanto meu pai a chutava sem demonstrar qualquer remorso. Foi nesse instante que decidi encerrar aquele ciclo; foi nesse momento em que descobri a extensão da minha capacidade e experimentei uma raiva descomunal. Meu corpo, de forma repentina, deixou de obedecer aos meus comandos, sendo controlado por uma força interior até então desconhecida.

Jamais busquei orgulho em minhas ações. Podem me julgar à vontade, mas, aos meus olhos, salvei minha mãe. Hoje, infelizmente, ela não está mais entre nós, e cada passo que dou é impulsionado pela esperança de um dia alcançar meu próprio perdão. Me atormenta a culpa por não ter proporcionado uma vida digna a ela, por ter ouvido seus clamores por misericórdia e, enquanto um covarde de 17 anos, ter-me escondido em meu quarto. Contudo, lamentar o passado tornou-se uma página virada. Estou determinado a alcançar novas alturas. Tudo o que nos foi negado será conquistado por mim. Essa é a minha motivação diária, em homenagem a ela. Minha mãe sempre aspirou um futuro digno para mim, e mesmo que eu trace esse caminho por linhas tortuosas, o objetivo permanece inalterado.

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⏰ Last updated: Jan 07 ⏰

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Subúrbio (Kim Taehyung)Where stories live. Discover now