Capítulo 1

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Sabe esse negócio de amor? Acho que me jogaram praga. Desde meus quatorze anos que eu me envolvo com pessoas que nunca dá certo, a maioria porque eu mesma não queria. Mas teve um, que não foi porque eu não queria, foi porque a gente realmente não conseguia ficar junto.

Perdão, nem me apresentei, sou a Ellen, uma adolescente que é completamente desiludida, mas que adora clichês românticos. Estou no terceiro ano do ensino médio, e hoje é uma das festas juninas da nossa turma.

- Ei Ellen – Lina, uma das minhas melhores amigas desde a sétima série, me entrega um copo – Aqui, a bebida que você tinha pedido.

Agradeço e bebo um gole, não faço a mínima ideia do que seja isso, mas sei que tem álcool, e sei que é gostoso.

Essa festa está ótima, comparada com as outras que a minha escola faz, tá tendo um show de algum cantor que não é tão grande mas também não é tão pequeno (confesso que esqueci o nome dele) tocando forró, minha turma do terceirão inteira e mais alguns adolescentes  se divertindo e dançando no meio do salão, alguns confetes espalhados e a minha rodinha de amigos todos próximos a mim.

Danço normalmente no meio da minha rodinha de amigos, sem me importar com muita coisa, bebendo moderadamente. Sinto uma mão na minha cintura, me viro rapidamente e vejo um homem, de cabelos escuros e cacheados, pele branca, usando uma camiseta preta e short jeans. Ele não é feio, só...é estranho.

- E aí? – Ele me encara com um sorrisinho no rosto.

Dou um sorriso forçado, que claramente dá pra ver que eu não queria prolongar essa conversa.

Ele parece entender isso. Me viro e ando para mais perto dos meus amigos, Cecília me encara e levanta o polegar, murmurando algo como "muito bem", depois, amarra os cabelos médios levemente ondulados em um coque mal feito e dá um gole em uma garrafa de cerveja.

Cecília até hoje nunca me apoiou ficar com nenhum dos caras que eu já tive alguma coisa, justamente pelo motivo mais besta da face da terra. Ela quer que eu encontre um amor de infância que ela era a maior fã de nós dois juntos. Ela nunca esqueceu disso, e nem me deixa esquecer.

- Eu já disse que só apoio você com o Aquiles.

Eu reviro os olhos.

- E eu já disse que a coisa menos improvável possível é eu achar ele hoje em dia, Cecília. Faz muito tempo  que ele sumiu.

Ela solta um estalo com a língua e um suspiro de frustração.

- Essa outra nunca esquece, hein? – Lina diz, fechando o cooler ao nosso lado e se sentando em cima dele.

- Como que eu esqueço?! – Cecília faz gestos exagerados com as mãos e cruza os braços.

- Para, menina, eu já fiquei com tanta gente depois dele. E você nunca consegue me apoiar com nenhum. É só Aquiles, Aquiles, Aquiles. Ah, pela amor de Deus.

Ela pisa o pé forte no chão, como uma criança birrenta. Típico da Cecília.

- Mas vocês ainda vão casar, anota o que eu tô dizendo!

- Tá bom, tá bom, dá mais gole nisso daí vai – Eu digo, empurrando a garrafa pra ela.

Passou alguns momentos de festa, aconteceram várias coisas até agora. Cecília dançou forró com Violeta (melhor amiga dela, que eu suspeito um pouco que elas se peguem as vezes), Lina deu fora em pelo menos uns dois homens só agora, Violeta pediu o instagram de três meninos, e eu...eu bebi um pouco demais. Ando até a nossa mesa e quase caio, Lina me segura.

- Você já bebeu um pouco de mais, Ellen – Lina diz

- Que nada – Eu digo, minha voz está embargada, minha visão levemente turva, minha cabeça tonta. Eu bebo bastante, quer dizer, moderadamente, óbvio. Mas acho que hoje eu fugi um pouco da linha.

- Eu disse que ela ia beber muito hoje – Cecília diz.

- Eita, Ellen, oh bagaceira – Violeta ri.

Ouço algumas risadas e barulhos de copos e garrafas de vidro e sinto cheiro de bebida antes de apagar.

Acordo, deitada em cima de algumas cadeiras de plástico, com a cabeça deitada no colo de alguém. Minha visão não está a melhor, mas consigo enxergar levemente, meus pés já longe dos saltos, meu vestido preto meio sujo de bebida e olho pra cima e vejo um rosto...familiar. Um homem branco, de cabelos lisos castanhos, camiseta branca, que me olhava com um olhar que eu já conheci tão bem. Sua boca se curva em um leve sorriso, na qual eu já fui confortada por ele tantas vezes. Seus dedos afastam meu cabelo do rosto e acariciam de leve minha pele, um toque que eu já amei tanto. E minha visão se estabelece e eu lembro rapidamente. Aquiles, meu primeiro amor, e o primeiro que lutou até o fim por mim.

Nossos Finais (nem sempre) FelizesOnde histórias criam vida. Descubra agora