O Deus moreno escreveu em uma letra bem desenhada:
Allah sabe que eu tentei fugir de você, mas não sou forte o bastante.
Maktub.
Convivi com um árabe por um longo tempo, sei que a tradução de maktub é "estava escrito", mas o restante do recado confundiu-me demais.
Estas poucas palavras trouxeram uma enxurrada de perguntas sem respostas:
Por que fugir de mim se ele nem me conhece? E por que me observar tanto tempo com tantas outras mulheres na galeria?
Por que ele resolveu comer com os olhos e atormentar com olhares furtivos, justamente uma mulher como eu?
Não que eu seja feia, de forma alguma, sei que sou bem comestível, sou daquele tipo que com uma cinta liga e uma lingerie adequada, esquenta bastante a temperatura ambiente.
Porém, por mais que eu atraia o público masculino, a grande verdade é que eu estou quebrada, esfacelada por dentro, será que ele não percebe que eu não serei a "vagina disponível" em sua lista de conquistas?
Eu simplesmente não entendo.
Constato que ele não é só um papiro em sânscrito, mas também escrito em braile.
Só dois dias de trégua e aqui está ele novamente, observando-me como um felino espreita a sua presa, sentado na cafeteria da Galeria.
Vejo-o pelo canto dos olhos quando caminho lentamente entre os quadros enfileirados.
É um homem muito bonito. Pra falar a verdade, bonito é um puta eufemismo de minha parte.
Ele é tão bonito que chega a ser um acinte, é indecoroso ser gostoso daquela forma, ofensivamente sexy, sem aquela beleza estereotipada, perfeita e irritante do Ken, da Barbie. Todo plastificado em suas calças apertadinhas, suas roupas perfeitinhas, cabelinho louro esticado, rostinho meigo, o resultado dessa equação pra mim é igual a zero tesão.
Ele é aquele tipo de cara que exala virilidade pelos poros, o rosto esculpido por uma estrutura óssea dura, traços fortes, marcantes, definitivamente é o cara mais sensual que eu já vi em toda minha vida.
O corpo dele, como um letreiro em neon, pisca: SEXO, SEXO,SEXO.
Feito para o sexo, de um modo assustador e sombrio.
Sutileza é algo que ele não aprendeu com a mamãe, eu preciso informá-lo que encarar é feio, falta de educação.
A constatação de ser observada dessa forma, aliada aos meus pensamentos dele sem roupa, é suficiente para me deixar uma pilha de nervos.
Ele aparenta ter uns trinta e poucos anos, queixo quadrado, a barba por fazer, daquele modo perfeito que te arranha levemente o pescoço quando te pega de jeito, seus lábios são carnudos, feitos para morder e o nariz alongado lhe dão um ar genuinamente masculino e provocante.
Não sei se é a forma dele se movimentar que me causa uma sensação de déjà vu.
Espera aí, convenhamos, se eu tivesse o visto anteriormente, certamente me lembraria, ele não é o tipo de cara que se vê todo dia ao sair pra comprar pão, que te traz uma garrafa de leite na porta de casa.
É uma figura diferente.
Apesar das roupas informais: calça jeans preta, camisa social branca, blazer preto, toda a sua forma de se portar me faz presumir que provavelmente ele é um Executivo, um CEO, seus sapatos de couro italiano o denunciam, são nitidamente caros.
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OS VÉUS DE ANTÔNIA
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CAPÍTULO 1
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