CAPÍTULO TRÊS

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VALLEN


Eu não sugeri um ensaio com tema natalino para ver Jasper só de cueca. Lógico que não. Foi apenas uma maneira de dar um impulso em sua carreira e para acabar de uma vez com aquele clima estranho entre a gente — apenas por isso.

Mas claro que vê-lo ali na minha frente com toda aquele corpo de fora era uma visão, no mínimo, enlouquecedora. A cueca vermelha está tão justa que consigo visualizar os contornos daquilo que está guardado ali, e, meu Deus, como é possível que…

Foco, Vallen.

Afasto a câmera do rosto e o vejo em tamanho real. O gorro de papai-noel está parcialmente caído para o lado e me aproximo para ajeitá-lo. Sinto o calor emanando de seus poros, assim como seu perfume que tanto amo.

— O que houve? — pergunta ele.

— Seu gorro está torto. E além disso, precisamos fazer uma pausa.

— Olha ele, todo profissional — diz, provocativo e, por um momento, esqueço daquela discussão boba e de como ela me é estranha. Será que… Não, para Vallen. Não se deixe ter esperança.

De repente, volto para o último ano do ensino fundamental. Exatamente na noite da festa de formatura. Estamos de volta à sala que dividimos àquele ano. Eu sentado na mesa dos professores e ele em pé à minha frente. Tão perto quanto agora.

Tínhamos 15 anos e ele estava tão lindo em um terno preto de três peças. A gravata estava torta, como o gorro, e minha mão se moveu inconscientemente para ajeitá-la. Meu olhar foi capturado pelo dele e minha boca secou, eu só queria me aproximar mais, e mais, e mais e mais, até que estivéssemos tão juntos que não seria possível separar quem era quem.

Mas eu me afastei temendo que aquilo estragasse a amizade que tínhamos. Eu não resistiria a dor que viria a sentir caso ele saísse da minha vida. E foi por isso que eu não disse o quanto eu o amava quando ele se declarou, mesmo sabendo que parti o coração dele em pedaços tão pequenos que não seria possível consertá-lo. Doeu em mim também. Mas era o que deveria ter sido feito.

E agora, é impossível calar o e se? que paira sobre minha cabeça. Ainda estaríamos juntos?

— Vallen? — Sua voz me trás de volta e noto que estou parado muito perto dele. Seria tão fácil beijá-lo agora, mas…

— Oi!

Dou um passo para trás, aumentando a distância entre nossos corpos. Não consigo me controlar estando tão perto.

— Você ficou calado de repente.

— Só estava pensando — digo, dando de ombros, ajeitando o gorro na cabeça dele.

— Sobre o quê?

Sobre como fui um idiota em perder a única chance de ficarmos juntos como deveríamos por um medo idiota.

— Nada muito importante — é o que acabo dizendo.

•••

Acordo ainda me sentindo cansado por causa do ensaio que me deixou acordado por mais da metade da madrugada.

A luz fantasmagórica preenche o quarto parcialmente e fico olhando para a sombra que se forma pelo tremeluzir da cortina. É cedo ainda, confirmo olhando para o relógio digital sobre o móvel de cabeceira. Fico pensando sobre nada e tudo ao mesmo tempo, sobre como é bom estar em Nova York e não ter mais nenhum contato com minha família de sangue.

MEU CORAÇÃO SUSSURRA SEU NOME - [CONTO GAY] On viuen les histories. Descobreix ara