Oh Arcanjo Aziraphale, livrai-nos de seus pecados.

— Aziraphale, como assim? — Crowley não parava de focar o olhar no loiro, se segurava para não soltar suas lágrimas, seus escudos — O que foi essa noite? o que foi esse bilhete? — ele coloca a mão no bolso da calça retirando o papel envelhecido com a letra de Aziraphale mostrando para o mesmo. Seu tom de voz questiona tudo ao seu redor.

— Eu estava com saudade, eu queria uma noite com você, pensar todo dia em você e você não estar lá, é torturante, Crowley — O anjo caído sabia muito bem como era essa dor descrita, mas não era muito de se abrir. Novamente a falta de comunicação, o maior calcanhar de Aquiles. — Eu quero você comigo, eu preciso de você, eu fiz de tudo para o mundo mudar, mudar para nós, Crowley… —  Aziraphale estava com um enorme nó na garganta, suas mãos não paravam quietas se apertando na intenção de se acalmar,  as palavras não soam novidade para o demônio, Crowley sabia que seu amado estava nervoso, mas os seus sentimentos já foram diversas vezes deixados para lado por causa de seu anjo, não, não desta vez, estava puto o suficiente para escutar o que seu anjo tem a dizer, não sabia mais o que o “nós” poderia significar, ou se podia confiar cegamente em seu anjo. Que o diabo seja seu próprio advogado. Aziraphale aproximava devagar até o ruivo tentando pegar em sua mão — Vem comigo, por favor, querido, eu… eu te…

— Não diga que me ama — Crowley cortou aziraphale sem tanta paciência, levantou de leve os braços não deixando o anjo lhe tocar, estava sem saco, era a pior notícia que ele podia receber depois de uma noite maravilhosa — Você voltou pra mim para limpar seus sapatos sujos, porque sabe que eu sempre estou aqui para ti, sempre como seu cachorrinho, sabe que eu iria dos céus até o inferno para lhe satisfazer, eu faço tudo isso para você ainda escolher o céu do que a mim, não, você não me ama, anjo, você ama o que eu fui.

Oh pobre solitário anjo caído, o que tu fizestes para sofrer tanto na mão de um grande Querubim, apenas o amor consegue explicar a tamanha dor do coração ardente, destinados a sofrer das maiores torturas que um imortal poderia sentir. E o Querubim, voou tanto que como ícaro, conseguistes cair em sua própria armadilha, que Deus tenha piedade das almas boas e sofridas.

Crowley olhou de cima a baixo o anjo, dali sabia que nunca mais conseguiria confiar nele, observou seus olhos marejados com uma grande vontade de esquecer tudo e ir até os braços de seu anjo, mas não, aquele não era mais “seu” anjo. Colocou os óculos novamente enquanto caminhava para a saída da biblioteca, com passos largos e objetivos.

— Querido, espere! — após o sino da porta tocar quando o demônio saiu, Aziraphale foi correndo entre lágrimas e soluços atrás do ruivo, desesperado, sem esperança e sozinho, então foi assim que Crowley se sentiu no evento passado, que ironia!

Quando o sete-pele se sentou no banco do motorista da Bentley fechando a porta da mesma, olhou para o lado vendo o anjo correr até ele. A neve não estava densa, o natal é próximo, um ótimo presente de natal para Crowley.

Aziraphale se apoiou na janela da porta do carro olhando para seu amado com o rosto vermelho de chorar, o demônio se sentia culpado em vê-lo dessa maneira e não poder ajudar, mas estava cansado de tanto peso em suas costas.

— Nós seremos felizes um para o outro, nosso lugar não é aqui na terra, sempre foi lá, por favor, Crowley, você tem que vir comigo, eu não suporto mais a solidão, eu não suporto aqueles anjos — entre vozes de tristeza o anjo pronuncia as palavras sem roteiro, de forma mais natural possível, sabia que seu demônio não estava bem em relação de se sentir usado, como se toda culpa tivesse sido jogada para cima do arcanjo, que rezava para aquele momento acabar e poder ser feliz com seu e único Crowley, diferente de Crowley que mal conseguia olhar para o anjo, estava muito devastado pelo sentimento desgracado descrito por ele mesmo trechos atrás.

Em uma ação desesperada, Aziraphale cansado de ver Crowley com o olhar fixado ao volante da Bentley, segurou o rosto do demônio com uma certa firmeza puxando para encontrar os lábios de Azi em um selar sem cerimônias, as lágrimas de ambos se misturam de forma tão orgânica e dolorosa para ambos.

O anjo se afasta levemente do rosto de Crowley, os olhares de ambos se encontram, a maravilhosa constelação de tom azulado e a grande predadora dos olhos amarelados vivamente, será a última vez que teriam a tamanha necessidade da maravilhosa e quase eterna troca de olhares entre os dois, tinha tudo para ser um momento incrível do grande casal inefável.

Crowley suspira fundo virando seu rosto para a grande estrada de Soho coberta por uma leve camada de neve, não sabia seu próximo destino, mas sabe que dificilmente faria uma na grandiosa livraria. O demônio liga a Bentley.

— Feliz Natal, Aziraphale. — de forma sem tanta delicadeza, o demônio da partida da Bentley deixando seu anjo, em uma noite escura próxima do maravilhoso natal, se sentia um monstro por isso, mas sabia que o anjo nunca o escolheria, a racionalidade sobrepõe seu grande coração.

Aziraphale observava a Bentley ir embora mais uma vez, ou será a última vez? O anjo após um breve momento de realização paralisado tentando organizar tudo que aconteceu em sua cabeça, Sr Fell colocou as duas mãos em seu rosto, estavam tremendo tanto, nunca lhe falou tamanhas verdades em um dia só.

Oh pobre anjo, a porta dos céus lhe espera novamente, mesmo não sendo o grande paraíso desejado.

Fim.

Déjà Vu - Fanfic Aziracrow Onde histórias criam vida. Descubra agora