~. Capítulo 6 .~

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Embora tenha sido refém de um sono inquieto, não posso negar que consegui descansar o esqueleto. Dos males os menores, certo? Errado!

Antes mesmo de abrir os olhos, identifiquei que meu corpo estava dolorido, contudo pensei que as dores seriam muito maiores. Apesar dos pesares, eu estava bem e iria sobreviver.

— Bom dia — Iury me cumprimentou ao entrar no dormitório, aparentemente surpreso por me encontrar acordado.

— Bom dia — respondi.

— Se sente melhor? — ele me fitou com apreensão e curiosidade.

— Um pouco — falei a verdade.

— Quer que eu te leve ao hospital?

— Não — falei de imediato. — Não precisa, já me sinto melhor.

— Tem certeza? — o moleque estava aflito.

— Tenho, sim.

— E o tornozelo? — questionou o dono da casa, com os olhos fixos em minhas pernas. — Inchado não está mais, bom sinal.

Mexi o pé para frente e para trás, para um lado e para o outro. Senti dor, todavia a intensidade era muito menor se comparada ao dia anterior. Ainda bem!

— Dói um pouco, mas menos do que ontem.

— O braço?

Esse, sim, estava dolorido. Infelizmente, não consegui esconder a verdade do meu melhor amigo.

— Hum — fiz careta e, automaticamente, coloquei a mão no local machucado.

— Tá vendo porquê tem que ir ao médico? — Iury me repreendeu com o olhar. — Talvez esteja quebrado, Lucas.

— Se não melhorar até amanhã, eu vou, tá bom? — suspirei.

— Combinamos isso ontem, mas vou respeitar sua decisão. Quer levantar? Ir ao banheiro? Tomar café?

— Se você não se importar, quero ficar mais um pouco aqui. Tenho muita coisa pra pensar.

— Fique o quanto você desejar, a casa é sua. Eu vou pro colégio, viu?

— Pelo amor de Deus, não comenta com ninguém, absolutamente ninguém, que eu estou aqui na sua casa — supliquei desesperado.

— Imaginei que você ia me pedir isso.

— Por favor, se o Marcelo perguntar alguma coisa, fala que você não sabe de nada.

— Tudo bem, você é que manda — meu amigo concordou, ainda parado próximo ao corredor. — Se precisar de alguma coisa, é só chamar minha vó.

— Muito, mas muito obrigado mesmo — senti vontade de chorar.

— Disponha. Mais tarde eu te passo as matérias, beleza?

— Não vai adiantar muita coisa, meus materiais estão em casa — ponderei. — Quer dizer, na casa dos meus pais.

— Não fale assim — ele ficou comovido. — Você vai voltar pra lá, você vai ver.

— Duvido — não segurei mais as lágrimas.

— Para Deus, nada é impossível — Iury murchou os ombros.

— Mas pro meu pai é.

Ele me fitou com a fisionomia séria. O que meu melhor amigo estaria pensando naquele momento?

— Vou lá, então — comunicou o adolescente, por fim.

— Boa aula.

— Descansa mais um pouco, vai te fazer bem.

Marcas do Passado: Amargas Lembranças - Em DegustaçãoWhere stories live. Discover now