6. "I was a good person, you know?"

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- sexto capítulo, 1982 -

"eu era uma boa pessoa, você sabe?"

DOIS MESES E QUALQUER COISA HAVIAM PASSADO desde que Yasmin descobriu a notícia que alterou os seus dias — Lilian e James Potter estavam mortos.

Era difícil de lidar com a notícia, toda ela. Não só a notícia da morte do casal, mas também que Peter Pettigrew, o garotinho alegre e gordinho que ela via desfilar pelos corredores de Hogwarts junto com os outros restantes Marotos, tinha traído James e feito com que Sirius acabasse em Azkaban e Harry sem nenhuma família.

A Castle se questionava se Sirius tinha alguma ideia do motivo de tal traição.

Teria sido por medo? Por achar que sozinho não iria conseguir sobreviver e que precisava do apoio dos comensais da morte e de Voldemort? Talvez tenha sido por não se sentir valorizado onde estava, por almejar ser e ter mais.

A mente da corvina se afastou, indo de encontro a Will e á traição que ela mesma sofreu.

Will, assim como Peter, também tinha traído aqueles que o amavam, os deixando de lado e preferindo escolher o lado que parecia "mais poderoso e fácil", e não o mais correto.

Uma imagem dos cabelos castanhos de Will passou pela sua mente, só que, ao invés de causar a típica sensação de saudade e tristeza que causava habitualmente, sentiu apenas repulsa por aquele que, meses antes, teria provocado borboletas na barriga da mesma.

Outra coisa que fazia confusão á herdeira dos Castle era ter que assimilar a informação que Sirius era, assim como ela, inocente.

Afinal, ela não era a única dentro das quatro paredes daquela cela a pagar por um crime que não cometeu, e não sabia se isso a entristecia ou se a deixava com raiva.

Raiva do ministério que não aplicou julgamento nem a ela nem a Sirius, e os deixou para apodrecer em Azkaban para toda a vida. Poderiam ter usado veritaserum, ficariam assegurados que nenhum deles mentiria e talvez, talvez, justiça fosse feita.

— O que você está pensando, Castle? Ouço as engrenagens do seu cérebro daqui.

O olhar de Yasmin se encontrou com o de Sirius, vendo um ligeiro sorriso na sua expressão cansada.

A barba, que, quando o jovem chegou a Azkaban, era rasa, já tinha alguns centímetros de comprimento, deixando-o com um ar mais maduro e adulto. Os olhos dele tinham círculos negros por baixo, fazendo o azul tempestuoso dos seus olhos parecer ainda mais uma tempestade.

— Em como gostaria de ter uma cela só para mim, Black. — brincou. Desde que Yasmin descobriu que Sirius era inocente que deixou algum do seu ódio pelo homem para trás, tentando se livrar dele.

— Muito engraçada, realmente. — revirou os olhos.

— Você já pensou em quanto tempo a gente vai passar apenas na companhia um do outro? — inquiriu. — Tipo, até o primeiro de nós morrer. Vamos estar juntos até um de nós morrer, sempre lado a lado.

Sirius riu levemente. — Aposto que você morre primeiro.

— Você deseja.

O silêncio de abateu entre eles, e, enquanto Yasmin baixava seu olhar para as suas mãos entrelaçadas ao seu colo, o olhar de Sirius se deixou perder nas feições dela, ganhando coragem para lhe perguntar algo que guardava dentro de si há muito tempo.

— O que aconteceu com seus irmãos? — perguntou ele enquanto passava as mãos nervosas pelo cabelo sob o olhar dela. — O que aconteceu verdadeiramente?

Sirius já não acreditava mais que a garota com quem convivia diariamente pelos últimos meses pudesse ser aquilo que ouvira - a assassina impiedosa mas covarde que entregou os seus irmãos a Voldemort. Não conseguia acreditar quando via a maneira com que os olhos dela ficavam tristes pela lembrança de tempos fora daquela cela; quando sentia a pena e a raiva que ela sentia pela situação toda de Sirius e de Peter; ela sentia essa raiva quase como se a situação fosse dela. E isso o fez se questionar se seria ela mesmo culpada, ou se seria, de alguma trágica e até cómica maneira, inocente, como ele.

— O-o quê? — ela pestanejou confusa. — Você quer saber o que aconteceu com L-Lee e Miranda? Como... como assim?

— Eu só... eu só quero saber, tá bom? Por favor. — murmurou.

Ela acenou levemente, os seus olhos perdidos nk chão de pedra por baixo de si.

— Eu era uma boa pessoa, você sabe? — o olhar de Yasmin escureceu. — Eu me esforçava em tudo e tentava ser uma boa aluna e uma boa filha de quem mamãe e papai se pudessem orgulhar. Sempre fui uma boa pessoa. Lee e Miranda eram igual, apesar de Miranda ser mais calada e Lee gostar de dar nas vistas, mas a gente fazia funcionar tudo.

» Talvez tenha sido por ter sido uma boa pessoa tanto tempo que acabei aqui. — ela tremeu. Os seus pensamentos estavam a correr a mil quilómetros por hora, sem parar. — Quando conheci Will, eu senti que podia, finalmente, relaxar. Ele era da Sonserina e era sangue-puro como meus pais gostariam, apesar de eu não ligar, e eu até gostava dele. Meus pais estariam orgulhosos logo de imediato só pelo status de sangue dele e eu os poderia orgulhar por trazer a casa um bom namorado.

Momentos com o garoto passaram pela memória de Yasmin; as risadas que partilharam e as saídas à noite pelos corredores de Hogwarts quando todos já deveriam estar dormindo.

— Com o tempo acho que comecei a gostar mais dele, e, de repente, já não estava só namorando com ele pelo orgulho dos meus pais, eu estava apaixonada. — ela sorriu. — Eu sempre soube dos ideais supremacistas de Will, mas isso nunca interferiu com nossa relação. Ele não se dava com Malfoy, Rosier ou Crouch, e não expressava publicamente suas opiniões apesar de eu as conhecer; eu tinha esperança de o poder mudar, com o tempo. Eu era uma boa pessoa ao ponto de ver o bem nele, quando não o devia ter feito.

» É evidente que eu confiava nele, e a confiança que eu tinha nele se expandiu para que Lee e Miranda também o fizessem, apesar de Lee ser mais desconfiado. — a Castle riu por entre lágrimas que agora encharcavam o seu rosto, e Sirius se viu completamente envolvido na história. — Quando nós os três não aceitámos ser comensais da morte, como mamãe e papai eram, e servir Voldemort, fomos expulsos de casa e tínhamos, imediatamente, meio que um alvo nas costas. Precisávamos de proteção e de alguém que fosse o nosso fiel do segredo, e confiámos em Will, na pessoa errada.

O olhar de Sirius brilhou e Yasmin viu nas expressões dele que ele mesmo estava a associar a história dela com a dos Potter e Pettigrew.

— Não o devíamos ter feito, e o mais certo ocorreu: Will entregou nossa localização a Voldemort. Quando ambos chegaram a mansão no dia de Halloween, eu mandei Lee e Miranda fugir, achando que conseguia enfrentar Voldemort. Não me lembro de muito mais, sofri com a maldição Cruciatus nessa noite, mas quando acordei já Lee e Miranda estavam mortos e eu iria ser escoltada até Azkaban. Will depôs contra mim dizendo que eu estava com Voldemort, e todo mundo acreditou nele. Você não foi o único a ser traído nesse dia, Black.

Você não foi o único a ser traído nesse dia, Black.

O silêncio caiu na cela, sendo quebrado, ocasionalmente, pelos soluços sufocados que a jovem deixava escapar.

Sirius estava bastante quieto e isso perturbou Yasmin, que não sabia se ele acreditava nela ou não.

Quando Sirius voltou a olhar nos olhos dela, ela só via dor lá dentro.

— Eu... não sei... me desculpe.

— O quê? — Yasmin questionou, desconcertada.

— Me desculpe por te ter tratado mal e por ter acreditado que você era uma assassina. Me desculpe, Yasmin. — implorou ele.

Ela soltou um riso ligeiro. — Acho que estamos quites agora, Sirius. Não se preocupa.

NOTAS:

Capítulo curto (1300 palavras) mas agora começamos a acelerar a história — Sirius e Yasmin já sabem a verdade à cerca um do outro e podemos, finalmente, dar um corte de tempo maior.

Votem e comentem, por favor. <3

𝐒𝐓𝐔𝐂𝐊 𝐖𝐈𝐓𝐇 𝐘𝐎𝐔, sirius blackWhere stories live. Discover now