Capítulo Três: A Colheita

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Sentada em uma cadeira de madeira na cozinha, sinto os dedos de seda de Macária Calavera passando no meu cabelo para produzir uma trança em meu cabelo. Seu trabalho minucioso é uma verdadeira massagem para meu crânio. Como sempre quando ela está concentrada, mamãe está cantando, o que me relaxa consideravelmente pois daqui menos de uma hora é a Colheita.

-Deixe me ir, preciso andar... Vou por aí a procurar... Rir para não chorar...

Eu amo quando minha mãe canta. É sinal que está tudo bem, que tudo vai ficar bem.

Ao nosso redor nesse tempo suspendido, Kamyra e Mena me preparam minha roupa para a Colheita e a posam na minha cama. Abro meus olhos fechados pelo o relaxamento para bisbilhotar o que elas escolheram e avisto uma calça de linho cor carmim, uma camisa branca, um colete de veludo vermelho escuro.

São roupas que nunca usei, mas vejo que já foram usadas. Pelo o aspecto masculino que têm, suponho que sejam de um homem: provavelmente de um vizinho velho nosso que morreu nas redondezas da casa ou algo do género. Fecho novamente os olhos, prestando atenção na voz da mamãe enquanto no meu colo está apoiada a cabeça de Eyal, aonde eu faço carinho em seus fios de cabelo que formam seus cachos.

-Quero assistir ao sol nascer, ver as águas dos rios correr.. Ouvir os pássaros cantar...

Macária continua sua cantiga doce enquanto ouço Thanatus recebendo uma lição de moral do meu pai no quarto dos meus pais.

Ouço Abimael proferindo que Thanatus tem que ser forte, que mesmo se ele for escolhido, foi porque a sorte quis e que tem que ser assim.
Realmente, a preparação da Colheita é muito mais calma do lado feminino da família, qualquer um poderia ver esse fato.

-Eu quero nascer, quero viver...-Sinto o sopro quente de Macária em minha nuca enquanto ela finaliza meu cabelo, amarrando o resto dos meus cachos em um grande rabo de cavalo-. Finalizei.

-Você é linda Melinoé !

Abro os olhos quando ouço a voz de Eyal. Sinto o alto do meu crânio puxar um pouco, advinhando que minha mãe fez tranças na minha cabeça.

-Você também é, meu amor.

Aperto o nariz de meu irmão caçula, o que provoca uma risada vindo dele.

-Espere espere !.-Mena se aproxima de nós três, em um passo rápido-. Você não pode se olhar agora no espelho, vai ter que se vestir primeiro.
Me levanto, um pouco desconfortável pela as tranças apertadas na minha cabeça.

-Feche os olhos, a roupa é uma surpresa.

Finjo excitação para ser vestida ao ir para meu quarto, aonde minhas irmãs começam a por a camisa branca em meus braços primeiro antes de por o colete de veludo em mim em seguida.

-A calça eu a ponho né?

Pergunto, com os braços estendidos para elas me vestirem.

-Como você sabe que é uma calça??.-Ouço Kamyra perguntar, incrédula-.

-Fui eu que disse !.-Eyal entra no meio, certamente para me proteger de discussões se eu eu dissesse que eu havia visto a roupa antes do autorizado-.

Quando Eyal usa de sua inteligência para me proteger de qualquer briga familiar, o agradeço mentalmente, sorrindo abertamente.

-Então você disse, seu monstrinho?.-Mena brinca com Eyal, certamente pegando o nariz dele e o balançando-. Sim, Melinoé, você vai ter que olhar porque tem que vestir a calça.

Abro os olhos quando Mena me autoriza, pegando a calça carmim e a colocando rapidamente. Devido ao fato de ter a corpûlencia cheia, a calça me aperta um pouco, mas não é desconfortável. A roupa que estou vestindo fede a mofo, o que me faz imaginar que ela já serviu bastante ou foi usada pela a última vez a muito tempo antes de ficar fechada em um guarda-roupa.

Via Crudelis [Português] Where stories live. Discover now