O Vampiro que não me ama

► Capítulo dois

Estou tão nervosa que a escova que uso para finalizar meus cachos escapa das minhas mãos. Eu bufo irritada. Hoje de madrugada tive um sonho estranho.

Eu estava em uma casa – estava mais para castelo devo dizer –, tocando piano e alguém se aproximou de mim por trás, tocando meus ombros que estavam descobertos. Suas mãos eram gélidas e o beijo que deixou em meu ombro também.

Minutos depois aquela pessoa começou a subir sua mão pelo meu pescoço e me sufocou à medida que a melodia do piano ficava cada vez mais e mais alta.

Não consegui ver o rosto de quem era, mas lembro perfeitamente da sensação gelada de suas mãos em meu pescoço. Depois eu acordei. Bem mal disposta, aquele sonho parecia real demais e a sensação de ficar sem ar ficou me incomodando o dia inteiro.

— Algo de errado Naomi? — Ágatha pergunta. Eu abano a cabeça em negativa, não quero falar do sonho.

— Seu casamento é daqui à uma semana não é? — É a vez de Christian perguntar.

— Sim, nesse final de semana.

— Está nervosa? — Seus olhos castanhos me encaram de baixo.

— Não estar seria estranho. — Eu digo sem tirar os olhos da flor de cerejeira em minha mão. Estávamos debaixo da árvore no pátio da escola. Era recreio para o almoço, mas nenhum de nós quis comer.

— Eu me caso daqui à dois meses... — Imediatamente minha atenção vai para Ágatha. — Não foi escolha minha, vocês sabem. — Os olhinhos verdes marejados dela partem meu coração.

— E o que Cordélia disse? — Eu envolvo sua mão com a minha.

— Que iria lutar por mim...mas não quero que ela saía morta disso. — Lágrimas rolam no rosto de Aggie. — Prefiro não viver o amor com ela do que viver sem o meu amor. — Minha melhor amiga abaixa a cabeça limpando suas lágrimas, eu abano minhas pernas mandando Christian levantar sua cabeça do meu colo e engatinho até ela.

— Não sei o que te dizer, mas acho que vai ficar tudo bem. — Eu limpo uma de suas lágrimas e a abraço. — E vocês ainda podem aproveitar esse um mês que falta até a escola fechar. — Eu e Ágatha sabemos que não podemos escapar desse destino, então a única coisa que podemos fazer é aproveitar a nossa liberdade enquanto podemos.

Aggie assente ainda com lágrimas nos olhos, eu beijo seu rosto inteiro até que ela me mostre um sorriso.

— Cordélia disse que vai me ensinar alguns feitiços de proteção caso meu esposo queira fazer algo comigo. — Eu abro a boca em um "O".

— Espera, mas isso não é só reservado às bruxas? — Aí que eu paro para pensar, só bruxas podem fazer feitiços.

— Bom...talvez Cordélia tenha me dado uma de suas estrelas? — Eu arregalo os olhos não acreditando.

As bruxas tem 5 estrelas ao total, e à medida que o poder delas fica mais forte as estrelas aumentam, as bruxas que tem as 5 estrelas são as mais poderosas e perder uma estrela pode significar anos de treinamento para conseguir substituir a que foi perdida.

Tem as bruxas com 6 estrelas, mas essas são raras, dizem até que são uma lenda, afinal nunca foram vistas.

Mas o que eu queria dizer era: Cordélia dar uma de suas estrelas para Ágatha é uma imensa prova de amor.

— Não acredito! — Eu exclamo. — Mas você sabe que isso é proibido não sabe? — Vampiros e bruxas. Como posso explicar essa relação nada amigável?

— Eu não sabia, eu e a Cordélia estávamos bem...fazendo amor quando ela simplesmente disse as palavras, quando eu vi a estrela, o que quis fazer foi beijar aquela boca linda até ficar sem ar.

— Nos poupe dos detalhes. — Chris diz. Ágatha faz uma careta para ele.
Eu não estou surpresa, sabia que minha amiga havia tido sua primeira vez com Cordélia, só não sabia sobre a estrela.

— E ela disse que se alguém descobrir, ela responderá no conselho e vai me ausentar de culpa. — Ágatha já não parece tão animada.

— Aonde está sua estrela? — Eu pergunto tentando mudar o clima.

— No pulso. — Ágatha estica seu braço e puxa a manga da blusa, mas mesmo assim eu e Chris não vemos nada. — Ah, me esqueci, só aparece quando faço magia. É para a minha segurança. — Eu assinto.

— Tem noção de que agora será metade bruxa, metade vampira e metade humana né? — Christian parece pensativo.

— Sei sim, e também sei que se meus pais descobrem isso, eles me esfolam viva, quase fizeram isso quando descobriram sobre Cordélia, dessa vez não terá perdão. — Eu me arrepio só de imaginar.

— Não fala isso, basta que você seja cuidadosa, ninguém vai descobrir. — Ágatha assente e respira fundo.

À esse momento eu já voltei a minha posição inicial, com minhas costas encostadas no tronco da árvore e sem Chris no meu colo.

— E você Chris, quando vai se casar? — Eu pergunto.

Christian está muito calado nos últimos dias, desconfio que já tenha recebido a data do casamento já que fez 18 à três semanas atrás.

— Duas semanas. — Ele suspira. — Meu casamento será daqui à duas semanas.

— Quando planejava nos dizer?

— Eu achava que se eu não falasse ou pensasse nisso, seria menos verdade. — O rosto apático que vejo na minha frente não parece nada com o Christian que estou habituada.

Todos nós temos destinos traçados, e o pior: não foram traçados por nós. E simplesmente temos que os aceitar.

— E com quem você vai se casar?

— Sabrina Morton. — Meus olhos se arregalam.

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