1. Em nossa casa

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Harley acordou com gritos. Ela podia ouvir no andar de baixo da casinha velha da família Quinzel sua mãe discutindo com seu pai. Ela apenas suspirou, e começou a se arrumar para o trabalho.

Era um trabalho de merda no Arkham, mas dava pra juntar um dinheiro para sair daquela casa. Já estava cansativo ouvir todas as brigas, mesmo que ela nunca se preocupou em entender o motivo.
Mas naquele dia, foi diferente.

Enquanto Harley abotoava sua camisa social azul, ela foi surpreendida por um barulho alto. Pareciam estar entrando na casa a força, e ela decidiu ir conferir.
Por mais que seus pais brigassem muito, eles nunca quebraram nada - não que ela soubesse. Realmente, não foram o casal os responsáveis pela porta que agora estava no chão da sala.

Os olhos azuis de Harley congelaram quando ela viu seu pai sendo erguido por um homem com capuz preto, uma roupa velha e que, com a mão livre, apontava uma arma para a cabeça de Nick. Sua mãe não estava em uma situação melhor, outro homem vestido com o mesmo padrão que o primeiro a jogou no chão em uma velocidade absurda.

- MÃE! - Harley gritou, mas não saiu do lugar. Seu choque era maior que a vontade de fazer qualquer coisa.

Nick encara Harley com um olhar severo, seus olhos estavam um pouco vermelhos. O homem que o esmagava na parede o soltou violentamente no chão, e mirou em Harley. Olhos completamente sem vida, apenas rancor.

- É... É ela. - Nick murmurou com dificuldade, apalpando o pescoço pelo recente enforco.

Os dois homens esquisitos se olharam, e um deles se virou para Nick. A arma não deixando de apontar para a cabeça do senhor de meia idade.

- O chefe agradeceu o presente. - ele diz com uma voz extremamente grave, quase em um sussuro, e volta a olhar para Harley. - Vem cá, belezinha.

Harley arregala os olhos quando os dois andam em sua direção, e ela não consegue pensar em algo para escapar disso. A confusão sobre o que seu pai tinha feito, e por que eles estavam ali.
O homem mais alto agarrou seu pulso, Harley deu mais um grito, começando a se debater.

- NÃO! ME SOLTA, SEU... - ela dá mais um grito desesperado quando os dois começam a levar para fora.

Ela consegue olhar rapidamente para os pais, cada um de um lado da sala toda bagunçada. Os olhos azuis da Quinzel iam se enchendo de lágrimas a medida que os homens esquisitos a levavam para fora.

- PAI! MÃE! - ela grita, mas nenhum dos dois a olha de volta.

Eles fizeram algo, ela sabia.
Será eles que a transformaram nesse tal "presente"? Foi a última pergunta que Harley fez mentalmente, antes de ser jogada em um carro preto e ver um vulto do que parecia ser um soco. E então, estava completamente apagada.

[...]

Um murmuro baixo foi feito de eco, e Harley apenas conseguiu ouvir a última parte antes do som parar de ecoar. Ela não enxergava muita coisa, a não ser pelo pequeno abajur aceso em uma mesa distante. Nenhum som, nenhum sinal de vida a não ser a dela.

Alguns minutos se passaram, Harley já estava agoniada em completo silêncio. Até que finalmente um sinal.
Sons de salto encostando no chão, lentamente, e parecendo todos muito bem ensaiados. Harley sentiu sua respiração pesar.

- Incopetentes. - uma voz feminina ecoou na sala. Quinzel se assustou um pouco, e se encolheu, sentindo seus pulsos doerem pelo nó bem dado que os prendia. - Você deve estar confusa, querida.

Mais alguns barulhos de saltos, e finalmente luz. A dona da voz intrigante e até seduzente ascendeu um interruptor, e os olhos de Harley doeram com a mudança de ambiente.

Depois que sua visão voltou ao normal, Harley teve que se segurar para não abrir a boca quando viu a mulher em sua frente.
Cabelo ruivo hidratado, olhos verdes e sérios, um rosto perfeitamente proporcional, corpo esculpido em formate de pêra e, já de longe, Harley conseguiu sentir o perfume caro que ela exalava.

A ruiva abre um sorriso de canto sutil e caminha lentamente para uma poltrona do outro lado da grande mesa de vidro. Desviando o olhar um pouco da deusa em formato de humano, Harley só via paredes brancas lisas e sem graça as cercando. O cômodo em que estavam a lembrava uma sala de reunião.

- Vamos começar novamente, certo? - a mulher diz, uma dicção admirável e com calmaria. - Você deve ser a Harley. Harley Frances Quinzel?

Harley franze o cenho. Ela deveria estar preocupada em uma estranha saber seu nome completo, mas ela não se importava realmente.

- Onde estou?

- Em nossa casa. - a mulher responde rapidamente, seu sorriso se alargando mais.

Harley ergue uma sobrancelha, e tenta mais uma vez mexer os braços. Sem sucesso.

- Nossa casa? - Harley dá ênfase, mas a mulher permanece com um sorriso maldito. - Moça... não querendo ser grossa, mas como podemos morar juntas se nem nos conhecemos?

A ruiva se levanta da cadeira, cruzando os braços logo abaixo dos seios. Lentamente, e muito provavelmente ensaiado, ela caminha até Harley, parando atrás dela.

A loira engole em seco, e alguns segundos depois consegue sentir a respiração quente em seu pescoço. Mãos delicadas roçando nas suas, deslizando até a corda que as amarrava.

- Não costumo dar satisfações, então se sinta privilegiada. - a mulher sussurrou para Harley, que sentiu seu corpo todo se arrepiar. - Digamos que... seu papai é tão filho da puta ao ponto de vender a própria filha. E advinha?

Harley arregalou os olhos, enquanto sentia a corda liberar totalmente seus braços. Ela os recolheu para o colo, engolindo em seco.
Então esse era o motivo de todas as brigas, dos homens e...

Puta merda.

- ...Puta merda. - foi a única coisa que Quinzel conseguiu murmurar.

Uma risadinha baixa foi ouvida pela loira, e a figura ruiva esbelta surge em sua frente novamente, dessa vez parada ao seu lado.

- Não fique triste. Nick certamente não merece lágrimas de ninguém, querida. - ela fala com um sorriso de canto.

Ela se senta na cadeira mais próxima a mim, e eu a olho. Meus olhos seguravam lágrimas, mas consigo engolir o choro.

- Eu realmente moro com você agora? - Pamela revira os olhos, um pouco impaciente.

- Bem, sim. - Isley fala com tédio. - E uma coisa que você precisa saber, loirinha bonita, é que não gostamos de repetições nessa casa.

Gostamos? No plural?
Harley se sente ainda mais mal ao assumir que, por fontes de sua cabeça não completamente saudável, a mulher ruiva fosse casada.

- Está bem.

Um momento de silêncio surge, e Harley o quebra um minuto depois.

- Você ainda não disse seu nome.

Pamela a olha curiosa, e dá um sorriso torto, apoiando o rosto com as mãos.

- Hm, está mais animada com a ideia? - ela pergunta, em um tom pouco animado.

Com a ideia de ser vendida talvez não, mas com a de morar com essa ruiva...

Por Deus, cala a boca, Harley.

- Pamela. Pamela Isley.

A ruiva responde simples, e Harley apenas acena sutilmente com a cabeça.
Pamela se levanta, ajeitando seu vestido preto com alguns babados na manga, e começa a ir em direção para a porta.

Antes de tocar na maçaneta, ela olha curiosa para Harley.

- Você vai ficar aí ou...?

Harley entende o recado, se levantando rapidamente e seguindo Pamela para fora daquela sala.

- 🤍 -

Miss Thorn - harlivyWhere stories live. Discover now