Capítulo 2

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Abri a porta do apartamento estranhando o silêncio, já eram mais de 23:00 horas, as meninas já deveriam estar em casa  a tempos, tirei meu tênis na entrada de casa e caminhei até a sala, me deparando com um corpo estirado no tapete do cômodo, Ahrin encarava o teto do apartamento como se estivesse passando o filme mais interessante do mundo, seu macacão jeans desabotoado e dobrado até a sua cintura deixando amostra seu moletom rosa deixava ela com um ar quase infantil, ri enquanto me aproximava e agachava no chão ao seu lado.

– Onde está Hyo-Jin? -perguntei ao sentir falta da outra mulher, Ahrin arqueou a sobrancelha direita, me indicando a cozinha, olhei para ela incrédula. – Woah você ultrapassou os níveis de preguiça, não consegue nem falar.

Levantei balançando a cabeça e me dirigi a cozinha, Hyo unnie estava parada estática encarando um prato de comida meio cheio ainda, cutuquei o braço dela que me olhou com olhos vazios, agarrei seu ombro e a levei até a sala, fazendo ela sentar no chão próximo a mesa de centro — que na maioria das vezes usamos como mesa de jantar — voltei a cozinha e peguei cinco garrafas de soju na porta da geladeira depositando na mesa de centro.

– Levanta Ahrin vamos fazer a noite de merda. -a noite de merda foi uma invenção da Hyo-Jin quando nós tínhamos 23 anos e moravamos longe uma das outras fazendo faculdade — eu em Harvard cursando medicina, Ahrin na Columbia cursando psicologia e Hyo-Jin em Yale fazendo direito — onde nós entramos em ligação de vídeo, cada uma com uma garrafa de bebida e falávamos sobre todas as coisas de ruim que aconteceram no dia ou no mês, acabou virando uma tradição hoje em dia.

Ahrin se levantou sentando-se ao meu lado abrindo sua garrafa.

– Eu começo -proclama enquanto estende sua garrafa para o meio da mesa, Hyo e eu abrimos nossas garrafas e copiamos o ato de Ahrin, fazendo as garrafas tocarem os bicos no centro da roda. – Para começar eu acordei atrasada, entao perdi minha carona com a Hyo e como eu nao tirei a porra da minha carteira de motorista, tive que pegar um ônibus até o consultório.

– Perdão por isso -Hyo falou abaixando a cabeça.

– A culpa não foi sua. -respondeu passando a mão em seu ombro. – Eu que me atrasei.

– Enfim, assim que cheguei ao consultório minha primeira paciente do dia drenou completamente minha energia e felicidade, ela tem 17 anos e como qualquer outra adolescente da idade dela, tem várias queixas sobre a vida, preocupações com o namorado de outra sala, reclama de acne e que o cabelo está mais oleoso que o normal, ou que ela engordou quatro quilos depois de comer uma pizza inteira sozinha e um pote de sorvete e ultimamente ela tem se matado de estudar para o vestibular. Normalmente ela nunca dá problema, mas hoje em específico a mãe dela foi junto acompanhar a consulta. Ela é absolutamente insana, não deixa a filha completar nem um frase inteira, reclamou de tudo que a menina faz e se colocou como vítima em diversas situações onde ela claramente era a causadora do problema, enfim depois de passar os 45 minutos da consulta da filha dela falando apenas dela mesma, ela saiu da minha sala e brigou com minha recepcionista. -disse enquanto comia um punhado de amendoim que Hyo tinha trago enquanto escutava ela terminar de falar

– No fim ela tentou bater na recepcionista, gritou comigo e quando eu ameacei chamar a polícia ela disse que ia me processar por ser uma psicóloga ruim e que a filha dela nunca mais pisaria no meu consultório, fiquei o resto do dia xingando ela em pensamento e me preocupando com a filha dela e ate com ela, porque so uma pessoa em surto psicótico pode se comportar daquela forma. -terminou de falar com um suspiro, batemos as garrafas juntas e tomamos um longo gole, essa era a noite de merda, escutamos os problemas sem interromper uma outra e depois bebemos juntas para esquecer o'que foi dito.

– Isso foi uma merda, país assim acabam com os próprios filhos. -Hyo falou enquanto bebia mais um gole e depois colocava a garrafa ao centro da mesa de novo. – Minha vez! cheguei no escritório hoje de manhã e fui avisada que já tinha clientes me aguardando em minha sala, oque é estranho porque eu não permito ninguém em minha sala quando não estou lá, mas relevei porque às vezes é um cliente rotineiro, quando eu entrei vi dois homens, um mais velho parado analisando minha estante de livro e um sentado no sofá, este era simplesmente o homem mais lindo da minha vida e quase tive um infarto, era um ator dos dramas que nós assistimos... mas infelizmente nao posso falar o nome... -disse cobrindo a boca com a mão para abafar a risada enquanto Ahrin e eu gritamos nomes de todos os atores que conhecemos.

Casamento ArranjadoWhere stories live. Discover now