Capítulo 17 -Silêncio Profano (790 palavras)

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O som ensurdecedor da orgia continuava a ecoar pelos corredores da mansão enquanto Lúcifer, envolto em sombras, retirava-se para seu santuário privado. O quarto, permeado pelo silêncio profano, aguardava como um refúgio solitário no meio da tempestade de prazeres desenfreados.

Ao adentrar seu aposento, o demônio desfez-se das vestes que carregavam os vestígios da festa decadente. Seu corpo, marcado pela luxúria, mergulhou na banheira de água quente, uma tentativa fútil de purificação. Enquanto a água escorria por sua pele, ele deixou para trás não apenas os fluidos físicos, mas também as sombras do gozo momentâneo.

O quarto, ricamente adornado com símbolos de sua natureza infernal, era o seu último refúgio. Lúcifer contemplou o silêncio que se estendia além da porta, uma antítese do caos lascivo que ainda reverberava pelos salões. Aquelas paredes, testemunhas silenciosas de incontáveis transgressões, escondiam os segredos de suas escolhas e desejos mais sombrios.

Enquanto o vapor do banho envolvia o ambiente, Lúcifer permitiu-se a reflexão. Seu olhar, antes vívido com a chama do hedonismo, agora refletia uma sombra de desencanto. Aquelas mulheres, que momentos atrás compartilhavam sua cama, foram sumariamente expulsas, pois mesmo entre as artimanhas do inferno, ele ansiava por um momento de paz.

O silêncio do quarto era apenas um eco do vazio que se instalava em sua alma. Aquela noite de excessos, longe de preencher o buraco em seu ser, só o tornava mais profundo. Lúcifer, sentado na borda da banheira, contemplava a fumaça que serpenteava do incenso, buscando encontrar um sentido em meio à sua própria escuridão.

Cada gota d'água que escorria por seu corpo, cada suspiro abafado, era um lembrete do vácuo que persistia. O demônio, tão acostumado a dominar, sentiu-se momentaneamente derrotado pela própria natureza. Enquanto a festa prosseguia do lado de fora, Lúcifer, agora só, encarava o abismo de sua existência com olhos que refletiam mais do que a mera luxúria.

A noite se estendia como um manto sombrio, e o quarto permanecia como o epicentro de sua solidão. Lúcifer, imerso na quietude profana, enfrentava não apenas o silêncio ao seu redor, mas também o eco ensurdecedor de seus próprios demônios internos.

Lúcifer, na penumbra do quarto luxuoso, afundou-se mais na água morna da banheira, as memórias de sua existência celestial ecoando em sua mente atormentada. Ele era uma criação divina, um anjo caído, uma estrela da manhã que se rebelou contra os céus por desejos e anseios próprios.

A imagem de seus irmãos, Amenadiel, Miguel, Uriel e Azrael, surgia como fantasmas do passado. Cada um deles trazia consigo uma parte da história celestial que Lúcifer tanto tentava esquecer. A rebeldia que culminou na sua queda, na sua própria expulsão dos domínios celestiais, era uma cicatriz que nunca cicatrizara completamente.

Enquanto as sombras da noite dançavam ao redor dele, Lúcifer recordava os dias quando a harmonia reinava no Paraíso. Lembrou-se dos céus, das hostes angelicais, dos cantos celestiais que preenchiam o ar. Mas essa perfeição celestial cedeu espaço ao desejo de liberdade, à busca por algo além das limitações impostas pelo Criador.

Seu coração, uma vez cheio de luz divina, agora era um repositório de uma escuridão inescapável. A água da banheira, agora tingida pela sombra do pecado, era um lembrete constante da dualidade de sua natureza. Ele era tanto anjo quanto demônio, uma contradição ambulante, aprisionado entre dois mundos que nunca mais poderiam coexistir.

Enquanto Lúcifer contemplava sua existência fragmentada, uma sensação de vazio tomou conta dele. A busca pela redenção, a tentativa de encontrar um propósito que transcendesse sua natureza infernal, parecia mais distante do que nunca. Ele questionava se seria possível, algum dia, reconciliar sua alma dividida.

A música da orgia lá fora, agora abafada pela distância, soava como um lamento profano

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A música da orgia lá fora, agora abafada pela distância, soava como um lamento profano. As vozes, os risos, os gemidos, eram como murmúrios distantes que não conseguiam penetrar a bolha de solidão que o envolvia.

Lúcifer, perdido em suas reflexões, desejou por um instante voltar ao éden celestial, antes da queda, antes de sua própria rebelião. A sensação da água começou a esfriar, e ele emergiu da banheira, um corpo celestial submerso em seu próprio pesar.

Enquanto se enrolava em uma toalha negra, Lúcifer enfrentou o espelho que refletia não apenas sua aparência, mas a dualidade que o consumia. O brilho de seus olhos carregava a bagagem de eras, uma testemunha silenciosa da jornada tumultuada que ele trilhara desde sua queda.

À noite, agora em seus estágios finais, sussurrava promessas de redenção não cumpridas. Lúcifer, com sua natureza fragmentada e sua alma em ruínas, sabia que o caminho para a salvação seria mais tortuoso do que jamais imaginara. A penumbra do quarto era uma extensão de sua própria escuridão, e ele, mais uma vez, confrontava a solidão que o envolvia como uma sombra eterna.

O despertar de LÚCIFERWhere stories live. Discover now