Capítulo 1

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Amaya levantou apressadamente da cadeira onde estava sentada e caminhou de um lado para o outro, repassando todos os últimos acontecimentos em sua cabeça. A Thornin não conseguia digerir totalmente a situação, mas tinha completa certeza de que deveria estar morta. Lembrava-se perfeitamente da sensação do corpo sendo perfurado pelas flechas, da dor e do desespero que a atingiu naquele mesmo instante, ao mesmo tempo que lutava para manter sua consciência ativa, viva.

— Como isso é possível? Estou ficando louca? — sussurrou, parando de andar por um momento. — Eu deveria estar morta! Tenho certeza disso!

Enquanto terminava de divagar sobre o acontecimento recente, um arrepio percorreu o corpo da moça, ao recordar-se com precisão de seus últimos momentos com vida.

— Estou morta ou retornei ao passado? — indagou para si mesma, enquanto olhava nervosamente ao seu redor — Por quê? Como?

As perguntas todas sem respostas, iam e vinham na cabeça dela. A respiração da mulher tornou-se cada vez mais pesada, enquanto tentava recobrar o juízo e afastar aquela sensação mórbida que a preenchia pouco a pouco. Nesse mesmo instante, ouviu as batidas que soaram na porta. Virou-se apressadamente na direção do som, ao mesmo tempo que escutava uma voz calma, porém autoritária, pedir permissso para entrar no local.

Rapidamente, a Kremliniana respirou fundo e contou até três. Se realmente tivesse voltado no tempo, não poderia se mostrar eufórica daquela forma ou os Normandianos ficariam irritados com seu estado. Ou pior, poderiam tirarem ela como uma louca, principalmente porque eles tinham um um preconceito contra o povo de Kremlin, chamando-os de bruxos devido aos seus costumes diferentes, por serem praticantes de rituais benéficos em prol da natureza, algo que para eles, era estranho e hediondo.

— Entre. — Amaya respondeu, após um momento tentando se recompor.

Tão logo após sua resposta, a porta de madeira foi aberta e por ela, uma moça baixinha de curtos cabelos loiros, portadora de um rosto redondo e muito belo, entrou. Imediatamente, Amaya recordou-se daquela mulher. Ela era uma das empregadas da família de seu futuro marido.

— O sacerdote dará início a cerimônia — A desconhecida disse calmamente, sem olhar diretamente para a estrangeira — Fui designada para acompanhá-la até o local designado.

Ao ouvir aquelas mesmas palavras uma segunda vez, a Thornin sentiu o corpo tremer e o coração acelerou dentro do peito. Tudo estava acontecendo exatamente como antes!

— Espere — Sussurrou, sentindo as mãos tremerem dentro das luvas de rendas brancas — Não estou me sentindo bem...

A loira, por outro lado, ao ouvir o seu pedido, olhou para Amaya com uma expressão dura e nem se importou com a informação recebida. Apenas abriu ainda mais a porta indicando que prosseguiria com o combinado e esperou que a noiva vinhesse ao seu encontro.

— Tudo bem — Amaya recitou aquelas duas palavras, tentando manter a calma e compostura. Não encontraria empatia em nenhum dos Normandianos. Eram todos brutais e sem coração.

Como não lhe restava muita escolha, segurou a saia do vestido branco e o levantou um pouco, apenas o suficiente para não tropeçar e cair com a cara no chão.

O vestido não era o mais bonito, mas por ter sido feito às pressas, serviu para o propósito. Ele era inteiramente branco, com bordados florais num tom lilás com azul subindo por toda a extensão do corset. A saia era fluída, feita da seda da melhor qualidade, com várias camadas que caiam uma sobre a outra, em forma de cascata.

Amaya não sabia quem tinha sido o responsável por encomendar aquele vestido, mas quem quer que fosse, tinha bom gosto.

Antes de passar pela porta e seguir a empregada, recordou-se de algo importante e então retornou um momento depois, em busca do buquê que havia esquecido na sala.

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