Obsessão Assassina - Choso Kamo

Estágio 5 - Depressão

Havia chegado mais cedo na aula aquele dia, pegando um ônibus já que nesse horário não tinha ninguém indo também.

Estava inquieta desde a noite de sábado, e tinha passado o resto do final de semana inteiro pensando nele. Não consegui dormir direito naquela noite.

Depois daquilo Choso nem sequer tinha me chamado, e eu também não daria o braço a torcer.

Me assento próxima a uma árvore isolada no pátio, o dia estava cinza e gélido, encosto minha cabeça no tronco atrás de mim visualizando as nuvens se formarem, dando sinais de que haveria uma tempestade forte em breve. Fecho os olhos sentindo a brisa fria tocando minha pele.

Ouvi passos, mas ignoro - como se fosse seguro fazer isso estando sozinha - até que percebo a fraca luz solar desaparecer, e abro os olhos novamente quase instantaneamente.

_ Sozinha hoje? Se perdeu dos amiguinhos?

Choso estava ali, agachado em minha frente, com o típico cigarro e o cheiro nicotinado exalando, junto ao perfume amadeirado que ele usava.

Tento não transparecer que gostei da presença dele.

_ Está me seguindo? _ Uni as sobrancelhas.

_ Você quem está em todo lugar que vou. _ Afirma após se assentar ao meu lado. _ O que faz aqui tão cedo?

_ Só não tinha nada pra fazer... _ Desvio o olhar dele. _ e pelo jeito você também não.

_ Preciso necropsiar um corpo, _ Me conta enquanto fuma. _ mas como está aqui sozinha e com cara de cachorro abandonado, vou ficar um pouco com você.

Sinto a vontade incontrolável de o mandar a merda, porém minha curiosidade altera os ânimos.

_ Eu queria te perguntar, por que se interessou por isso? _ Olho o mesmo me fitar de volta com uma sobrancelha levantada. _ Digo, estudar algo morto.

_ A morte não é interessante pra você?

Me vi pensando naquela indagação incógnita.

_ Morrer não é um dos meus pensamentos preferidos se quer saber. _ O vejo ajustar os coques.

_ Ver que cada pessoa passando por aquela mesa é apenas uma casca vazia agora _ Ele olha em uma direção aleatória. _ , me faz imaginar o quanto são inúteis.

_ Então não se importa com quem já esteve lá? _ Fico em dúvida pela resposta inusitada.

_ Por que ligaria? _ Apaga a bituca de cigarro na grama. _ É só um pedaço de carne e ossos agora.

A incomum forma dele pensar me aterra um pouco, mas conhecendo pelo que o Itadori disse do meio-irmão uma vez, pode ser só uma forma figurada da ideia.

_ E você... _ Prosseguiu. _ tem vontade de quê?

_ Quero fazer Cinema. _ Não demoro a responder.

_ Gosta de filmes? _ Agora seu olhar amendoado estava em mim, com as pálprebras demonstrando sono cotidianamente.

_ Gosto, mas nada como "Minhoca Humana" que Yuuji vive assistindo, acho as sequências horríveis. _ Digo. _ Na verdade eu comecei a gostar da área justamente por causa dele, a intenção é que fossemos juntos pra faculdade.

_ Digamos que ele seja excêntrico desde criança... _ O vento bagunça os fios dele levemente.

_ Odeio os temas Sci-Fi que ele escolhe. _ Comprimi um sorriso ao lembrar de Nobara indignada pelo convite do garoto a ir assistir mais uma de suas sugestões.

Estávamos ali conversando sobre filmes ruins que meu amigo gostava, como se nada tivesse acontecido, e como se eu quase não o tinha denunciado por suspeitas amadoras. Um silêncio se mantém agora, até que o moreno continue.