Som de rodas, homens gritando e mulheres gritando de volta. O barulho dos cascos de cavalo, o bufar deles.

O sol entrava pela janela, passando pela cortina azul safira brevemente. Seus músculos estavam doloridos e se mover ao menos para trocar de posição estava fora de questão. Seus ouvidos captavam tudo, cada som que era interrompido pelos passarinhos que pareciam...

Uma batida soou na porta, forte e pesada.

Gwenda se jogou para cima, sentada na cama de olhos arregalados. Ela tirou de brusco o cobertor de cima e saiu da cama com completo silêncio, indo para a janela.

Por entre a fresta da cortina, ela viu uma carruagem e seis guardas parados à sua porta. Dois cavalos estavam parados ao lado da carruagem e ela logo se perguntou se o seu estava bem no estábulo de seu Setor que pagava de semana em semana para ter o melhor cuidado que poderiam dar. De vez em quando ela aparecia lá quando não estava envolvida em algum caso muito pesado e nas suas folgas para que pudesse passar um tempo com o cavalo que ganhou de seu pai sem que seja apenas para usá-lo como modo de deslocamento pela cidade atrás de algum fora da lei ou místico.

A batida soou novamente e Gwenda não se importou em se vestir adequadamente antes de correr para a sala com os pés descalços, segurando seu peso para não fazer barulho. Não se incomodou também em passar a mão no cabelo para abaixar alguns fios rebeldes.

Ela pegou a frigideira em cima do fogão a lenha e escondeu atrás do corpo quando se aproximou da porta com cautela. No mesmo momento em que outra batida soou, ela abriu antes que terminasse e piscou diversas vezes por conta do sol.

— Sim? — disse ela quando sua visão começou a voltar.

— Viemos por ordens de Vossa Majestade. — o da frente respondeu, os outros estavam formados em duas filas, um ao lado do outro para que ela pudesse passar entre eles como uma passarela — O rei quer vê-la na Rotulação ainda esta manhã. — o guarda levantou um papel na frente de seu rosto e Gwenda estreitou os olhos para tentar ler, mas não conseguiu. — No papel diz que você aceita participar das investigações do próprio rei. Apenas assine.

— Vossa Majestade já me tem com a rotulação. — respondeu ela — Diga ao seu rei para me deixar em paz, não irei aceitar nada que me oferecer.

— Senhorita, assine. — ele falou e esticou o papel para Gwenda.

A jovem pensou por um instante.

Gwenda podia ter recusado todos esses acordos, mas apenas porque estava livre. Hoje ela se tornaria uma cidadã do rei. Não da Capital, não de Carsany... do rei. E ela estava ciente de tudo que estava prestes a aceitar ao colocar a ponta da pena no papel pergaminho.

A jovem inspirou e esticou a mão com a panela para pegar o papel. O guarda tencionou o corpo ao ver a ameaça que estava sendo comprometido um segundo atrás sem ao menos saber.

— Me dê um segundo. — pediu ela e fechou a porta sem esperar por uma resposta.

Gwenda sabia que já haviam disparado para as janelas, se certificando que ela não fugiria.

A jovem colocou o papel na mesa e passou as mãos no cabelo, respirando fundo e largando o ar lentamente. Ela foi atrás de uma pena e achou no balcão da cozinha junto com a tinta preta. Ficou encarando a pena cinza presa entre seus dedos, os manchando, vendo que no pote a tinta que estava quase acabando depois de anotar tantas coisas em tantos documentos...

As Crônicas de Carsany e suas RelíquiasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora