02 TRITÃO

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Dentro do barril escondido no fundo daquela água espumosa e salgada. O pequeno tritão olhou para cima assustado.

Seu corpo estava encolhido, mas era possível distinguir a barbatana caudal comprida, igual à de um tubarão martelo. Seus cabelos loiros acinzentados se agitavam gentilmente na água, os olhos denotavam cansaço. O corpo do garoto era muito branco, ressaltando os olhos azuis.

Maria queria se aproximar, curiosa pensava em como iria brincar com ele ali

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Maria queria se aproximar, curiosa pensava em como iria brincar com ele ali. Mas a mãe Beatriz a segurou firme contendo seu avanço. A menina olhou e viu a mãe assustada, notando que talvez também devesse ficar assim, com medo do menino lindo encolhido.

"Deve ser perigoso", imaginou.  

Animado, o capitão contou que o avistou enquanto perseguia uma baleia. Jogou as redes e o capturou com facilidade.

— Apresentarei essa criatura. Ficaremos ricos! Todos pagarão para ver! Hahaha! Estamos ricos Beatriz! — gritava eufórico — Não teremos mais problemas com dinheiro! 

Sua alegria era contagiante, falava enquanto se afastava para um canto da sala onde estava o aquário. Ali pegou um peixe.

— Eu o mantive em minha cabine, mas faz dois dias que não o alimento. Deve estar faminto...

Assim retirou um peixe vivo do aquário e o levou para o barril. Maria fez cara feia resmungando que aquele era o peixinho dela. A mãe a apertou no colo para que ficasse quieta. O capitão nem percebeu nada e soltou o peixe dentro do barril.

Joaquim não queira participar. Com os braços cruzados, olhava bravo, detestava aquela criatura que estava tendo mais atenção do pai do que ele e sua irmã.

Todos ficaram olhando esperando a reação do pequeno tritão. Ainda acuado e desconfiado demorou em agir, mas quando o peixinho chegou bem perto ele o agarrou e engoliu inteiro.

A miúda começou a chorar, por que perdeu o peixinho. Agora tinha certeza que o tritãozinho era mau, pois comeu seu peixinho.

Beatriz brigou com o marido por ter feito essa maldade. Depois olhou feio e falou mal do pobre tritãozinho. Que sem entender os olhares bravos se encolhia ainda mais no fundo do barril.

O filho ficou curioso, mas ao mesmo tempo enciumado. Fazendo pose de durão, resmungou que deviam jogar aquele monstrinho fora. Mas ninguém ouviu.

Vendo a tristeza de Maria o imediato a consolou.

— Com o dinheiro que terá poderá comprar quantos peixinhos quiser! Hahaha! — disse Marco rindo.

Assim a mãe também a animou. O capitão aproveitou a melhora da situação e tampou o barril. Em seguida pegou seu violão e pediu à esposa que cantasse um bom Fado para comemorar o novo futuro que os esperava.

A mulher revelou sua voz rouca, mas poderosa. Com o movimento de suas mãos, ela convidou a todos que se reuniram a mesa. A refeição estava servida e a música distraiu trazendo alegria. 

Somente Maria vigiava o barril com um ar de receio. Ela tinha medo que ele sairia de lá para comer seus outros peixinhos. Mas também pensava no quanto ele estava triste vivendo lá sozinho. Imaginava se não poderiam ficar amigos.

Por uma vez o tritão colocou as mãos na borda do barril levantando a tampa e subindo a cabeça na altura dos olhos para ver o que estava acontecendo. Alguns segundos ele ficou ali admirando a canção com os olhinhos vidrados em Beatriz.

"Mamãe?" se perguntou exausto lembrando daquela bela sereia que lhe ninava cantando músicas entre os corais no fundo do mar.

Alarmada Maria avisou ao irmão. Esse se mostrou furioso indo em direção ao barril. Quando o tritão viu o rapaz se aproximando, submergiu rápido e no escuro ouviu o som de algo ser posto sobre a tampa.

Curioso empurrou a tampa novamente, mas agora ela estava pesada e difícil de abrir. Assim a criatura desistiu e ficou sozinha no escuro. Ouvindo o canto se propagar abafado pela água fechou os olhos e adormeceu. Sonhou com sua mãe cantando aquela mesma música sem entender uma única palavra do que diziam, pois não era seu idioma.

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Meu TritãoWhere stories live. Discover now