05 TRAGÉDIA

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Alves deixou o barril no palco e foi à porta, acompanhando o último cliente que estava pagando o imediato. Assim que aquele se foi, os dois riram comemorando o sucesso e logo começaram a contar o dinheiro. Lambendo os dedos e passando as notas próximo aos olhos gananciosos.

Nesse momento, Joaquim chegou fumegando de raiva. Tentando controlar o tom, falou obrigando o pai à voltar para casa. Mas distraído com o dinheiro e ressentido pela briga que tiveram mais cedo, Alves o desprezou.

— Voltarei mais tarde. Ainda tenho uma apresentação hoje. — disse despreocupado, balançando a mão no ar como quem afasta um inseto.

— Tem que voltar agora! — gritou o menino, perdendo a paciência, cerrou os punhos, bateu um pé no chão e segurou as lágrimas nos seus olhos, marejados vermelhos.

O pai não aceitou o desaforo e empurrou Joaquim no chão.

— Volte você! — retorquiu Alves se retirando para um canto do galpão, pegando o dinheiro da mesa, acenou para que Marco o seguisse.

Marco olhou com pena para o filho do capitão, mas não contrariou seu empregador.

Joaquim ficou alguns minutos ali, juntando forças para reagir. Segurava as lágrimas, pressionava os dentes. Se perguntava: por que seu pai ficou assim? Por que não cuidava da mamãe como antes? Bravo, olhou para a porta e depois avistou o barril no palco — É tudo culpa dessa criatura — concluiu em sua mente antes de agir.

Determinado a se vingar, ele disparou tão rápido que os dois marinheiros só perceberam quando Joaquim enfiou as mãos na água, puxando o tritãozinho pelos cabelos.

— É tudo sua culpa! A mamãe está morta! — chorou o jovem ao mesmo tempo que virou o barril.

Os dois adultos pararam sua aproximação, recebendo o choque daquela declaração.

— Beatriz está morta?... — o imediato recuou e ficou congelado.

Mas o capitão foi forçado a tomar uma atitude frente aos gritos agudos do tritão, que puxado pelos cabelos, passou a receber socos na cabeça.

Como estava com as mãos amarradas nas costas, sua única defesa era debater-se. Fora da água sua calda transformou-se em pernas, cobertas por escamas, que ele não sabia controlar.

Sufocando, suas guelras abriam e fechavam contra uma poça no chão. Mas Joaquim percebeu isso e usando as mãos pressionou aquele pequeno pescoço, impedindo-o de respirar.

Nessa situação o pequeno reagiu pela primeira vez. Antes que o capitão alcançasse o filho, o tritão soltou uma descarga elétrica pelo corpo, eletrocutando o rapaz que caiu no chão desmaiado como pedra.

Assustados, os marinheiros viram o pequeno, de pernas escamosas, tossir como se estivesse engasgado. Então se deram conta de que a criaturinha começou a respirar pela boca e nariz, mantendo suas guelras seladas.

Com cuidado, o capitão puxou o filho para longe dele.

— Joaquim. Joaquim! Acorde! — tentou bater, sacudi-lo, mas não reagia — Não... Joaquim... — assim o pai começou a chorar.

O imediato se aproximou do capitão.

— Ele?... — hesitava terminar a pergunta.

— Está morto... Meu filho... — rangendo os dentes, voltou o olhar feroz para o tritão.

Ainda no chão, amarrado e sem conseguir se levantar, o pequeno estava desolado até as lagrimas. De seus olhos caíram grossas gotas que se transformam em pérolas. As pedras tilintavam e rolavam pelo palco.

Meu TritãoWhere stories live. Discover now