06 DEZ ANOS DEPOIS

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A iluminação se dava por duas grandes janelas que davam para o jardim com arvores criptomérias¹ recém introduzidas no arquipélago do Açores. No teto uma linda abóboda de ferro sobre a piscina. Permitindo que o tritão pudesse ver o céu além de iluminar o local, dando a agitação da água e escamas da criatura um brilho mágico.

— Você ouviu o papai. É melhor inventar novas acrobacias... — dizia, mas o rapaz escamoso continuou no fundo nadando, sem lhe dar atenção.

Por fim vendo de canto de olho que a mocinha o estava encarando-o subiu dando uma cambalhota que jogou água em parte da arquibancada.

— Acho que isso não vai agradar ao público... Eles não vêm aqui para tomar banho... — concluiu Maria.

Então o tritão coloca a cabeça para fora da água, bem no meio da piscina e retruca.

— Mas é bem o que eles merecem... — seu tom era bravo, cruzou os braços magros a frente do peito nu.

— Eu sei... Já disse que vou dar um jeito de lhe tirar daqui... — sussurrou Maria.

Mas sem acreditar, a criatura olha com raiva e depois revira os olhos.

— Pois bem, prefere tentar sozinho? Deveria está me agradecendo, ou pelo menos chegar mais perto! — estica a mão para o jovem hibrido. Mas esse mergulha dando um gelo nela com um olhar sério.

— Você tem péssimos modos sabia?! 

Desinteressado, continua no fundo nadando, mostra apenas as costas, sem nem olhar para sua única amiga. Depois de um tempo vendo-o dar voltas Maria resmunga:

— Eles já foram... Não vai ter apresentação particular hoje... Não quer aproveitar e treinar alguns passos? — sugeriu a mocinha.

Desconfiado vira nadando de barriga para cima e depois de uma volta sobe o rosto, numa borda longe dela.

"Que corpo lindo. Eu sempre sinto um frio na barriga quando ele se exibe assim tão perto de mim..." Maria precisa se segura para não suspirar vendo o peitoral nu do tritão "É ainda mais bonito de perto."

— Certo. Mas fique ai até eu chamar. — adverte, recebendo um aceno que sim, da mocinha tentando manter a expressão de chateada.

"Ao menos vou poder segurar suas mãos. É a única parte que não reclama quando lhe toco."

O tritão a vigiou desconfiado e foi subindo o braço na borda devagar. Se forçando a respirar pelo nariz e enchendo os pulmões, saltou esticando os braços na borda para subir a calda.

"Pobrezinho do meu tritão, queria que fosse humano como eu, não teria que passar por essas transformações e ficaríamos sempre juntos..."

Tossindo e tomando folego ficou nessa posição um pouco antes de transformar sua calda em pernas. Assim, quando se sentiu pronto olhou para ela e com a voz falhando, com pouco folego, disse que podia vir.

Maria levantou e foi dando as mãos, para o tritão se apoiar e levantar. Relevando sua cintura e partes da coxa, ainda cobertas pelas escamas de peixe cinza amareladas.

"Estamos tão pertinho um do outro. Não me importaria de abraçar seu corpo molhado, se permitisse..."

Em pé, foi guiando os passos dele pelo espaço livre do palco. Seus passos eram desajeitados como um bebê. Sempre, olhava constantemente para baixo concentrado no movimento das pernas.

"Não se preocupe, vamos treinar até que possa andar sozinho. Talvez um dia possamos passear no jardim. Não, se alguém descobrir nosso plano nunca dará certo." perdia-se em pensamentos.

Meu TritãoWhere stories live. Discover now