Maravilhados, os dois marinheiros se entreolharam. O capitão observou a face pálida do filho em seus braços.

— Por que foi tão idiota e teimoso?... — com carinho abraçou o filho, depois o entregou nos braços do imediato.

— Vamos resolver isso antes que os próximos clientes apareçam... — disse com tanta frieza que Marco engoliu a seco.

Dessa forma o capitão começou a recolher as pérolas que rolaram para mais distante. Em seguida, tirando uma faca do casaco, Alves aproximou-se do tritão com cuidado.

— Você não vai me atacar, não é? — argumentou tranquilo com um sorriso falso.

O pequeno pareceu entender seu destino e fechando os olhos aceitou a sentença.

Alves passou a lâmina sobre seu pulso soltado as mãos do miúdo. O tritão estranhou sua liberdade e tentando se apoiar nos braços viu o capitão tirar o casaco. O homem colocou a veste sobre aquele corpinho frágil.

— Vamos tirá-los daqui... — avisou o capitão agindo com cautela para tocar no tritão.

Finalmente, o velho envolveu a criança no casaco e pegou no colo. O pequeno escamoso

 se encolheu e suspirando, exausto, caiu no sono ao sentir o conforto do abraço.

"Capitão?! Ainda vai manter esse monstro assassino, depois de... do que aconteceu a Joaquim..." Marco não podia acreditar, seu corpo tremia hesitante, mas obediente fez o que lhe era mandando.

Em conclusão, os dois ganharam a rua. Foram quase correndo e ao abrirem a porta da casa encontram Maria sentada sozinha, esperando nos degraus da escada.

Tudo aconteceu muito rápido. Eles entraram deitando os dois no chão da sala. O capitão correu para esvaziar um barril e ordenou ao imediato que enchesse os baldes no mar.

A menina se aproximou dos dois, deitados no chão e admirou a respiração profunda que a criatura apresentava, puxando o ar com a boca aberta. Alegre por ele poder respirar fora d'água, ela já imaginava que poderiam brincar de casinha e leva-lo para conhecer suas amigas. 

Maria passou os dedos sobre o cabelo dele e quando iria alcançar o machucado em sua testa, ele acordou assustado. Por conta do susto suas guelras se abriram e ele começou a sufocar.

O pai notou a situação e aos gritos mandou que a filha se afastasse. A menina recuou assustada com a gritaria e tropeçou no irmão, que não se movia mais, nem com aquele impacto.

Marco chegou com os baldes e o capitão mergulhou o pano dentro de um deles, mas na hora de colocar sobre o pescoço do pequeno o velho hesitou, lembrando-se do choque em seu filho. Poderia morrer se o tritão fizesse o mesmo consigo.

Maria se adiantou pegando o pano do pai e colocando, ela mesma, sobre as guelras do tritão. O imediato se espantou.

— Tire-a daí ou vai morrer igual Joaquim! 

A menina soltou o pano e lentamente olhou para o irmão, refletindo que não acordou nem quando ela tropeçou sobre ele. Aos poucos a miúda foi lembrando o que a palavra "morte" significava e olhando Joaquim dormir para sempre, pensou também em sua mãe que não acordava por nada.

Nesse momento o tritãozinho entendeu o nome "Joaquim". Lembrando o ocorrido, atirou o pano para longe e virando o rosto contra o casaco que o envolvia, ficou claro que ele escolheu morrer sufocado.

O capitão virou um balde de água sobre ele. Mas sua reação foi reclamar com aquele idioma de golfinho. Logo faíscas de eletricidade começaram em seu corpo e ele perdeu a fala ficando exausto com a falta de ar.

Assim que o corpinho dele tombou Maria saltou sobre ele, colocando o pano molhado em seu pescoço novamente. O miúdo retomou a consciência e tentou resistir empurrando o pano. Se mostrava determinado e não continuar mais ali.

Acabou por arranhar o bracinho de Maria, mas ela resistiu abraçando-o. Assim ambos começaram um choro inconsolado e confuso entre tosses, soluços, lágrimas e pérolas.

O capitão pensou em separar os dois e agarrou o cabo de vassoura. Sem saber da intenção do pai, Maria começou a implorar para que o tritãozinho a deixasse ajuda-lo. Perplexo Alves recuou sua ação ouvindo o pequeno responde-la com aquele idioma de golfinho.

A menina brigou para manter o pano sobre as guelras dele, pedindo para que não morresse.

Uma última vez o hibrido peixe argumentou naquele idioma incompreensível, mas depois soltou o pano deixando ainda mais pérolas caírem.

Assim a menina amarrou o pano, ensopado, no pescoço dele como um colar. O pai e o imediato ficaram ali, assistindo a cena dos dois chorando frente a frente. Entre abraços e fungadas, as pérolas tilintavam. 

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