13. Regresso

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Katherine Ricci

Não demorou muito até que Lorenzo estivesse naquela casa com soldatos armados até os dentes em uma posse de poderoso chefão inconfundível. Sabíamos que não ficaríamos sozinhos por muito tempo, havíamos concordado em voltar para casa e lutar com o que fosse para ficarmos juntos. Henrique estava trancafiado com o pai há muito tempo em um escritório existente na casa, a cada minuto sentia que o nosso destino seria selado ali mesmo. Não fazia ideia do que nos aguardava e temia que as coisas saíssem do controle de uma forma colossal.

Ao ligar meu celular, que já estava desligado desde o momento em que sai de casa, verifiquei na tela as milhares de ligações feitas pelos meus pais. Eles pareciam desesperados a minha procura e eu me sentia péssima por isso, era a primeira vez que fazia algo desse tamanho e os deixava preocupados. Sempre havia sido alguém responsável, pensando um milhão de vezes antes de fazer algo que pudesse me arrepender. Porém era a primeira vez que me sentia tão livre.

O som da porta do escritório se abrindo foi ouvida por mim alguns minutos depois, vi um Henrique com semblante sério saindo e um Lorenzo mais sério ainda. O que eles tivessem conversado, com toda a certeza teria sido algo extremamente complicado e temia o que isso poderia acarretar ao nosso relacionamento.

– Acho que você deveria ligar para os seus pais, querida.- Tio Lorenzo aconselhou enquanto segurava meu ombro de forma carinhosa.

Ele sempre me tratava com carinho, tínhamos uma conexão boa desde criança e sentia que podia confiar nele apesar de tudo. Assenti prontamente, sabia que teria que fazer isso em algum momento, mas meu coração estava aflito e antes de qualquer coisa eu necessitava falar com Henrique.

– Vem comigo.- Henri chamou enquanto estendia sua mão para que eu a pegasse.

Entrelacei nossos dedos e o acompanhei até a parte de fora da casa, havia um belo jardim nos fundos muito bem cuidado por sinal. Apesar da casa não ser utilizada com frequência, a sua manutenção estava em dia e sabia o quão bem essas propriedades eram cuidadas, tudo que pertencia a famiglia possuía um cuidado especial.

– Como foi a conversa?- Perguntei receosa.

– Nada fácil.- Ele suspirou. – Papai me deu um sermão sobre como eu sendo o herdeiro da máfia tive a coragem de dar as costas para a famiglia.- Henrique revirou os olhos imitando a voz potente de Lorenzo.

Era fato que Henrique não havia nascido para ser herdeiro de cargo mafioso, a sua essência não combinava em nada com o modo violento que as coisas eram dentro da Nostra Onore. Porém sempre houve uma pressão gigantesca sob seus ombros em relação a tudo isso, a qual ele não fazia a mínima questão de dar importância. Henrique era sensível, gostava de arte, se ele pudesse já estaria morando em qualquer país que não fosse a Itália. O estilo de vida que a sua família levava em nada combinava com ele.

– Nós sabíamos que isso iria acontecer.- Relembrei-o.

– Sim, sabíamos e eu não me arrependo de nada.- Ele acariciou meu rosto com cuidado. – Eu teria feito tudo isso de novo se fosse para te ter por perto, dane-se a Nostra Onore e todos aqueles velhos tiranos.- Eu sorri, apesar de todo o caos que aquela frase emitia.

Ouvir aquilo era saber o quão importante eu era para Henrique, era a confirmação de que ele faria de tudo por mim, ou melhor, por nós.

– Eu também não consigo me arrepender de nada, mesmo que isso seja a coisa mais inconsequente que eu já fiz na minha vida toda.- Confesso baixinho, para que apenas ele consiga escutar.

- Eles vão querer nos separar agora, tenha a certeza disso.- Henrique falou baixo.  - Eu não pude acreditar em uma só palavra de Lorenzo, o casamento ainda está de pé e uma trégua pode ser assinada se eu me casar com Bianca. - Era o pior cenário de todos.

Não podia acreditar que aquela loucura acontecia diante aos meus olhos, não importava o que acontecesse, eles fariam esse maldito casamento só pelo prazer de nos punir. Era assim que devia acontecer, a manipulação da Nostra Onore era terrível  e cruel, fora assim com a mãe de Henrique e seria assim com ele também. 

- O que acha que devemos fazer?- Eu precisava ouvir de Henrique o que ele pensava sobre isso.

- Sinceramente, eu não sei.- Ele parecia desnorteado.

E eu não o podia julgar por isso, eu estava no mesmo estado de incredulidade e nada bom o suficiente se passava em minha mente.

[...]

O caminho até em casa parecia um verdadeiro martírio, não conseguia desgrudar nem por um segundo de Henrique, pois sabia que quando chegássemos seríamos separados novamente. Não precisa ser um grande gênio para saber disso, ao ligar para os meus pais isso apenas se confirmou, apesar de preocupados eles estavam irritados. Principalmente o meu pai, era perceptível em sua voz, nós havíamos arriscado muito e sabia o quão neurótico com a nossa segurança ele era. 

Não demorou muito até o carro parar em frente a minha casa e estacionar para que eu descesse, ao longe vi meus pais me esperando. O fato era que não importava o que faríamos não podíamos fugir, estávamos fadados a viver com a vontade da máfia, não haviam escolhas para nós.

- Não se esqueça de mim.- Pedi beijando seus lábios delicadamente suplicantemente. 

- Nem se eu quisesse conseguiria.- Henrique sussurrou para mim.

E foi ali que me despedi do meu amor, sem saber o que o destino nos reservava. Agora eu teria que enfrentar tudo e todos, disso eu sabia. Bianca aguardava ao lado também, não conseguia distinguir o que se passava em sua mente, sua expressão era ilegível. Mesmo com todas as nossas diferenças, era uma situação atípica e até imoral. Porém ainda assim, não conseguia me arrepender de nada. 

Caminhei vagarosamente até onde eles estavam, vi o carro onde Henrique estava dar meia volta e sumir estrada acima. Quando me aproximei deles minha mãe foi a primeira a me abraçar fortemente, era nítido o quão preocupada ela se encontrava e nesse momento ela não me disse nada além de um "eu te amo". 

- Você está com fome, querida?- Ela perguntou com aquele sorriso materno que tanto me acolhia.

- Um pouco.

Vi o olhar do meu pai focado em mim, mas em pouco tempo ele me aninhou em seus braços e beijou minha testa como se quisesse me proteger do mundo. 

- Não fuja da gente dessa maneira, bella.- Vicenzo pediu. - Ou eu mato aquele ragazzo.- Ameaçou. 

E eu sabia que ele faria isso, sem pestanejar, mesmo que ele gostasse de Henrique como um filho. 

- Não se preocupe, papá.- Tentei o tranquilizar. - Não se pode fugir da máfia.- Completei com sarcasmo.

Bianca não dirigiu a palavra a mim, não se aproximou e muito menos parecia fazer questão. Era justificável, mesmo que o casamento dela com Henrique fosse arranjado e ele não amasse ela, algo me dizia que na cabeça dela tudo era verdade. 

- Vamos entrar, o café da manhã está posto na mesa.- Mamma avisou com um sorriso no rosto. 

Papá enganchou seu braço no de mamma e a conduziu porta adentro, a relação que eles tinham era linda de se presenciar. Enquanto isso, eu e Bianca ficamos para trás em um silêncio constrangedor. 

- Relaxa, irmãzinha. - Ela sussurrou perto de mim. - Ele ainda vai se casar comigo.- Finalizou rindo de um jeito perverso.

E eu não consegui a responder, porque talvez ela tivesse razão.

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Com as férias tentarei postar mais, mas sinceramente estou tendo alguns bloqueios criativos. O que acham que irá acontecer nos próximos capítulos?

Beijos.

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⏰ Last updated: Dec 05, 2023 ⏰

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Duas Metades - Leis da Máfia ( Livro ĪV) Where stories live. Discover now