12. Promessa

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Katherine Ricci

Não sabia ao certo quantos dias haviam se passado, mas as mudanças constantes de local eram a nossa maior companheira. A verdade era que não havia sido um grande plano, não sabíamos muito bem o que fazíamos, mas sabíamos que queríamos ficar juntos e ninguém mudaria isso. Era como uma grande e devastadora avalanche, e não fazia a mínima sobre as consequências dos estragos.

— Você fica linda pensativa, sabia?

A voz de Henrique ecoou pelo pequeno espaço que compartilhávamos há exatos dois dias, mas mesmo em um cubículo eu me sentia mais feliz do que na mansão em que morava até então. Acho que era isso que o amor fazia você sentir e eu não conseguia me arrepender de amar ele.

– Pare de me bajular, Henri.- Ri em sua direção, enquanto ele me abraçava carinhosamente.

Ficamos em silêncio por um pequeno instante, era difícil falar muito na situação que estávamos, mas sabia que não podíamos fugir para sempre de tudo.

– Até quando vamos fugir que nem dois criminosos?- Perguntei de forma despretensiosa.

Talvez essa fosse uma pergunta sem resposta no momento.

– Não sei.- Henrique falou baixo.

– Estou com saudades de mamãe.

Era a mais pura verdade, sentia falta de papai e até de Bianca. Aquela vida era tudo que eu conhecia até então e vivenciar algo diferente daquilo era estranho mesmo que tivesse Henrique ao meu lado. As incertezas pairavam em minha mente a cada instante, os sentimentos se misturavam loucamente e o medo de o pior acontecer fazia-me sentir péssima.

– Desculpa por ter feito com que você ficasse longe de todos.- Ele se afastou.

E saiu fechando a porta atrás de si.

Odiava esses momentos que parecíamos nos isolar um do outro, me odiava por não estar feliz o suficiente estando com a pessoa que mais quis e tinha medo de ter sido apenas egoísta. Entretanto a confusão interna logo se transformou em externa, vozes sobressaltadas e alguns barulhos altos foram ouvidos de longe por mim. Olhei pela janela e pude ver alguns carros se aproximando enquanto Henrique voltava rapidamente para dentro da cabana, me arrastando de lá como se fosse uma boneca de pano.

– O que está acontecendo?- Perguntei assustada e ofegante pela corrida até o carro.

De alguma forma havíamos chegado rapidamente até o veículo e Henrique andava de forma perigosa para despistar os carros que nos perseguiam, algumas balas acertavam toda a lataria e a cada barulho sentia que as nossas vidas estavam por um fio.

– Segura firme.- Henrique mandou enquanto girava o carro em 180 graus a leste.

A rodovia em que estávamos era totalmente longe de qualquer cidade, não havia muitas rotas que pudéssemos utilizar ou se quer alguma autoridade em que pudéssemos pedir ajuda. Éramos nós contra o mundo é isso vinha ocorrendo muito nos últimos dias, acho que esse era o preço da nossa escolha. Senti uma ardência em meu braço e percebi o sangue que se formava na região, eu havia sido atingida por uma bala de raspão e talvez para ser atingida de forma real não demorasse tanto.

Era uma perseguição, tiros não paravam de acertar o carro e toda a adrenalina do momento fazia com que cada momento fosse em câmera lenta, mesmo que a velocidade em que estávamos passava da permitida.

– Rasga um pedaço da sua camiseta e estanca esse sangue, Katherine.- Henrique mandou me olhando de relance, sua voz era preocupada.

Mas ele não podia descuidar do volante por um segundo se quer e eu preferia que fosse assim. Fazendo exatamente o que ele mandou, rasguei uma parte da minha camiseta com um pequeno canivete que sempre me acompanhava em qualquer lugar e enrolei o pano ao redor da ferida feita pela bala. O aperto que dei foi as menores das dores, o sangue fervia por tudo que acontecia e tentava evitar gritar por conta do que estava sentindo.

– Há 600 metros tem uma trilha que leva a gente para uma das casas da famiglia...

Não podemos ir pra lá.- Falei já temendo o tamanho da confusão que traríamos para as nossas famílias.

– Não temos escolha, meu doce.- Henrique me chamava assim apenas quando ele queria me convencer de algo e geralmente funciona bem sua artimanha. – Eu jamais me perdoaria se algo acontecesse a você.- Ele me olhou por um segundo antes de virar o volante para a tal trilha.

Tínhamos alguma vantagem por conhecer bem aquela estrada, que na verdade ficava dentro de uma mata fechada, o que precisávamos era chegar até a dita casa. Mas o maldito carro que nos perseguia não desacelerava nem por um minuto, quem fosse o perseguidor não queria nos perder e temia que algo ruim pudesse acontecer conosco.

– Pega a arma no porta-luvas e me passa ela, por favor.- Henri pediu com uma calma surpreendente.

Eu sinceramente não sabia como ele ainda não havia surtado.

– O que você vai fazer?- Questionei confusa.

– Vou ter que atirar nesses maledetos.- Não importava o quão doce era a personalidade de Henrique, ele ainda era um Bertholdi e eu só conseguia ver nesse momento tio Lorenzo.

Alcancei a arma para ele quase que instantaneamente, o vi destravar a mesma pronto para atirar.

– Preciso que passe para esse banco e dirija.- Ele disse com toda a calma do mundo.

E rapidamente obedeci, passei para o banco do motorista com o carro em movimento assumindo o volante de prontidão. Enquanto dirigia da forma que podia, já ouvia os primeiros tiros dados por Henrique. Mesmo com todo o barulho, a adrenalina me fazia ficar surda.

Em um rompante escutei um grande estrondo e pude ver pelo retrovisor o carro que nos perseguia perder o controle e cair desfiladeiro a baixo. Uma explosão foi ouvida em seguida e um alívio preencheu o meu coração mesmo com as circunstâncias em que nos encontrávamos. Consegui desacelerar e olhar para verificar se Henrique estava bem e ele estava apesar de tudo.

- Devemos chegar a casa?- Perguntei um quanto preocupada com a situação que nós havíamos nos metido.

- Não tem mais como voltar atrás, amore.- Henrique respondeu em um suspiro.

- Acho que não deveríamos mais fugir.- Falei de uma vez. - Isso só vai causar mais dor e destruição por onde passarmos, não é o que eu quero.- Respirei fundo.

Ele permaneceu em silêncio por um instante, parecia aborrecido. Porém era necessário o alerta, não que ele não soubesse das consequências dessa fuga inconsequente que havíamos feito como dois adolescentes movidos pela paixão. A merda do caos e da guerra estava instaurado, era fato e creio que qualquer coisa que fizéssemos agora seria inútil.

– É melhor estarmos com a nossa família, eles irão nos proteger.- Sabia que nossos pais não nos deixariam desamparados, não agora.

Henrique pegou em minha mão e a beijou com ternura, seus olhos estavam escuros e nublados. Não fazia a mínima ideia do que se passava em sua mente, mas seja o que fosse era algo barulhento.

– Me prometa que independente do que aconteça nós não vamos desistir um do outro.- Ele suplicou contra os meus lábios.

– Eu prometo.- Sibilei como um segredo. – Nunca iria desistir de você, não agora que o tenho depois de tanto tempo.- Acariciei seu rosto bonito.

E pude sentir em seguida seus lábios pousarem nos meus calmamente, com uma paixão indescritível e uma doçura sem igual.

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É guerra declarada, façam suas apostas!

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Beijos.

Duas Metades - Leis da Máfia ( Livro ĪV) Where stories live. Discover now