Eu sabia que correr era inútil. Eu morreria em segundos. E, por um segundo, eu pensei: é assim que acaba? Depois de tudo?

Ele avançou. Eu fechei os olhos, esperando sentir as presas.

Mas... nada aconteceu.

Abri os olhos devagar. Ele estava ali, tão perto que eu podia sentir o ar quente da respiração dele. Ele podia me esmagar com um movimento, mas não se mexia. Só me olhava. Como se estivesse pensando. Como se estivesse... reconhecendo?

Meu corpo tremia, mas eu levantei a mão devagar e toquei o nariz dele. Não sei de onde tirei coragem. Senti o couro grosso. Meus dedos pareciam minúsculos perto daquela força toda.

— Você poderia me matar — eu sussurrei, quase sem voz. — Por que não faz isso?

Nada. Só aquele olhar profundo, estranho. Como se ele estivesse tentando lembrar de mim e eu tentando lembrar dele, de algum lugar que eu nunca estive. Uma sensação estranha, como um déjà vu que não fazia sentido.

Por alguns segundos, eu até esqueci de ter medo. Era como se a floresta inteira tivesse prendido o fôlego junto comigo.

Então um barulho distante ecoou, um grito de alguma criatura ou só o vento, não sei,  e ele virou a cabeça rápido. Em seguida, desapareceu entre as folhas, silencioso e rápido como se nunca tivesse estado ali.

Fiquei parada no mesmo lugar por um tempo, respirando fundo, tentando entender o que tinha acabado de acontecer.

Eu deveria estar comemorando por estar viva. Ou estudando aquilo como parte da minha missão. Mas, por um instante, tudo que eu conseguia pensar era:

Por que ele me poupou?

E por que, no fundo, eu senti como se... já conhecesse aquela fera?

Como se alguma parte de mim pertencesse mais a essa floresta do que eu queria admitir

Como se alguma parte de mim pertencesse mais a essa floresta do que eu queria admitir

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VOLTEI PARA ALDEIA COMO se nada tivesse acontecido. Caminhei calma, respirando como se tudo estivesse normal, mas por dentro eu ainda sentia aquele momento preso no peito. O Thanator quase me matou... e no fim, não matou. Aquilo não fazia sentido. Ainda assim, eu guardei pra mim. Não ia falar disso com ninguém. Não agora.

Passei o resto do dia tentando ser útil. Mostrar que eu servia pra alguma coisa ali. Quanto mais eles gostassem de mim, mais fácil seria cumprir minha missão.

Agora eu estava na área dos ikrans, ajudando a cuidar deles com Lo'ak, o caçula de Jake. Pelo que entendi, ele estava de castigo por aprontar alguma coisa.

— Me passa a escova? — pedi, tentando parecer casual.

— Aqui. — Ele entregou, meio emburrado.

Mesmo sem pelos, os ikrans gostavam quando esfregávamos aquela escova neles. Era relaxante pra eles. Eu ficava observando Lo'ak de canto de olho. Ele bufava toda hora, chutava pedrinhas, parecia irritado com o mundo.

PUPPET GAME ' NETEYAM SULLYWhere stories live. Discover now