III

43 5 2
                                    

Seu braço já havia começado a dor pelo esforço repetitivo de limpar o balcão. O pedaço de granito preto polido refletia seu rosto, uma expressão cansada, mas, acima de tudo, aflita.

Depois de pegar seu caminho de volta até o centro da cidade e enfrentar um engarrafamento que lhe custou meia hora de atraso, ainda teve a infelicidade de chegar na boate no exato momento em que Hidan estava estacionando seu Camaro branco do outro lado da rua.

Naquela hora, queria ter o poder de ficar invisível ou ser uma mosquinha para passar voando despercebida e não receber o olhar censurado de seu gerente.

— Está atrasada — ele disse, enfiando as chaves no bolso do terno cinza de corte fino.

Hinata suspirou, xingando a infinita onda de má sorte que ainda a perseguia.

— Teve um acidente na Ataliba — justificou quando ele abriu a porta para os dois passarem.

Aquilo foi um mau sinal.

— Sei.

— É sério, tinha até repórter lá. Vai passar na televisão, com certeza.

Hidan, que continuava andando, puxou a manga do terno e olhou para o relógio de ouro que trazia no pulso.

— O Lee já te passou a conta? — perguntou e Hinata sentiu o estômago se retrair.

— Não.

— Certo — o homem respirou fundo e apontou em direção ao corredor, na lateral do balcão.

Queria que fosse a sala dele, era isso, e ir até quase nunca significava algo bom, principalmente depois de tudo o que havia acontecido na noite anterior. Então, quando conseguiu dar os primeiros passos em direção a gerência, tinha certeza de que as coisas iriam piorar ainda mais, e quando ele deu a volta na mesa e sentou, tirando da gaveta um bloco de folhas amarelas, teve certeza disso.

— Hidan, isso está errado — disse com a voz vacilando, depois de ver que a comanda quase chegou aos quatrocentos reais.

— As bebidas, as taças e o prejuízo da noite — disse como se estivesse comentando o clima.

Hinata respirou fundo, segurando o papel entre os dedos trêmulos e tentando rir da situação, porque era isso, Hidan estava brincando com ela.

— Foram cinco bebidas e cinco taças que eu mesma posso comprar na Vinte e Cinco de Março por menos da metade desse valor — respondeu. — Isso não está certo.

Ele se inclinou sobre a mesa, as sobrancelhas grisalhas franzidas enquanto dizia:

— Olha, Hinatinha, é isso que tá aí e pronto. Quer discutir pra que?

— Hidan, é o meu salário — fraquejou, sentindo a voz embargar à medida que continuava. — Eu tenho aluguel pra pagar, a babá da minha irmã e...

— Aqui não é instituição.

— Mas se puder pelo menos me cobrar no próximo...

— Sabe que não rola.

— Hidan, por favor...

— Passa aqui depois pra pegar o resto — cortou, voltando a se recostar na cadeira e colocando os pés sobre o tampo de vidro.

Sentiu os olhos marejaram e os lábios começaram a tremer enquanto apertava a comanda com mais força, contudo, antes que alcançasse a porta, resolveu tentar mais uma vez:

— Posso fazer um extra pelo menos?

Hidan inclinou um pouco a cabeça, a observando por um tempo mais longo do que gostaria.

Moulin RougeWhere stories live. Discover now