001. THE FIRST TEST. THE FIRST PLAN

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— Então... por que ela me deixou? — a voz dela saiu trêmula.

Ele não vacilou.

— Eu não sei. Quando te encontrei, você estava sozinha, perdida. E eu não podia deixar você lá. Trouxe você comigo porque queria que tivesse uma vida melhor.

Maeve fungou, tentando engolir as lágrimas.

— Você tem alguma foto dela?

— Tenho alguns vídeos.

Valentim voltou-se para o computador e abriu um dos arquivos. Na tela, a imagem de Grace Augustine ganhou vida.

"Vídeo diário número 236... aqui é a doutora Grace Augustine." Ela parecia exausta, falando entre risadas abafadas. Falava do treinamento de um avatar, das crianças Na'vi que se aproximavam dela com carinho, como se fosse parte da aldeia. Terminou o registro com um suspiro cansado.

O próximo vídeo trazia uma data diferente: 21/02/2152.

Grace estava abatida.

"A irmã de Neytiri morreu. Briguei com Parker e com Valentim, mas sei que a culpa não é só deles. Perdi a confiança dos Na'vi..." Ela fez uma pausa, tragou o cigarro e completou, com um sorriso amargo: "Também estou grávida. Que notícia maravilhosa."

Maeve sentiu o coração apertar.

Grace prosseguiu: "Não sei como me sinto em relação a isso. Só sei que esse bebê... não é bem-vindo. Espero que morra. Se não morrer, não vai ficar comigo."

As palavras atingiram Maeve como lâminas. Ela fechou os olhos com força e se encolheu contra o peito de Valentim, soluçando.

Ele desligou o vídeo e a envolveu com firmeza, deixando que a menina chorasse tudo o que guardava. O corpo pequeno estremecia em seus braços, sufocado pelo peso da rejeição.

— Eu sei que dói, princesa. — murmurou, acariciando-lhe os cabelos. — Mas você é amada. Por mim, por Liz, por todos aqui. Você é forte, é corajosa, e nada do que ela tenha dito muda isso. A escolha dela não define você.

Maeve ainda tremia nos braços do pai. O rosto úmido, os olhos vermelhos, o coração pequeno esmagado pelas palavras que ouvira nos vídeos. Valentim acariciava-lhe os cabelos, paciente, esperando o choro perder a força.

Quando a menina apenas soluçava baixinho, ele inclinou a cabeça, falando baixo, no tom de quem confidencia um segredo:

— Princesa... preciso que você entenda uma coisa.

Maeve ergueu os olhos marejados, tentando focar no rosto dele.

— Os Na'vi nunca aceitaram os humanos. — sua voz era calma, mas firme. — Para eles, nós somos monstros. Invasores. Se algum dia soubessem de você... não iam te abraçar. Não iam te amar. Eles iam caçar você.

O olhar da menina se arregalou.

— Me... caçar?

— Sim. — Valentim assentiu, devagar. — Porque você nasceu humana. E os humanos são odiados aqui. Sua mãe biológica sabia disso. Por isso não quis você. E se eu não tivesse encontrado você naquela floresta... — ele fez uma pausa dramática, os olhos fixos nos dela. — Eles teriam te deixado morrer.

Maeve levou as mãos ao rosto, como se quisesse se esconder daquela realidade.

— Mas... por quê?

Valentim a puxou de volta para seu peito.

— Porque o mundo é cruel, docinho. Eles não veem quem você é de verdade. Não enxergam sua bondade, sua força. Só veem que você é filha do povo do céu. — Ele acariciou-lhe as costas, suavizando a voz. — Mas eu vi. Eu vi você, pequenininha e sozinha, e soube que precisava te proteger. E vou proteger você, custe o que custar.

PUPPET GAME ' NETEYAM SULLYWhere stories live. Discover now