7 - A GAROTA DA LIVRARIA

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Posso ouvir o gemido agonizante do homem morrendo sem sequer ter ouvido um ruído.

Assim como também posso sentir o cheiro do sangue derramado no chão. Hoje, desde que cheguei aqui, mal teclei no computador.

Pedi para Clair fazer os atendimentos e passei a maior parte do tempo sentada na poltrona que deixo reservada para a sessão de autógrafos dos autores.

Tudo o que fiz na parte da manhã foi ficar pensando se aquela merda toda foi mesmo real ou se foi apenas um maldito pesadelo. Porém, a foto salva na minha galeria não me deixa esquecer.

No fim da tarde, voltei para o caixa me sentindo um pouco mais animada, no entanto, me recusei a comer qualquer coisa. Meu estômago ainda está embrulhado e eu não quero aceitar que Elliott seja uma pessoa ruim porque ele foi feito para mim. Queria que tudo aquilo fosse um teatro. Que ele estivesse atuando para uma peça, mas sei que ele não é um ator.

Sinto meu coração falhar uma batida ao ver o homem de capuz preto parado do outro lado da rua.

É ele.

Porra, porra, porra…

É ele.

Aqui.

Elliott está na frente da minha livraria!
Sinto meus dedos esfriarem e o sangue fugir do meu rosto. Minha respiração acelera e minhas mãos estão suando. Me escondo atrás do monitor do computador para ver se ele vai embora. Dois infinitos minutos se passam e eu  volto a espiar por cima da tela. Cacete. Ele continua lá fora, olhando para mim.

— Ele veio dar um sumiço em mim. — Meu pensamento escapa em voz alta.
Clair me olha por cima do ombro de olhos arregalados.

— Quê? Quem vem dar um sumiço em você?

— Ninguém. É a letra de uma música.

— Ah! Nossa, que susto! Billie Eilish?

— O quê?

— A música é da Billie? Ela costuma cantar letras medonhas assim.

Não respondo.

Volto a olhar para a tela do meu computador, mas Clair continua me encarando.

— Você está bem, Amber?

Olho para ela atordoada, sem saber o que dizer ou o que pensar direito. Estou intrigada por ele continuar lá fora e agitada por Clair continuar na minha cola sem me dar paz para pensar direito.

— Mais ou menos. Estou com um pouco de enxaqueca. — Minto. Pelo menos assim pode ser que ela me dê tempo para pensar caso ele entre aqui e aponte uma arma para mim.

— Ah, isso é horrível! Eu nunca tive enxaqueca, mas sei que é horrível! Você quer que eu vá à farmácia buscar um analgésico pra você? Eu posso ir nessa farmácia aqui ao lado.

Volto a olhar para o outro lado da rua e percebo que ele está vindo para cá.
Finalmente nosso primeiro encontro cara a cara!

— Amber?

— Quero, quero! Vai logo, por favor! Obrigada.

Falo rápido para que ela me deixe aqui sozinha.

Sei que ele vai me matar agora. Clair provavelmente vai desmaiar quando voltar e encontrar meu corpo estendido no chão.

Tomo coragem e olho para ele mais uma vez e a sua cara está mais sombria do que ontem a noite, e isso me preocupa. Muito.

Seja lá o que for que ele venha fazer aqui… me matar ou tirar satisfações, não quero meter a Clair nisso. Ela tem um filho para criar.

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