— Qual… Qual era o tamanho dessas sacolas?

— Cada uma tinha aproximadamente meio metro de comprimento. Ele vai viajar?

— E eu que sei?

— Ué, não é você que sabe tudo sobre a vida dele?

— Nem tudo, Dereck! Mas… talvez ele tenha viajando mesmo. Ele faz isso de vez em quando.

— Sei, lá. Aquele cara é todo estranho.
Se ele soubesse a verdade… Estranho não chega nem perto de quem Elliott realmente é.

— Pois é. Também acho.   — Exclamo, eliminando a lembrança pesada do sangue nas mãos do meu vizinho.

— Amber, escuta, quero te pedir uma coisa.
— O que você quiser.

— Opa! O que eu quiser? Sério? — Sua voz soa animada. Reviro os olhos porque sei o que ele está pensando em pedir.

— Menos amassos, beijos e sexo.
Um suspiro pesado soa do outro lado da linha.

— Não me restaram muitas opções agora.

— Para, D. Fala logo o que você quer.

— Não vigia mais esse cara, linda. É sério, ele é esquisito.

— Eu sei.

— Então me promete?

— D, preciso desligar. Tenho umas coisas para fazer antes de trabalhar.

— Por que você é tão teimosa, hein? Presta atenção no que eu digo, ok? Eu lido com gente da pesada, já enfrentei inimigos cara a cara e aquele homem não é uma boa pessoa, Amber e você precisa conter essa obsessão maluca e se manter longe dele, linda. Por favor.

— Dereck, não precisa se preocupar comigo. Estou bem.

— Sei que está, mas também sei que se você se meter em furada, posso te proteger. E infelizmente vai chegar o dia em que eu não serei mais seu vizinho e nem estarei por perto para vigiar a sua rua só para ter certeza de que você vai poder dormir tranquila, Amber.

— Eu sei. — Um soluço escapa da minha garganta. Estou chorando e nem me dei conta. Não quero pensar no momento da partida de Dereck. Não quero que ele vá embora. Não me sobrou mais ninguém além dele.

— Amber, por Deus, eu não quero ir embora sabendo que você corre algum risco ou que vai se meter em encrenca. Tenha juízo, por favor. Você não é uma criança, Amber. Tudo que peço é que controle suas emoções. Faça crochê, tricô,  jiu-jitsu, aprenda um novo idioma… Sei lá. Tenta qualquer coisa, mas se mantenha longe de Elliott. Eu não confio nele. Não gosto dele.

Enxugo minhas lágrimas. Sei que ele tem razão, mas quero correr o risco. Quero saber dos motivos de Elliott e não quero me afastar dele. Solto um pigarro limpando a garganta e me livrando de qualquer resquício de voz embargada. Procuro ser dura com Dereck. Ele precisa entender que tudo que há entre mim e Elliott, não é da conta dele.

— Parece o meu pai falando. — Cuspo as palavras com frieza na voz.

Ele suspira.

— Beleza, faça como preferir. Eu vou indo.

Meu coração se quebra. Por que fiz isso? Caramba, ele passou a noite em claro por mim! Eu sou uma puta ingrata mesmo. Minha voz volta a embargar e a sensação é de que tem uma bola de boliche presa no meio da minha garganta.

— D?

— Fala. — Diz seco.

— Por que não fica? Por que não desiste dessa merda toda e foge comigo?

— Você está falando sério?

— Tudo para não te perder.

— Não, desse jeito eu não quero. Eu até ficaria, mas se você me quisesse como eu te quero, Amber.

— Por favor.

— Kevin precisa de mim, Amber, ele precisa voltar para a família dele.

— Eu sei.

— Então não brinque com meus sentimentos a não ser que esteja disposta a me corresponder.

— Me desculpa.

— Está tudo bem.

— Tchau, D.

— Tchau, linda. Mais tarde falo com você.

Quando Dereck desliga a chamada, meu celular volta a mostrar a prova do crime cometido ontem a noite. Fecho a galeria de fotos e travo a tela.

Levanto-me o mais depressa que posso e tomo um banho rápido.

Pego minha bicicleta e levanto o capuz da minha blusa branca de mangas compridas para me proteger do frio.

Hoje mais do que nunca, preciso gastar energia. Preciso que as toxinas que dão prazer ao cérebro liberem para que eu não acabe surtando. O que testemunhei ontem foi assombroso e pior do que qualquer filme de terror. Que bom que eu bebi, caso contrário, estaria igual a Dereck hoje. Cansada.

Dereck.

Há tanta bondade naquele coração. Há tanto respeito, amor e cumplicidade em nossa amizade. Perder James teve seu lado bom porque ganhei Dereck de um jeito que eu não sabia ser capaz. Não dá para acreditar que ele sempre esteve tão perto e ao mesmo tempo tão longe porque Dereck é amigo de infância de James, mas pelas circunstâncias dolorosas nas quais James me meteu, Dereck me colocou em um pedestal. Sou grata por tê-la comigo, mesmo que não reste mais muito tempo.

Será que Elliott só não tentou me matar porque Dereck estava na rua? Ou será que ele só estava preocupado em dar um sumiço no corpo?

Talvez ele esteja cavando a minha cova neste exato momento, ou apenas comprando ácidos para me dissolver em sua banheira — caso ele tenha uma — e fazer meu corpo dissolvido em líquido descer pelo ralo.

A ideia do meu corpo virando suco, me dá calafrios.
Pedalo o mais depressa que posso e me recuso a olhar na direção da casa de vidro dele.

STALKERWhere stories live. Discover now