A dor é maldita. Ela me castiga constante, fria e amargamente. E cada segundo é tempo demais com ela. Eu poderia voltar para a casa dos meus pais se quisesse, mas não quero. Não quero encarar o fato de que sem James, não posso me virar sozinha. Já sou grandinha o suficiente para saber que voltar para a casa dos pais depois de ter seu próprio lar é o cúmulo do ridículo. Para eles, estou bem, estou feliz e bem resolvida com essa nova fase em minha vida. Como se de fato eles se importassem comigo. Se se importassem, saberiam que quando sinto sede, bebo vinho ao invés de água. E que quando acordo estressada tomo vodca no café da manhã. Mas eles não se importam. Ninguém se importa comigo, exceto Dereck, mas ele é zona de perigo.
Finalmente o homem se levanta da poltrona e se despede de Elliott com um aperto de mãos.

Dou um zoom no binóculo.

Ao virar as costas para o meu vizinho, Elliott puxa o seu braço, prendendo os dedos em seu pulso. O homem olha para trás. Ele parece intrigado com a atitude de Elliott, seus olhos descem para a mão presa em seu pulso,  e posso jurar que ele uniu as sobrancelhas ao encarar o rosto frio de Elliott. O homem tenta puxar o braço para trás, mas Elliott aperta com força. Posso ver o temor nos olhos da sua presa. Elliott pega uma faca em cima da mesinha de centro, ergue a mão e com muita rapidez, passa a lâmina no pescoço do senhor de aparentemente 60 anos. Ele faz tudo com muita precisão e agilidade. Tão frio e calculista que sequer deu tempo da vítima se defender. O homem cai em seus pés agonizando, segurando o pescoço em meio a uma poça de sangue que jorra violentamente do seu pescoço rasgado. Elliott assiste tudo como se estivesse admirando uma obra de arte.

Ele encara a vítima bem nos olhos.

Meu Deus… Há tanto sangue naquela sala.

Ele se abaixa e dá socos violentos na face do homem. Tantos socos, com tanta raiva que ao parar com os golpes e se reerguer de pé, suas mãos estão cobertas de sangue.

A taça e os binóculos caem da minha mão. Involuntariamente solto um grito de desespero, mas graças a tempestade que cai lá fora, ele não ouve. Estou perdida, estou com medo.

Quem é esse cara de verdade?

E por que ele matou esse homem?

Havia tanto ódio em seus olhos, tanta raiva. Parecia que ele estava botando tudo para fora da forma mais errada.

Não sei se chamo a polícia ou se simplesmente fecho os meus olhos e me calo. Ele deve ter um motivo grande para fazer o que fez, mas ainda assim, isso foi cruel. Não quero que ele vá para a cadeia sem antes saber seus motivos, mas se não forem bons motivos, precisarei de provas para incriminá-lo.

Preciso de pelo menos uma prova.

            Uma foto.

Com as mãos tremendo feito gelatina, pego o meu celular e abro a câmera.

“Droga, estou tão bêbada que nem sei
se isso vai dar certo.”

Aperto no centro da tela e dou um zoom. A câmera não consegue focar porque eu não paro de tremer, mas insisto e aperto para fotografar. Para a minha total desgraça, o flash acende, e a atenção de Elliott se volta para a minha janela.

Porra.

Como os de uma fera, seus olhos estão em mim agora.

Ele me viu.
Merda, ele me viu.

Não.

Por favor.

Não.

Não me veja.

Meu celular cai no chão juntando-se aos cacos da minha taça. Eu nem estou sóbria o suficiente para tentar escapar caso ele entre aqui para dar um fim em mim. Já assisti filmes o suficiente para saber o que acontece com testemunhas de um assassinato. Já li You de Caroline Kepnes e sei como essa merda acaba.
Comigo morta.

STALKERWhere stories live. Discover now