Projeto Enceladus

Capítulo 5 - Dentro do Labirinto

Davi estava acompanhando mais um trabalho no Hangar 4 quando recebeu uma mensagem. "Você sabe onde está o Theo? Não tenho notícias dele já tem algum tempo! - R. Cristo"

A pergunta o incomodou. Não porque ele não queria ser incomodado com as insubordinações de seu colega de trabalho, mas por acharem que ele era um tipo de irmão mais velho que acompanhasse tudo o que Theo aprontava.

Particularmente Davi não estava se importando tanto assim com o sumiço dele, mas estava mais interessado em conseguir continuar seu trabalho na estação. Os drones apitavam como um enxame de abelhas entrando e saindo pelo portão indo coletar todo tipo de minérios que pudessem encontrar nos anéis do planeta então ele precisava permanecer focado em sua tarefa. Rita era sempre a mais interessada em Theo. Não era necessariamente uma coisa afetiva daquele nível, mas algo mais de um carinho como o de uma irmã mais nova que tinha a cabeça no lugar e precisava lidar com o irmaozão desajustado.

Um funcionário se aproximou dele para falar alguma coisa enquanto ele conferia dados em seu pad esperando encontrar quaisquer informações que pudessem preocupá-lo. Desde o acidente com o drone ele tinha ficado assim, dez vezes mais atento e vinte vezes mais sistemático o que não estava agradando nem um pouco seus subordinados. Um eco de seu tempo servindo nas forças armadas.

A família dele já tinha um histórico de carreira militar bastante extenso, passando por pelo menos umas seis gerações de De Gaulles. E com ele não teria sido diferente. Mesmo antes de se alistar (ou ser alistado, já que funcionava mais como uma imposição) ele já conhecia muito da vida militar. Seu pai, Clement, ensinara as formas da conduta desde cedo para todos os filhos e assim eles viveram desde muito cedo misturando suas infâncias a rotina de um quartel. Para Davi Lucca suas brincadeiras tinham hora certa e tempo contado, os estudos eram prioridade assim como a hora de ir dormir. Na verdade, o exército foi mais "fácil" para ele do que a vida com o pai. Ali ele construiu finalmente um vínculo com outras pessoas e chegou a ter alguns amigos, mas não muitos. Após a saída das forças armadas conseguiu um trabalho em um fábrica de armamentos por indicação de conhecidos e construiu uma carreira cômoda como gerente. Foi casado, mas não teve filhos, não se importava com a vida para aquelas questões. Desejava apenas ter tranquilidade em sua cabeça. Mas tudo parece ter um tempo de validade e para ele chegou o momento em que desejava algo diferente. Ir para um outro lugar.

Ao final de seu turno seguiu para seu lock e deixou seu avatar recarregando. Upou sua mente para o M² e se deixou perder em um lugar mais tranquilo.

Seus olhos se abrem em um apartamento pequeno, um loft com quarto, cozinha e uma sala com uma tela para ele assistir um filme quando raramente lhe dá vontade. A vista para fora é dividida entre o urbano e a natureza, mas se você ir lá fora verá que não é nada daquilo na verdade. Davi Lucca se incomodava um pouco em conviver com o espaço criativo de Gaia com as ideias das outras pessoas que lhe pareciam um tanto quanto caóticas na maior parte do tempo. Para ele tudo tinha uma ordem e a espontaneidade era algo com o qual ele tinha dificuldades. A visão daquela janela vinha de suas memórias. Da casa onde ele tinha morado quando criança e de seu apartamento quando se mudou para cidade após seu serviço militar. Elaborou uma mistura entre os dois levando aquele resultado final que o tinha agradado. Ninguém além dele tinha visto aquilo ainda e se perguntava, as vezes, se desejava que alguém pudesse ver algum dia.

Andando em direção a cozinha ergueu o pulso como se estivesse olhando as horas em um relógio e um pequeno monitor holográfico flutuante apareceu no que ele deslizou o indicar e escolheu algo no meu menu.

Na bancada a sua frente uma xícara de café se materializou e ele pode sentir o aroma amargo alcançar suas narinas de forma leve. Ele não se importava daquilo ser no fundo uma simulação, era como se você esquecesse deste detalhe enquanto estava ali. Por um lado, trazia um ar de comodidade para a vida com tudo ao alcance de um deslizar de dedos. Por outro, parecia quase como se ele tivesse poderes mágicos e, lá no fundo, isso agradava sua mente.