1 - Perseguição

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Mabel acordou, suando daquele pesadelo que sempre tinha.

Hoje era seu dia de folga no bar, então ela teve tempo para descansar bastante e estava pronta para assistir qualquer besteira que estivesse passando em sua TV.

A noite estava muito fria, ao ponto de ser possível ouvir o vento uivar pela fresta da janela de seu pequeno apartamento.
Fria o suficiente para fazê-la desejar um banho quente.

Ela se levantou do sofá estofado azul-escuro e começou a se despir no corredor, à caminho do banheiro.

Geralmente, não se importava em ficar horas apenas relaxando embaixo d'água. Aquilo a fazia muito bem e ajudava a revigorar todas as suas energias.

No entanto, a calmaria que aquele banho proporcionara se dissipou no momento em que ela saiu do mesmo. Ao se colocar na frente do espelho embaçado pelo vapor do calor da água do chuveiro, notou que havia uma carinha sorridente desenhada nele. O problema é que, Mabel morava sozinha e definitivamente não foi feito por ela o tal desenho.

Ela se apressou em vestir-se após sentir um calafrio percorrer por toda sua espinha. Isso sempre acontecia quando algo ruim estava por vir.

Ao chegar em seu quarto, que ficava ao lado do banheiro, notou que a janela estava escancarada, sendo que antes de entrar no banho, havia visto que estava fechada. Instintivamente, ela correu em direção a janela para fechar, mas antes que pudesse, a mesma fechou brutalmente sozinha, quase acertando seus dedos. O impacto foi tão forte que parte do vidro quebrou.

O barulho a fez recuar até a porta, e finalmente percebeu algo que a assustou profundamente: Um redemoinho de névoa cinza e espessa se apoderava do teto de seu quarto.

Ela recuou lentamente três passos para trás e então saiu correndo em disparada novamente para sala. Pegou em uma velocidade impressionante a chave de sua moto, uma Kawasaki Vulcan S em cima da mesinha de apoio e foi até a sacada, que estava aberta.

Mabel morava no primeiro andar, então não pensou duas vezes antes de pular no matinho abaixo de seu parapeito e ir correndo até sua moto estacionada na frente do prédio. Ela se apressou ainda mais quando viu que a névoa que sobrevoava seu quarto já estava do lado de fora, a perseguindo.

Já era tarde da noite, as luzes da vizinhança estavam apagadas e todos os estabelecimentos fechados. Ela não parou de acelerar nem por um segundo, até perceber que havia despistado aquela coisa.
Ela passou por um parque, onde havia só um homem encostado em uma árvore. Era difícil ver seu rosto, mas a luz fraca do poste destacava seus cabelos alaranjados como fogo.
Ela já tinha preocupações de mais, então apenas seguiu avançando.

Mabel resolveu que precisava parar. Além de precisar abastecer, estava ficando com fome, então estacionou em um posto de gasolina 24h e foi tomar um café na lanchonete integrada ao mesmo.

Ela se espantou quando viu seu reflexo na estufa de salgados: Cabelo úmido todo embaraçado e olheiras enormes embaixo de seus olhos azuis-claros.

Ela pediu no balcão um café preto, sua bebida favorita, e uma coxinha, e foi se sentar na mesa o mais distante possível da porta, ao lado de uma janela.
Só havia ela e mais três funcionários em todo o estabelecimento.

Do lado de fora, ela observou um carro preto chegando. Ela não entendia muito de carros, então não sabia informar de qual modelo era. Do carro, desceram quatro homens, trajados completamente com roupas pretas e elegantes. Um deles, abriu o porta-malas e Mabel gelou quando viu o que saiu de dentro: A mesma névoa que a perseguiu anteriormente.

Ela também reconheceu os homens que a acompanhavam. Eles haviam ido em seu bar na noite anterior. O mais baixo dele, um homem adulto de quarenta e poucos anos, havia lhe entregado um cartão de visitas, informando ser um agente funerário. Ela estranhou o ato, mas por ser no bar, já estava acostumada a atender todo tipo de maluco, então apenas relevou, por mais suspeito que a atitude parecesse.

A era do Caos: O Destino dos CaídosWhere stories live. Discover now