No dia seguinte, após o almoço, Leigh foi em uma caminhada em busca de melhores inspirações para seu conto. Não existia nada concreto em sua mente, apenas a construção da ambientação e a dinâmica amorosa entre os protagonistas: Segundas chances. Já havia escrito essa dinâmica uma vez, mas enxergava a época de natal como um clima ainda melhor para que a segunda chance chegasse e fosse mantida.

    Enquanto voltava para a casa onde estava hospedada e  tentava desenvolver os protagonistas, a única pessoa que vinha em sua mente como uma boa inspiração era Nick. Reencontrar o homem mexeu com seus sentimentos joviais que por tanto tempo ocultou, cada detalhe dele parecia ainda mais bonito, e era de entristecer o coração se deparar com o cenário dele já ter alguém que parecia tão distinta dela.

    —É... isso é só trabalho, não vai se esquecer, Leigh. —Disse para si mesma e entrou em casa. —Faith? Amiga?— Chamou, mas não recebeu respostas. —Deve estar fazendo compras, enfim...

    Leigh subiu as escadas até seu quarto e notou que, uma das portas que havia visto fechada na noite anterior estava aberta. Movida por curiosidade, apoiou-se no batente da porta para ver quem estava ali e encontrou Nick, rodeado por caixas de papelão e álbuns antigos.

    —Se sentindo nostálgico?—Questionou, entrando no cômodo. Ele apenas ergueu os olhos e sorriu para ela de modo convidativo.

    —Quero levar algumas coisas para a nova casa. Ter história pra contar, sabe?— Ele se afastou brevemente, liberando espaço para ela. —Vem!

    —Nick, eu... queria me desculpar pelo jeito que falei com você ontem. —Leigh comentou de modo hesitante e se uniu á ele. —Você tem razão, não tenho que dar palpite na sua vida pessoal, fiquei tanto tempo longe que isso nem interessa mais. Fui arrogante, desculpe.

    —Não, tá tudo bem. Falou como alguém que se preocupa, e eu aprecio isso. —Nick a tranquilizou. —Tá tudo bem, mesmo. E ah, tem algo que eu queria te mostrar...—Ele se esticou, pegando um álbum de fotos em um rosa envelhecido e o abriu. —Olha essa foto aqui!

    No retrato, uma Leigh mais nova posava ao lado de Nick, com oito anos na época, com um sorriso largo com uma janelinha bem no centro. Os dois seguravam pratinhos com pedaços de um bolo de limão com pequenas raspas por cima. A foto foi tirada em um agradável verão em HighHeart.

    —Os bolos da tia Jade eram os melhores! Sabe que foi a criança mais sortuda daqui, né? Teve a melhor cozinheira do estado como mãe!— Nick comentou em tom brincalhão.

    —Era tão bom! E você lembra nesse verão, que tentou me ensinar a nadar no lago da cidade? Foi desastroso, mas foi tão legal!—Leigh concordou, saudosista com a memória. —Acho que foi nesse dia mesmo, os bolos da mamãe eram sempre pra conforto emocional... uma terapeuta de primeira!

    Os dois riram, mas logo a alegria foi substituída pelo sentimento de melancolia e nostalgia.

    —Ela faz mesmo muita falta. —Nick murmurou, mas logo tentou reavivar o clima e pegou uma folha de caderno de dentro de uma das caixas. —Ok, agora olha isso aqui, precisava te mostrar!

    —Você é um pouco acumulador, hein?

    —Sou saudosista, agora escuta só:— Ele pigarreou, endireitando a postura. —"Eu, Leigh Mae-Hudson, digo nessa carta que, se eu não me casar com outra pessoa até meus trinta anos, devo me casar com Nicholas Desmond Horton. Se for descumprido, devemos um ao outro uma grande xícara de chocolate quente... "—Ele parou para rir, notando o constrangimento na face de Leigh. —"Folhados de queijo branco e bengalas doces." Acho que então você tá me devendo algo, não é?

    —Peraí, não fui eu que inventei de casar não, a dívida aqui é sua!— Leigh acusou, caindo na risada.

    —Vamos quitar isso logo então. Amanhã, depois da prova do vestido das madrinhas. O que acha?— Ele sugeriu.

    —De acordo, não gosto de ter pendências!—Leigh concordou. Uma dúvida pairava em sua mente e, por mais orgulhosa que fosse e não quisesse lidar com a iminente frustração, precisava saber. —Nick... a parte de  todo o lance do dinheiro, você ama a Lindsay?

    —Não... quer dizer, ela é uma mulher linda, tem uma personalidade um tanto diferente mas não, não amo. —Nick encostou na parede, encarando suas próprias mãos. —Eu só amei uma única mulher na minha vida.

    —É mesmo? —Leigh se virou, demonstrando interesse. Aos poucos, ficavam cada vez mais fisicamente próximos. —E o que deu errado no percurso?

    —É que essa mulher incrível sim, eu sempre a vi muito distante de mim. Nunca achei que eu seria o suficiente para ela e ainda assim, quando eu podia dizer, perdi a oportunidade e para sempre. —Nick explicou, a encarando profundamente.

    —Ah, mas segundas chances existem! Sabe, eu escrevo sobre o amor como uma especialista, e eu te garanto que você deve sim aceitar essa possibilidade e viver isso, antes que seja tarde demais e acabe... —E só no meio de seu argumento, Leigh se deu conta de que ela poderia ser a mulher de quem ele estava falando.

    Era presunção demais imaginar que ela poderia ser? Mesmo com todos os anos de história que colecionavam, não poderia ser isso. Mas talvez, o jeito que ele a olhava naquele momento dissesse mais do que qualquer afirmação  que pudesse ter da parte dele. A aproximação repentina, a maneira com que os olhos dele pareciam mais brilhantes do que nunca e ele não deixava de olhar para os lábios dela de forma desejosa. Aquele breve momento fez com que Leigh finalmente entendesse todas as descrições por muitas vezes exageradas que empregava em seus livros e quis beijá-lo.

    Mas então, sua consciência foi recobrada. Ele ainda estava noivo, mesmo que apenas por um contrato e de uma mulher horrível, mas o compromisso ainda existia. Ela não era uma destruidora de lares, por piores que fossem.

    —É... não posso deixar ser tarde demais, você está certa. —Nick umedeceu seus lábios e se aproximou cautelosamente dela. Tocou o lado de seu rosto com carinho, afastando uma mecha de cabelo. Tudo parecia cada vez mais lento enquanto Leigh lutava contra sua moral e desejo.

    —Nick, é melhor a gente...

    —Oi, alguém em casa?—Quando ouviu a voz de Faith no andar debaixo, Leigh se afastou dele bruscamente, batendo a cabeça em uma das caixas. —Oi, alguém?

    —Aqui, amiga! Andar de cima!— Leigh gritou de volta e levantou abruptamente, indo até a porta. Se virou para o homem com semblante sério e rígido. —E você, isso não ia acontecer e nem pode, perdeu o juízo?

    —Oi! Pronta para nossa tarde e noite das garotas?— Faith chegou alegre, e então notou a culpa no rosto dos dois. —Atrapalhei algo?

    —Não, eu já ia embora mesmo, vou levar umas coisas para a casa nova. —Nick levantou, fingindo normalidade. —Então, hoje é dia de noite das garotas?

    —Aham. Um preparo psicológico para a manhã com a Lindsay. —Faith explicou. —Acreditam que ela fez o menu do café da manhã com as  madrinhas todo "sustentável saudável"? Gente, é natal e tá fazendo uns 10 graus lá fora, eu não quero ser saudável não!

    —Pelo menos vai ter alguma comida. — Leigh apontou, otimista. —E o que sabemos sobre as outras madrinhas?

    —Duas das irmãs dela, três amigas do colégio e do meu lado, vocês duas. —Nick explicou, cruzando os braços. —A mãe dela vai estar também, e essa sim é difícil de lidar mas sejam gentis, tá? Por mim, por favor.

    —Imagine, irmãozinho. Eu sou uma santa, tão boazinha que é até chocante —Faith fingiu, forçando a voz. —Relaxa, por isso vamos dar suporte emocional uma pra outra, pra impedir um crime natalino. —Apoiou a cabeça no ombro de Leigh e forçou um sorriso.

Um clichê de natal Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum