Na manhã de natal, enquanto o almoço era preparado, Nick aproveitou o momento para ter uma conversa com seu pai que vinha adiando, mas não podia evitar mais, considerando ainda mais tudo que viu e viveu nos últimos dias.

    O acordo matrimonial entre os Horton e os WentWorth traria lucros para ambos os lados, considerando que cada família dominava impérios comerciais que se completavam  Para os Horton, o império de tecidos, para os WentWorth a indústria da moda. Quando foi proposto para Nick, ele ainda se lembrava de rir por bons minutos, tentando assimilar aquela loucura que parecia saída de um livro clichê. Um casamento por contrato? Como uma loucura como aquela poderia dar certo?

    Mas então, se dispôs a conhecer a caçula da família, Lindsay. A diferença de idade entre eles era um pouco estranha no início, e depois se tornou um verdadeiro problema para Nick. Não tinham os mesmos assuntos, as mesmas visões, e ver como muitas vezes ela agia apenas como uma garota fútil e mimada fez com que todo o encanto que nem existia, se dissipasse.

    E agora, com Leigh de volta, suas percepções estavam ainda mais bagunçadas. Sempre foi apaixonado por ela e, depois de 15 anos, se sentia do mesmo jeito e talvez até com mais intensidade. Mas não poderia de fato entregar seu coração pata a mulher que realmente ama sem encerrar a farsa na qual foi inserido.

    George estava na sala, assistindo uma reprise do clássico "Esqueceram de mim" quando Nick se uniu á ele.

    —Vi as fotos de vocês no orfanato ontem, fizeram um belo trabalho. —O mais velho comentou sem tirar os olhos da tela. —Leigh é boa com as crianças.

    —É sim, quase um dom natural. —Nick comentou, e então entrou de forma brusca no assunto. —Sobre isso pai, quero adiar o casamento...

    —Tá, tudo bem, nós temos datas pra janeiro, tem uma em março também...

    —Quero adiar pra sempre, pai. Não vou me casar com a Lindsay. —Nick afirmou decidido, retomando a atenção de seu pai para si.

    —Oras, e de onde veio isso? Lindsay é de boa família, tá terminando a faculdade, é uma moça belíssima. Porque não se casaria?—George irrompeu em protestos.

    —Porque eu não a amo! Não posso passar o resto da minha vida com uma mulher que eu mal conheço e nem amo. Ela é fútil, grosseira, mesquinha!

    —Ah, mas há tempo para isso, vocês... veja... vocês podem fazer uma viagem juntos! Viajam e se conhecem melhor, que tal?—George insistiu.

    —Tudo bem, eu vou ser mais claro. —Nick desligou a TV e se virou para seu pai. —A mulher com quem quero passar o resto da minha vida não é ela, é a Leigh.—falou baixo para que ela não ouvisse da cozinha. — Eu sou perdidamente apaixonado por ela, pai, eu já perdi minha chance há 15 anos e agora, com ela de volta, posso compensar todo o tempo que eu perdi!

    —E você não vai desistir disso, vai? Mesmo que o acordo com os WentWorth fosse nos render um bom dinheiro?

    —Definitivamente não. Eu vou trabalhar mais, levar nossos negócios para Nova York, Califórnia, pra todos os lugares possíveis pra que dinheiro não fosse um problema. E mesmo que não concorde que eu me case com ela... eu fugia com ela para fora do país, e a gente casava na Inglaterra. —Nick traçou seu plano. —Eu tenho uma casa em Houston, você sabe, pode ser perfeito pra nós dois começarmos uma família. Eu já tenho todo o plano, pai, e não planejo desistir dos meus sentimentos verdadeiros. Você não lembra? Quando foi você e a mãe, começaram de baixo, passaram por situações mas construíram um império juntos, e eu quero fazer o mesmo com ela.

    —Bem, você cresceu com a minha teimosia, rapaz... nada que eu diga vai mudar sua perspectiva, então... tudo bem, você tem minha benção, meu filho. —George concedeu permissão. —Mas... só darei o contrato por encerrado quando você falar com Lindsay e acabar com tudo. —Ao ouvir o suspiro cansado do filho, ele completou. —Não ia te entregar tão fácil, Nicholas. Tem responsabilidades, faça tudo do jeito certo e eu aprovarei.

    Faith, que estava mais perto, ouviu praticamente toda a conversa e se animou ao ver seu irmão finalmente se posicionar contra a "visão de homem rico" instituída por seu pai. Desejava que ele fosse feliz, e se com isso sua melhor amiga entraria oficialmente na família, era tudo ainda melhor.

    [...]

   

    Mais perto do anoitecer, Nick estava decidido a iniciar a leitura do novo livro de Leigh. Era de fato um grande fã dos trabalhos dela, e sempre se encantou coma habilidade dela em expressar sentimentos de forma tão clara em meras folhas de papel. Ao abrir o livro, por acidente, deixou cair um papel bege com uma leve textura ondulada. Viu seu nome escrito com uma caligrafia delicada e soube de imediato que se tratava da carta de Leigh.

    —Oi gente...?— Nick levantou de sua cama e foi até o corredor, analisando se alguém estava nas imediações. —Leigh, Faith...? Mãe, pai?— Com a ausência de resposta, ele sorriu ladino e fechou a porta do quarto. —O que de tão terrível você escreveu aqui, Leigh Mae?— voltou para sua cama e começou a ler a carta, que era extensa e com letra pequena.

    "Querido Nick, fiz essa carta porque eu nunca conseguiria dizer tudo isso pessoalmente. Deve se perguntar porque fiquei tão triste com a notícia de seu casamento e porque preferi ficar longe de tudo desde o começo e acabei virando madrinha mesmo sem querer, e mesmo que o cenário de um namoro por contrato pareça saído das páginas de um livro, minha indignação não é somente por você assinar esse destino tão terrível, mas porque eu deveria estar no lugar da Lindsay. Eu deveria estar fazendo cafés da manhã (bem melhores, por sinal) com as madrinhas, comprando vestidos chiques e acima de tudo, ser a pessoa a te dizer sim. Eu te amo, Nick, e esse é o motivo por eu odiar tanto esse clichê horrível em que nos metemos, onde todas as noites desde que cheguei, eu só consigo implorar em silêncio "por favor, Deus, que ele não acabe se apaixonando por ela." "

    —Ah, Mae...—Ele suspirou, tocando a carta com delicadeza. —Se você ao menos soubesse...

    "Acho que te amo desde o colegial, quando você era o popular do clube de teatro, e eu era sua amiga nerd e fanfiqueira, mas eu sempre tive medo. Medo que meu sentimento estragasse nossa amizade tão bonita, e por isso eu faço essa carta para fizer que te desejo o melhor, seja comigo ou não. Eu torço sinceramente pela sua felicidade com a Lindsay e que possam aprender a amar um ao outro. E por favor, me visitem em Nova York, será um prazer ter vocês comigo. E eu garanto, nada nesse mundo me faria perder esse sentimento, apenas viverei com ele para inspirar meus mais belos trabalhos. Com amor, Leigh M. Hudson".

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