do outro lado da rua

visita indesejada

VISÃO DO MATHEO

- Que cara é essa Matheo? Não tá feliz em me ver?

- Eu... Eu já perguntei uma vez. Por que você tá aqui?

- Eu saí da prisão faz alguns dias, sua vó ficou sabendo e resolveu marcar da gente se encontrar... A gente é família Matheo, não precisa falar assim comigo.

- Não precisa falar assim? Você tem algum tipo de problema? O que caralhos você tá fazendo aqui. Eu não quero ver você, e você sabe disso.

- Poxa Matheo... Achei que ia ficar feliz em encontrar um parente depois de tanto tempo... E olha... Quando eu tava na prisão eu fiquei sabendo o que aconteceu com os seus pa-

- É, eles morreram. Agora já pode ir embora, não preciso que você venha me consolar, eu já tô bem.

- É assim que você vai tratar seu tio? Depois de oito anos sem me ver, você vai ser assim comigo?

- Vou. Eu não ligo se você é meu tio, eu não quero olhar na sua cara nunca mais. Já pode ir embora agora, e não é pra voltar.

- Parece que vai ser assim então né... Olha se é um pedido de desculpas que você quer... Eu sinto muito pelo o que acon-

- Eu não quero um pedido de desculpas. Eu sei muito bem que você não se arrepende de nada. Eu só quero que você vá embora, e não me procure nunca mais.

- Olha moleque, eu tava tentando ser gentil e legal com você... Mas puta merda, você é muito difícil, sabia? Só pra você ficar sabendo, você vai ter que ver a minha cara por um tempo.

- Como assim? Do que você tá falando?

- Eu vou ficar uns dias na sua casa até eu achar um lugar pra ficar.

- VOCÊ OQUE?!

- É isso ai que você escutou, então é melhor você ficar de boa comigo.

Minhas pernas começam a ficar cada vez mais fracas, minha respiração volta a falhar e começo a ficar com muito medo. Eu quero falar alguma coisa, mas as palavras não saem da minha boca, eu começo a ficar ofegante e acabo caindo no chão. Não tenho forças pra me levantar totalmente, então só me sento na grama, fico apoiado em meus braços, que insistem em tremer. Tento contar até dez pra ver se minhas respiração volta aos poucos, mas não funciona, começo a tentar parar de pensar no que tá acontecendo, começo a pensar que tudo não passa de um sonho, e aos poucos a minha respiração volta ao normal. Começo a parar de tremer, e eu já não estou tão ofegante como antes. Vejo que minha vó se aproxima aos poucos de mim, o que já me deixa nervoso de novo.

- O que você tá fazendo no chão garoto?

- Ele só tá processando a informação né? É muita felicidade saber que depois de tanto tempo ele vai ver o tio de novo.

- Aaah, faz sentido! Então vamos indo. Tenho que fazer a comida ainda... Aah Matheo, você vai dividir o quarto com o seu tio, viu?

- EU VOU DIVIDIR O QUARTO COM ELE?!

- MATHEO! Pare de gritar garoto!

- QUAL É O SEU PROBLEMA? VOCÊ ESQUECEU O QUE ELE FEZ? VOCÊ VAI SIMPLISMENTE IGNORAR O QUE ACONTECEU?

- MATHEO! Já te disse, e vai ser a última vez que vou falar... Pare de gritar! Seu tio mudou, o tempo que ele passou na prisão fez ele mudar!