Capítulo 01: Benjamim

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De pé no alto da ponte ele suspirava e ponderava sobre os pós e os contras de se atirar naquelas águas gélidas de inverno e afundar no córrego para nunca mais ver a luz do sol. Seu corpo devia afundar e voltar a boiar depois de alguns dias, talvez fosse mastigado por alguns peixes e depois fosse parar na rede de pesca de algum barco pesqueiro. Pelo menos não precisaria mais se submeter ao árduo treinamento que participava nos últimos anos se preparando para uma guerra que provavelmente nem fosse chegar em sua geração.

–A vida é uma merda, Ben –Ele disse em voz alta pra si mesmo.

Benjamim tinha trinta e dois anos e havia se mudado para Lenmos, a capital da Ilha Hefesto, quando tinha dezessete anos. Na época era um jovem cheio de sonhos, teria uma carreira invejável, viveria várias aventuras e desfrutaria de sua sexualidade sem julgamentos. Ser gay numa cidade pequena como a Martelo, sua terra natal, não era nada fácil. Entretanto ao longo dos anos passou por tanta coisa que simplesmente não via mais sentido em seguir vivendo.

Estava decidido, só precisava pular e deixar seus pulmões encherem de água. Quando estava prestes a pular da parte mais alta da ponte ouviu um choro que atraiu sua atenção, na parte mais baixa estava um jovem rapaz de pé na beirada e diferente do Ben, não demorou muito para tomar sua decisão e se atirar nas águas.

–Merda!

Benjamim não pensou duas vezes e se atirou da ponte, não para se matar, e sim para salvar aquele rapaz. A água estava mais gelada do que ele imaginava, era como se estivesse perfurando sua pele, ainda assim, já tinha passado por coisa pior. Sua habilidade de natação era de nível profissional. Rapidamente encontrou o garoto se debatendo tentando vencer a correnteza, pelo jeito tinha se arrependido e agora tentava se salvar.

O homem nadou como um torpedo até o garoto e conseguiu nadar com ele até a costa, mas não conseguiu impedir que este engolisse água. Ben o arrastou por pequenas pedras que formavam a beirada do córrego e imediatamente começou o processo de ressuscitação realizando compressões em seu tórax e unindo seus lábios soprando vida de volta para os pulmões dele.

O rapaz despertou cuspindo água e tossindo, depois ficou ofegante puxando o máximo de ar que conseguia. Benjamim suspirou e sentou-se ao lado dele.

–Você é jovem de mais para desperdiçar sua vida assim, garoto.

–Obrigado, você me salvou –Agradeceu o mais novo caindo no choro em seguida.

O que Benjamim deveria fazer? Abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem? Dizer que a vida valia a pena ser vivida quando ele próprio estava prestes a pular da ponte também?

–Quer tomar um drink comigo? –Que tipo de conselho pós tentativa de suicídio era aquele?

–Ainda sou menor de idade.

–Até parece que isso impede alguém de beber.

–Tem razão –O rapaz sorriu –Obrigado mesmo por me salvar. Não vai perguntar por que pulei da ponte?

–Não.

–Então aceito beber com você –Dois suicidas frustrados juntos num bar? Até parece uma piada ruim –Eu me chamo Ben.

–O quê? –Benjamim estranhou a coincidência e por um segundo sentiu como se estivesse olhando para si mesmo no passado –Pois, somos xarás, também me chamo Ben, Benjamim.

–Sério? Eu sou o Benedito.

Benjamim e Benedito foram para o bar mais próximo, um casebre de madeira velha com meia dúzia de clientes fedorentos. A entrada deles era como seres coloridos pintados num desenho em preto e branco. Pediram dois copos de whisky que aqueceram seus corpos molhados.

BEN 3Onde histórias criam vida. Descubra agora